Se pensa que procurar emprego se resume a responder às ofertas disponíveis nos jornais e sites da especialidade, está redondamente enganado. Essa é de facto uma importante fase do processo, a primeira de muitas, mas de nada lhe servirá se não delinear uma estratégia que faça sobressair o seu valor pessoal e profissional. Na verdade, segundo Sandra Silva, Diretora de Recursos Humanos da PepsiCo, “atualmente os candidatos a emprego cometem muitas vezes o erro de centrar os seus esforços na pesquisa de emprego, desprezando a real oportunidade de mostrar o que valem na entrevista”. Uma realidade que a especialista considera urgente alterar.
Assumir o processo de procura de emprego como uma atividade a tempo inteiro, é a primeira grande estratégia que deve interiorizar. E isso implica, para a maioria dos especialistas em recrutamento e seleção, não só a consulta diária e detalhada das ofertas de emprego publicadas em jornais e sites da especialidade, mas também uma pesquisa exaustiva das empresas onde gostaria de trabalhar. Pesquise os seus páninas online, procure compreender a sua missão de valores, a sua postura, a sua cultura organizacional e inscreva-se nas suas bases dados.
Este processo permite-lhe já ganhar terreno. É que ao realizar esta pesquisa empresarial, você já está a preparar-se, por um lado para endereçar à empresa uma candidatura personalizada, e por outro, para vir a ser chamado para uma entrevista. E esta é uma oportunidade que não pode desperdiçar ou deitar a perder demonstrando estar desenquadrado em relação aos objetivos da empresa ou mal informado sobre a cultura organizacional da mesma.
A preparação para a entrevista é meio caminho andado para o sucesso. Além de se informar sobre a história, missão e cultura da empresa, a sua organização, as suas chefias, qualquer candidato deve ser capaz de antecipar eventuais questões que lhe possam ser colocadas (ver caixa). A mais óbvia das perguntas, se o apanhar em falso, pode automaticamente eliminá-lo no processo de seleção. Para se preparar o melhor é realizar uma breve introspeção sobre a sua vida e o seu percurso profissional, procurando justificar as mudanças e escolhas que fez, os desafios que abraçou e as metas pessoais e profissionais que quer alcançar.
Coloque-se questões, tendo como meta preparar uma breve apresentação que lhe permita dar-se a conhecer. Procure também explicar claramente as suas competências e os seus pontos fracos - porque como refere Sandra Silva “as empresas não procuram candidatos perfeitos” - e não esqueça de deixar claro porque razão a sua contratação será uma mais-valia para a empresa.
Depois, há outras questões que não deve descuidar. A pontualiddae é obrigatória. Deve falar de forma cuidada mas natural, sempre no positivo e com um tom de voz médio que lhe permita transmitir segurança e convicção. Jamais interrompa o entrevistador, embora possa colocar questões. Nunca minta ou faça comentários difamatórios de ex-colegas ou anteriores empregadores e procure ainda não falar de questões financeiras antes do tempo. Estes três fatores podem deitar tudo a perder. A apresentação é outra questão que não deve negligenciar. O guarda roupa ideal não existe, mas deve apostar numa solução adequada à função que vai exercer. Se a cultura da empresa for formal opte por um fato sóbrio e um aspeto sempre cuidado. Esta é a sua oportunidade de mostrar que é uma boa contratação.
Perguntas que fazem a diferença
Porque é que quer trabalhar aqui?
É uma das questões que implica que se prepare muito bem para a entrevista, recolhendo informação sobre a empresa, a sua cultura organizacional e valores. É aqui que você demonstra que fez o trabalho de casa.
Porque é que você é a melhor escolha?
Jamais diga que é melhor que os outros candidatos. Procure valorizar-se humildemente, referindo porque é que as suas capacidades e perfil podem potenciar os resultados da empresa, naquela função.
Se tivesse de recrutar alguém para este cargo, que características teria de ter?
Evidencie características que você já tem (sem mencionar que são suas) e deixe de lado requisitos que não cumpra.
Quais são os seus pontos fracos?
Refira “defeitos” que para o empregador são positivos como “sou dependente do trabalho”, “excessivamente perfeccionista”, “tenho dificuldade em desligar-me do trabalho, mesmo quando estou em casa”, etc.
Porque deixou o seu último emprego?
Nunca coloque uma conotação negativa na sua resposta e jamais caia no erro de apontar defeitos à anterior organização ou chefia, ou de falar sobre questões internas da mesma. Refugie-se no argumento sempre válido de que sentiu o apelo dos novos desafios.
Trabalha bem sob pressão?
Sim. Sempre sim, mas enfatize que embora consiga cumprir tarefas com sucesso em curtos espaços de tempo, prefere fazer as coisas de forma planeada.
Onde quer estar daqui a 10 anos?
Não faça previsões que impliquem promoções. Deve demonstrar ambição, mas oriente a sua resposta para os benefícios que espera trazer para a empresa e para a sua necessidade de se sentir profissionalmente realizado?
Qual o pior problema que já teve com uma anterior chefia?
O entrevistador pode tentar levá-lo a falar mal da anterior chefia. Jamais caía na armadilha. Diga que não se recorda de nada suficientemente grave e que mereça registo.
Tem alguma pergunta que queira colocar?
Aproveite a ocasião para marcar a diferença e impressionar o entrevistador, demonstrando que conhece o espírito da empresa. Pergunte algo específico sobre um projeto em curso, por exemplo.
cmateus.externo@impresa.pt