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Como se constroi um líder

28.12.2007


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Cátia Mateus
‘‘Qualquer pessoa põe os outros a trabalhar. Mas somente um bom líder consegue que os seus colaboradores trabalhem muito bem, cheios de motivação”. Quem o diz é o «executive coach» Nigel Linacre, que passou recentemente por Portugal onde veio dissertar sobre Liderança Inspiracional. Para este especialista, “são muitos os profissionais que só se empenham a sério quando sentem que o seu trabalho é valorizado”.

Nigel Linacre, que faz parte do grupo de oradores da Izi Palestras, lembra que “o mundo laboral está a passar por uma nova dinâmica, onde existe um número crescente de trabalhadores que dá primazia a um trabalho que tenha significado, mesmo que seja pior remunerado”. “Na motivação, os líderes desempenham, pois, um papel fundamental. Hoje em dia, a componente puramente salarial já não tem efeitos directos na produtividade”, realça o especialista.

O líder é, assim, uma peça fulcral no sucesso e na rentabilidade da organização. “Deve ter competência técnica, ser coerente naquilo que diz e no que faz e tratar aqueles que o seguem de forma igual”, complementa Fernando Ilharco, docente da universidade Católica, também especialista em liderança e um dos autores (juntamente com Luís Lourenço) do livro ‘As lições de Mourinho', sobre as capacidades do ex-treinador do Chelsea. Para Nigel Linacre, é ainda essencial, o líder “descobrir a sua paixão”. “Se não estiver inspirado não conseguirá ser inspiracional, se não agir segundo os valores que transmite, os colaboradores não lhe darão o seu melhor e se não souber para onde vai, as pessoas não o seguirão”.

Nuno Morais Cardoso sabe bem para onde vai. E num mercado — o do imobiliário — tão associado à crise económica, onde todos auguram estagnação, o gestor, optimista, vê um “potencial de crescimento inimaginável”. Se a maioria das pessoas compra, vende ou troca de casa, a perspectiva de negócio é, pois, quase ilimitada, defende. Licenciado em Gestão de Empresas, com apenas 36 anos, Morais Cardoso é já um dos executivos que mais se tem destacado no grupo Remax Portugal.

O gestor, que conseguiu abrir quatro lojas da marca em apenas três anos (duas em Lisboa, em São Bento e Benfica, uma outra em Queluz e em São Marcos, Sintra), faz já parte do Top 5 entre os 250 franchisados da Remax. Fanático pelo trabalho — folga apenas um dia por semana e habitualmente começa às oito da manhã e nunca termina antes das dez da noite —, Morais Cardoso é um apaixonado pelo negócio: “Adoro o que faço. E considero-me uma pessoa determinada: não paro enquanto não atingir a meta a que me propus”.

Exigente consigo próprio, coloca a mesma fasquia para os seus colaboradores que, graças ao crescimento exponencial do seu negócio, passaram de apenas quatro, em 2003, para quase 100, em 2007. “Crescer é difícil mas todos nós trabalhamos com base em objectivos ambiciosos, mas realistas, e acima de tudo desafiadores”, resume o empresário. Nuno Morais Cardoso encaixa na perfeição naquilo a que o académico Fernando Ilharco designa por ter carisma e dar o exemplo. “Os grupos seguem exemplos, seguem uma boa história, um destino. O líder tem de ser corajoso e aventureiro para criar novas dimensões, novas oportunidades. E deve estar sempre presente”, aponta, exemplificando com a «performance» de José Mourinho, “que tem uma liderança constante, é sempre o primeiro a chegar e o último a sair e é um líder visionário que faz projectos concretos para o futuro”.

Armanda Almeida também tem muitos projectos para dinamizar a organização onde está, por isso ganhou a confiança de todos com quem trabalha, passando-lhes ainda o compromisso que imprime na sua actividade como responsável pela gestão do grupo Instituto Óptico. O grupo foi criado em 1989 e tem actualmente cerca 90 sócios que detêm 170 lojas. Independentemente de cada um dos sócios gerir os seus espaços, o grupo nomeia um responsável pelo desenho estratégico da organização.

Armanda Almeida sabia, quando foi nomeada para o cargo, em 2002, na altura com 37 anos, que a tarefa poderia ser difícil pois “além de ser mulher — nas reuniões com os sócios costuma estar rodeada apenas por homens —, pertencia à segunda geração”. “Gerir um grupo de empresários fundadores, carismáticos, alguns dos quais ocupando cargos de liderança dentro do sector óptico, poderia ser complicado”, realça a responsável. Mas, apesar de tudo, os receios acabaram por ser infundados e em 2005 voltou a ser reeleita para o cargo com 80% dos votos. “O mais difícil foi conseguir a oportunidade para provar que era capaz de o fazer. Agora, os sócios sabem que faço tudo com empenho. Eles sentem que isso é verdadeiro”, sublinha a responsável, que apesar de ter idade para ser filha de alguns dos sócios conseguiu ganhar o seu respeito.

A juventude de quem tem o poder de decisão não é, por isso, um obstáculo para liderar. Pelo contrário, pode até ser um trunfo. Fernando Ilharco, docente da Faculdade de Ciências Humanas, da Católica e também «speaker» da Izi Palestras, lembra que “quando se é novo e se é muito competente, é possível ganhar rapidamente uma aura, ser visto como alguém que tem algo muito especial. Isso cola muito bem com a liderança”.





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