João Barreiro
COM uma baixa taxa de actividade e um forte défice
ao nível da formação, o Alentejo é uma das
regiões do país que mais sofre com o desemprego.
No espaço de um ano registou-se um aumento de 3,5 pontos percentuais
na taxa de desemprego, sintoma de que os sinais de alerta estão
de volta.
No final do ano passado, os jovens alentejanos com curso superior e no
desemprego ultrapassaram, em número, os candidatos sem instrução
daquela região do país. Este facto ocorre pela primeira
vez desde que são elaboradas estatísticas sobre o desemprego
em Portugal, e evidencia uma nova realidade num vasto território
que ocupa quase um quarto do território continental.
Para o delegado do IEFP em Évora,
"existe no Alentejo um
desemprego de alta qualificação,
com licenciados e bacharéis, que regressam às famílias
depois de terminados os seus cursos, andam em ciclos, manifestando uma
expressão que nunca tiveram".
Francisco Lopes Figueira considera que, actualmente, se mantêm naquela
região algumas particularidades estruturais, como o desemprego
de longa duração de mulheres provenientes da agricultura
e com baixa qualificação, que não estão absorvidos
pela estrutura económica, e que essa situação pode
ser explicada pelo facto de o
"Alentejo ser uma região
onde a agricultura deixou de ser uma actividade dinâmica e empregadora,
a PAC arrefeceu o sector, transformando o Alentejo numa região
de serviços".
Apesar do reconhecido crescimento no número de desempregados, o
delegado do Instituto de Emprego e Formação Profissional
considera que o problema está controlado,
"não existindo
bolsas significativas de pessoas com problemas sociais".
O IEFP tem todas as medidas em curso, tendo lançado recentemente
acções de formação para licenciados que se
destinam a facilitar a sua integração no mercado laboral.
E lembra que é à actividade económica - e não
aos organismos do Estado - que compete criar emprego.
Francisco Lopes Figueira revelou ao EXPRESSO que, a par com o crescimento
do número de jovens diplomados no desemprego, se assiste hoje a
uma dificuldade em dar resposta a algumas propostas de trabalho, apesar
de existir muita gente sem emprego:
"Temos dificuldade em conseguir encontrar resposta nos nossos
ficheiros a propostas de trabalho que nos são feitas, as pessoas
resistem a aceitar trabalho como pastores, caseiros, apanhadores de fruta,
auxiliares rurais, querem empregos que não chegam ao centro de
emprego. Não é fácil resolver o problema, e muitas
vezes esses empregos acabam por ser entregues a trabalhadores estrangeiros",
sublinha.
Para o presidente da Câmara Municipal de Beja, o aumento do desemprego
no Alentejo não pode ser explicado pela falência de empresas,
mas sim pela falta de investimento público e privado na região.
José Carreira Marques considera que se alguns projectos infra-estruturantes
(Aeroporto de Beja, Porto de Sines, Alqueva) estivessem a andar mais rapidamente,
haveria novas oportunidades de trabalho:
"Há um conjunto
de pequenos projectos associados ao turismo que já poderiam ter
avançado. E se o Aeroporto de Beja já estivesse a funcionar,
algumas empresas já se teriam deslocalizado para aqui",
sustenta.
Com o conhecimento que deriva da sua profunda experiência autárquica,
o presidente da Câmara de Beja lembra que a falta de oportunidades
tem afastado muitos jovens diplomados:
"As pessoas formadas têm
muitas vezes de procurar emprego fora da região porque não
encontram aqui trabalho compatível com a sua formação
académica. As que ficam são mão-de-obra pouco qualificada",
refere.
José Carreira Marques também conhece casos de empresas que
desesperam, porque não encontram pessoas disponíveis para
aceitar o trabalho que é oferecido.
Sobretudo nos sectores da hotelaria e do turismo, onde o facto de não
existirem horários das nove às cinco parece afastar os candidatos:
"Esta situação é incompreensível,
porque quem recebe subsídio de desemprego deveria aceitar este
tipo de trabalhos. É preciso haver aqui uma mudança de mentalidades".
O autarca sublinha ainda o elevado peso da função pública
no Alentejo, estando o Hospital distrital de Beja, os serviços
da Segurança Social e as Câmaras Municipais entre os principais
empregadores da região.