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Desemprego no Alentejo

27.06.2003


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João Barreiro

COM uma baixa taxa de actividade e um forte défice ao nível da formação, o Alentejo é uma das regiões do país que mais sofre com o desemprego.


No espaço de um ano registou-se um aumento de 3,5 pontos percentuais na taxa de desemprego, sintoma de que os sinais de alerta estão de volta.

No final do ano passado, os jovens alentejanos com curso superior e no desemprego ultrapassaram, em número, os candidatos sem instrução daquela região do país. Este facto ocorre pela primeira vez desde que são elaboradas estatísticas sobre o desemprego em Portugal, e evidencia uma nova realidade num vasto território que ocupa quase um quarto do território continental.

Para o delegado do IEFP em Évora, "existe no Alentejo um desemprego de alta qualificação,
com licenciados e bacharéis, que regressam às famílias depois de terminados os seus cursos, andam em ciclos, manifestando uma expressão que nunca tiveram".


Francisco Lopes Figueira considera que, actualmente, se mantêm naquela região algumas particularidades estruturais, como o desemprego de longa duração de mulheres provenientes da agricultura e com baixa qualificação, que não estão absorvidos pela estrutura económica, e que essa situação pode ser explicada pelo facto de o "Alentejo ser uma região onde a agricultura deixou de ser uma actividade dinâmica e empregadora, a PAC arrefeceu o sector, transformando o Alentejo numa região de serviços".

Apesar do reconhecido crescimento no número de desempregados, o delegado do Instituto de Emprego e Formação Profissional considera que o problema está controlado, "não existindo bolsas significativas de pessoas com problemas sociais".

O IEFP tem todas as medidas em curso, tendo lançado recentemente acções de formação para licenciados que se destinam a facilitar a sua integração no mercado laboral. E lembra que é à actividade económica - e não aos organismos do Estado - que compete criar emprego.

Francisco Lopes Figueira revelou ao EXPRESSO que, a par com o crescimento do número de jovens diplomados no desemprego, se assiste hoje a uma dificuldade em dar resposta a algumas propostas de trabalho, apesar de existir muita gente sem emprego:

"Temos dificuldade em conseguir encontrar resposta nos nossos ficheiros a propostas de trabalho que nos são feitas, as pessoas resistem a aceitar trabalho como pastores, caseiros, apanhadores de fruta, auxiliares rurais, querem empregos que não chegam ao centro de emprego. Não é fácil resolver o problema, e muitas vezes esses empregos acabam por ser entregues a trabalhadores estrangeiros", sublinha.

Para o presidente da Câmara Municipal de Beja, o aumento do desemprego no Alentejo não pode ser explicado pela falência de empresas, mas sim pela falta de investimento público e privado na região.

José Carreira Marques considera que se alguns projectos infra-estruturantes (Aeroporto de Beja, Porto de Sines, Alqueva) estivessem a andar mais rapidamente, haveria novas oportunidades de trabalho: "Há um conjunto de pequenos projectos associados ao turismo que já poderiam ter avançado. E se o Aeroporto de Beja já estivesse a funcionar, algumas empresas já se teriam deslocalizado para aqui", sustenta.

Com o conhecimento que deriva da sua profunda experiência autárquica, o presidente da Câmara de Beja lembra que a falta de oportunidades tem afastado muitos jovens diplomados: "As pessoas formadas têm muitas vezes de procurar emprego fora da região porque não encontram aqui trabalho compatível com a sua formação académica. As que ficam são mão-de-obra pouco qualificada", refere.

José Carreira Marques também conhece casos de empresas que desesperam, porque não encontram pessoas disponíveis para aceitar o trabalho que é oferecido.

Sobretudo nos sectores da hotelaria e do turismo, onde o facto de não existirem horários das nove às cinco parece afastar os candidatos: "Esta situação é incompreensível, porque quem recebe subsídio de desemprego deveria aceitar este tipo de trabalhos. É preciso haver aqui uma mudança de mentalidades".

O autarca sublinha ainda o elevado peso da função pública no Alentejo, estando o Hospital distrital de Beja, os serviços da Segurança Social e as Câmaras Municipais entre os principais empregadores da região.





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