Maria Márcia Trigo*
Quatro Pontos sobre empreendedorismo em Portugal.
1 - Gerar, mobilizar e apoiar os empreendedores.
Somos um país que não valoriza o risco, o novo, a ousadia,
o espírito inovador e empreendedor, os que transformam o "Cabo
das Tormentas" em "Cabo da Boa Esperança", os que
inventam ou descobrem novos caminhos e novas Índias a haver.
Apreciamos ainda menos os que erram uma e outra vez porque procuram o
que ainda ninguém encontrou; e por isso caem e se levantam uma
e outra vez para recomeçar de novo com mais e melhor energia e
mais competências, daquelas estratégias e críticas
que integram o "core business" do "negócio-ócio"
de cada um.
Essa mistura explosiva de "trabalho-lazer-trabalho", a que deve
juntar-se mais e mais persistência, trabalho continuado e muita
organização (flexível e em rede), embrulha-se depois
em muito e bom "just in time", de preferência com bastante
antecipação e visão do futuro, e temos garantido
o sucesso.
Mas se algo não der certo nesta mistura (que nunca pode reduzir-se
a uma soma) é porque alguma coisa falhou; e, então, é
preciso corrigir, alterar, alinhar de novo, recomeçar como se fosse
o primeiro dia do resto das vidas de gente que gosta de fazer e realizar
projectos e de "empreender & empreender".
2 - Por onde começar?
Identificar as "traves-mestras", aquelas que sustentam a estrutura
(seja organizacional, social ou conceptual) e "mexer/trabalhar/melhorar/alterar/
substituir/renovar" apenas e só essas. Esse é um dos
grandes "milagres da Galateia", porque o resto vem por acréscimo.
A minha já longa experiência diz-me que frequentes vezes,
nós, os portugueses, em diversos domínios da vida nacional,
fazemos precisamente o inverso: mexemos no que está bem (ou menos
mal) e até funciona, apenas porque, por isso mesmo, dá mais
nas vistas e certamente foi feito por outrem, sendo pois obrigatório
ficar pelo menos com outro nome, outra direcção, outra estratégia,
após longas negociações e alguns estudos, muito semelhantes
a muitos outros já feitos anteriormente.
Consumimos assim "tempo/dinheiro/pessoas/paciência/motivação/esperança",
pela óbvia razão de que tudo deve ter o "meu"
carimbo, ou a "minha" chancela, em vez da chancela do "made
in Portugal" ou "made by portugueses".
3- Os custos de contexto e o princípio da realidade e da acção
Provocadoramente defendo e demonstro que a (des)qualificação
generalizada dos jovens e adultos portugueses é não só
o maior como o mais resistente e persistente "custo de contexto",
quando devia integrar os "indicadores intangíveis", os
tais que fazem a diferença e a vantagem competitiva.
Olhemos rapidamente, para uma comparação entre Portugal
e três países europeus (Holanda, Dinamarca e Finlândia)
e a média dos países da OCDE.
Comentário óbvio: não temos licenciados a mais, temos
a menos - cerca de metade da média da OCDE e menos de um terço
da Finlândia ou da Dinamarca, independentemente da qualidade técnica,
tecnológica e científica da maioria das nossas licenciaturas.
Pior que isso: temos cerca de 3,2 milhões (em 4,9 milhões)
de adultos activos que nem as competências básicas ou nucleares
possuem. São sobretudo estes 62% da população activa
que todos os dias ficam desempregados, que não conseguem acompanhar
qualquer mudança, que só empatam, complicam e sobretudo
constituem a base de selecção de todos os demais.
Ora se a base é frágil, muito frágil mesmo, não
há estrutura social que resista. Só por acaso o "middle
management", o "top management" e os demais "poderes"
e "saberes" podem ser de excelência.
Portugal apresenta um panorama inverso aos dos outros países analisados,
tendo começado a recuperar muito mais tarde e muito mais lentamente.
No grupo etário dos 35-44 anos, Portugal tem um quarto da população
qualificada da Finlândia e da Dinamarca, menos de um terço
da Holanda e da média da OCDE.
E para o grupo etário dos 25-34 anos, a situação
é praticamente semelhante, já que os avanços em Portugal
têm sido muito lentos, sinuosos e caros. Os demais países
continuam a cavalgar a esperança das competências, do conhecimento
e da inovação, tudo regado com muito "espírito
empreendedor".
Acresce que neste quadro não temos em consideração
as características intrínsecas do Ensino Secundário,
isto é, qual o seu conteúdo técnico, tecnológico
e científico, o que no quadro seguinte explicitamos.
Face ao quadro anterior - o país, os ministérios, ministros
e restantes responsáveis, incluindo os empresários e todos
os parceiros sociais -, só podem ter andado no mínimo "distraídos",
quando se trata obviamente de acção, de fazer, de realizar
e não dos habituais discursos de "boas" intenções
ou de produzir legislação que nunca passa a projecto.
De facto, o nosso Ensino Secundário é maioritariamente generalista,
académico, liceal e muito pouco tecnológico, profissional,
científico e qualificante. Fizemos todos os diagnósticos,
mas temos medo de acção (medo não, terror!), acabando
por nos constituirmos no único país da OCDE (pasme-se!)
que apresenta apenas 1/3 dos alunos do Secundário em cursos tecnológicos
e profissionais, contrariamente aos demais países e à média
da OCDE. Crime, disse ela!
E devíamos todos gritar que o que estamos a fazer há muitos
anos é um "crime nacional" que afecta muitas gerações
de portugueses activos e, por arrastamento, a não-competitividade
da economia portuguesa.
4- Formar líderes e executivos empreendedores na "business
school" da UAL
Na UAL, queremos ser parte da solução e não do problema.
Por isso, no quadro da "Escola de Gestão & Negócios"
- uma "business school" que se orienta pelos princípios
da realidade e da acção, casada com o mundo empresarial
e dos negócios -, decidimos lançar um "Executive MBA
in Business and Entrepreneurship", conjuntamente com mais quatro
Executive MBA e dez pós-graduações executivas, nos
mais diversos domínios do "core business" nacional e
global. As inscrições estão abertas até final
de Junho (1ª fase, com precedência sobre a 2ª fase, que
vai até Setembro).
A sessão solene de abertura é a 29/09/2003, no Palácio
dos Condes Redondo e, em Outubro, começa a "Aprendizagem Cooperativa
e em Rede", a partir de "case study", jogos de simulação
e "role playing", e, ainda, muito e estimulante "trabalho/pesquisa/debate"
com docentes, todos oriundos do mundo dos negócios e das empresas
(com formação científica sólida e reconhecida)
e com os diversos "stakeholders" que quiseram ser parceiros
de "Business School" da UAL, porque explicitam:
"Reduzir o divórcio entre a Universidade e o mundo económico-empresarial
é mais do que um desafio e uma necessidade: é um desígnio
nacional que consiste em trazer para a contemporaneidade a economia portuguesa
e os demais subsistemas sociais, em especial o da Educação"
porque "com a qualificação da mão-de-obra
que temos só podemos concorrer com o terceiro mundo",
(Silva Lopes, ex-governador do Banco de Portugal ao "DE", 2003).
*Coordenadora Escola de Negócios da UAL