Cátia Mateus e Maribela Freitas
ÉVORA é provavelmente a cidade do país
com maior número de ideias de negócio por metro quadrado.
Criar a tradição de empreender
Não porque esta seja uma região particularmente dinâmica
em matéria de empreendedorismo (ver caixa), mas porque "abriu"
as portas à Feira do Empreendedor.
Um certame com a marca da Associação Nacional de Jovens
Empresários (ANJE) que pela segunda vez desce até ao Alentejo,
integrada na tradicional Feira de São João. A iniciativa
conta com a parceria da Câmara Municipal de Évora e até
ao próximo dia 30 de Junho promete desafiar o espírito empreendedor
a sul do país.
Em 9500m2 de área coberta e 250 "stands", a Feira do
Empreendedor propõe-se estimular o desenvolvimento económico-financeiro
da região alentejana. Trata-se de um espaço concebido com
o objectivo de permitir a partilha de experiências e a divulgação
de produtos bens e serviços.
Local de eleição para quem procura uma oportunidade para
se lançar no mundo empresarial, o certame já ganhou grande
adeptos entre os empreendedores portugueses.
No ano passado, acolheu cerca de 200 mil visitantes entre empresários,
fornecedores concessionários, investidores e clientes. Uma quota
que o núcleo do Alentejo da ANJE espera ultrapassar este ano. O
Rossio de São Brás, onde decorre a feira, combina num só
espaço a binómio emprego-lazer.
Além de se assumir como um espaço de apoio à iniciativa
empresarial, onde estão representadas as várias entidades
necessárias à criação de um negócio,
o certame assume-se também como ponto de contacto entre a experiência
e a vontade de fazer.
Aqui é possível a um "candidato a empreendedor"
tomar contacto com quem se movimenta no mercado. Uma partilha de resto
benéfica quando o objectivo é criar uma empresa com o mínimo
de risco possível.
E porque o empreendedorismo não termina na altura em que se formaliza
a criação da empresa, a Feira do Empreendedor - Évora
2003 reserva também um espaço às empresas cujo "core-business"
vai além das fronteiras regionais ou nacionais. Aqui a internacionalização
é a palavra-chave. Dinamizar e promover as marcas tradicionais
da planície é um objectivo a atingir.
Talvez por isso este seja, na opinião de Manuel Caleiro, presidente
da comissão-executiva da Associação Nacional de Jovens
Empresários - Núcleo do Alentejo (ANJE-NA), "um
certame direccionado para vários públicos-alvo distintos:
empreendedores, expositores institucionais, visitantes, público
em geral e todos aqueles que pretendem informações e apoio
na criação de empresas".
Para este responsável, o sucesso da iniciativa pode explicar-se
pela crescente procura de soluções de auto-emprego entre
os jovens que visitam a feira. Manuel Caleiro acredita que o certame ajudará
a fazer de Évora um importante centro de promoção
de projectos empresariais.
Mais do que isso, "ambiciona projectar o Alentejo e a cidade de
Évora para lá desta região, demonstrando ao investidor
que é fácil e oportuno sediar empresas fazendo excelentes
negócios no Alentejo, captar nichos de mercado muitos deles ainda
por descobrir". Uma "imagem" dinâmica e aberta
à iniciativa que cativou a autarquia local.
Parceira de eleição neste projecto, a Câmara Municipal
de Évora (CME) não hesitou em "repetir a dose"
da Feira do Empreendedor. Para José Ernesto Oliveira, presidente
da autarquia, "a parceria com a ANJE e a Associação
Comercial de Évora ajuda a dinamizar o empreendedorismo e potencia
o desenvolvimento do tecido económico do município".
Numa região onde a taxa de desemprego é elevada, a criação
de emprego é uma prioridade. "Só em Évora
o sector do turismo e serviços emprega cerca de 30% da população
activa", explica o autarca. Para o presidente da CME este é
um dos sectores com maior dinâmica empreendedora.
A par com o sucesso alcançado pela iniciativa na cidade do Porto
- onde o certame já soma seis edições - o núcleo
do Alentejo da ANJE tem fortes ambições para a Feira do
Empreendedor. Para Manuel Caleiro, "este é actualmente
um dos mais importantes certames económicos realizados na região
e beneficia toda a sociedade".
O responsável da ANJE-NA acredita que "quando se promovem
eventos desta natureza eleva-se a auto-estima do empreendedor.
Da concretização de novos negócios resultam novas
ideias de investimento, criam-se postos de trabalho e renova-se o tecido
empresarial".
Razões mais do que suficientes para que Manuel Caleiro olhe já
para a edição do próximo ano. O responsável
espera que à semelhança do que acontece na cidade Invicta,
a Feira do Empreendedor - Évora 2004 possa também promover
em paralelo com a exposição um ciclo de conferências
direccionadas para quem empreender é acima de tudo uma forma de
estar na vida.
Criar a tradição de empreender
SE "O ALENTEJO é riquíssimo em
oportunidades de negócio. Todavia não existe nesta região
uma forte tradição empreendedora".
Assim define Manuel Caleiro, presidente da comissão-executiva da
Associação Nacional de Jovens Empresários - Núcleo
do Alentejo (ANJE-NA), uma das regiões que mais sofre com as limitações
da interioridade. Uma realidade visível que o responsável
da ANJE-NA quer inverter através da criação daquilo
que designa de "nova tradição empresarial".
A meta é atenuar o atraso económico da região através
da criação de meios que possibilitem a difusão de
informação e abertura às novas tecnologias, técnicas
e conceitos de gestão. Um objectivo que a actual edição
da Feira do Empreendedor se propõe materializar.
"É necessário apostar num aumento das iniciativas
empresariais, apoiar as existentes e promover o contacto e cooperação
entre empresários e potenciais empreendedores, possibilitando a
transmissão de ideias e experiências", explica Manuel
Caleiro.
O responsável acredita que, embora ainda exista um longo caminho
a percorrer, "estão reunidas as condições
para que nasçam e se fixem mais e melhores empreendedores no Alentejo".
A grande maioria das empresas existentes na região opera no sector
dos serviços e do comércio. Contudo, para o presidente da
ANJE-NA, a Universidade de Évora tem vindo a criar uma massa crítica
de jovens licenciados com projectos inovadores e conceitos de negócio
bem elaborados.
E mesmo numa região em que a actividade empresarial sempre foi
maioritariamente masculina, o sexo feminino mostra que em matéria
de empreendedorismo tem algo a dizer. Embora, como refere Manuel Caleiro,
"ainda são os homens quem materializa mais projectos".
Como quem apela à iniciativa, o responsável refere que "existem
no Alentejo nichos de mercado muito interessantes e viáveis".
Turismo e lazer, desporto e saúde, ambiente, aeronáutica,
organização de eventos, produção e comercialização
de produtos regionais são alguns dos sectores onde vale a pena
apostar nesta região do país.