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Atrás de um sonho

Atrás de um sonho

São jovens mas dão lições a muitos adultos, seja na determinação com que seguem os seus sonhos, no empenho com que abraçam a sua realização ou na humildade com que reconhecem que o futuro que ambicionam só será possível com muito trabalho e respeito pelos demais. Às vésperas do Dia Mundial da Criança, mostramos aos grandes profissionais com que garra e profissionalismo os mais jovens conquistam o futuro. Pequenos na idade, mas muito grandes na determinação.
27.05.2010 | Por Cátia Mateus


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Diz-se que o futuro pertence aos que acreditam na beleza e na força dos seus sonhos . Um acreditar e uma determinação que não tem idade. Há quem, sendo jovem, o prove e dê autênticas lições de vida aos adultos mais acomodados. Raquel Almeida e Marcelino Sambé, mostram com que garra se perseguem os sonhos. Ela tem 12 anos e quis um dia ser pintora. Hoje, soma seis exposições e vende entre 50 a 70% dos seus quadros. Ele tem 16 e sonhou um dia que os seus pés teriam asas como os pássaros e que voaria, pelo mundo, numa dança tão própria que lhe sai do coração. Hoje, o seu nome figura entre os melhores jovens bailarinos do mundo. Soma prémios em Nova Iorque, Pequim, Berlim e Moscovo e está de partida para a Royal Academy of Dance, em Londres. Sorriem como crianças que são, mas têm no olhar o brilho próprio de quem sabe “fazer acontecer”, apesar da idade.

Tinha pouco mais de três anos de idade quando se rendeu ao mundo das artes. Foi durante uma visita com a escola ao Museu de Arte Antiga da Fundação Calouste Gulbenkian, que Raquel Almeida soltou o seu primeiro “quero ser pintora quando for grande!”. Cheia de certezas e convicções, já bem vincadas para idade, a jovem lá foi desbravando o seu caminho. Aos sete anos, os pais já rendidos à apetência da jovem pelo traço, fizeram-lhe a vontade. Foi pelas mãos da pintora Eduarda Andrino que, em 2005, Raquel Almeida começou a aperfeiçoar a sua técnica quando frequentou no atelier de pintura da artista plástica, um curso de formação durante os meses de Verão. Hoje, com 12 anos, Raquel Almeida soma no seu percurso seis exposições e mais de 45 obras vendidas.

“A primeira exposição que fiz foi na escola Nova Apostólica, onde estudava. Depois fiz mais três exposições na Folha de Chá, uma casa de chá onde decorriam mostras de arte regulares e agora tenho duas exposições a decorrer, ambas em Oeiras”, explica a jovem artista. Apadrinhada pela Câmara Municipal de Oeiras e pelo Colégio Militar, que cedeu as instalações da Feitoria do Colégio Militar, junto ao passeio marítimo de Oeiras, para que fossem palco de uma clara demonstração da realização do seu sonho, Raquel tem a decorrer, até amanhã, a exposição “Opostos e Semelhanças”. Uma mostra conjunta com a professora que a acompanhou nos últimos cinco anos, Eduarda Andrino, e a quem deve parte de uma evolução artística e técnica pautada por uma ânsia constante de aprendizagem, inovação e descoberta. Aluna e professora, demonstram numa forma muito própria e plena de identidade, porque razão a arte é capaz de criar sintonias entre universos e experiências de vida tão distintos e porque é, tal como o sorriso, uma linguagem universal, entendível em qualquer canto do mundo.

A necessidade de evoluir para outras técnicas (o desenho e a pintura a óleo) levaram Raquel Almeida a frequentar, em Março de 2010, o Atelier TrassoVivo – Galeria e Oficina de Belas Artes do professor Jorge Aragão, de quem é actualmente aluna e com quem participou também na exposição colectiva “Cores na Primavera”, a decorrer na Biblioteca Operária Oeirense. Duas inaugurações, em dois dias seguidos e um sucesso de vendas. No arranque da exposição “Opostos e Semelhanças”, Raquel Almeida vendeu logo quatro obras e na “Cores na Primavera”, o seu quadro foi vendido meia hora depois das portas abrirem.

Tem quatro horas de aulas de pintura semanais, mas o seu investimento pessoal na arte vai muito além disso. Os tons quentes e alegres, com cheirinho às muitas viagens que faz com os pais, sobretudo por terras africanas, são os seus favoritos embora ultimamente se discipline a enveredar por outras paletes de cor mais diversificadas. Os pais de Raquel, Maria João e Mário Almeida, incentivam em tudo o que podem este sonho. São frequentes as visitas a exposições de pintura e mostras artísticas de géneros diversificados.

Alegre, brincalhona, curiosa e com a timidez natural da idade, Raquel Almeida não é menina de deslumbres. Humilde, sabe que mesmo vendendo entre 50 e 70% das obras que expõe, para triunfar no mundo das artes tem ainda muito que aprender e aperfeiçoar. Não sabe se o seu futuro passa exclusivamente pela pintura e até diz estar “indecisa entre a Biologia e as Artes”. Mas tem certeza que a paixão que alimenta por esta forma de comunicar vai caminhar consigo pela vida, tenha ela que profissão tiver. Gosta de Miró, de Van Gogh e de Kandinsky e refere que o seu sonho – “pode ser impossível”, diz a sorrir - é um dia expor na Gulbenkian ou no Centro Cultural de Belém. Provavelmente, até chegará mais longe. Até porque, como diz Walt Disney, “todos os grandes sonhos se realizam, se tiveres a coragem de os perseguir”.

E coragem nunca faltou a Marcelino Sambé. Aos 16 anos, o jovem bailarino da Escola de Dança do Conservatório Nacional figura entre os melhores do mundo. Nasceu no Dia Mundial da Dança e o seu percurso prova que não há coincidências. Com cinco anos já dava nas vistas no grupo de dança Estrelitas Africanas, no centro comunitário do Alto da Loba, o bairro municipal de Paço de Arcos, onde nasceu. Com a ginga que lhe corre no sangue brilhava ao ritmo do kuduro e dos sons quentes de África. Foi aliás esta ginga cheia de raça que lhe garantiu o passaporte para o Conservatório Nacional, aos 10 anos de idade. É que Marcelino nunca tinha dançado ballet na vida e por isso, na prova de admissão para aquela escola, fez questão de mostrar as suas raízes e improvisou a sua melhor dança africana ao som de, imagine-se, um piano de Chopin. “Quando lá cheguei era só meninos de ballet. Eu não sabia fazer aquilo e não ia estar ali a ridicularizar com o meu improviso uma coisa séria, por isso fiz o que sabia e, confesso, nunca achei que fosse passar com uma dança africana ao som do piano”, relembra entre gargalhadas.

Mas passou. Talvez porque no seu ritmo tão próprio mostrou ter alma e coração na dança. A mesma alma e afecto que tem hoje e que encanta o mundo. Marcelino Sambé saberá, muito provavelmente, porque cantam os pássaros nos seus voos picados. Diz-se que não é pela técnica do enérgico bater de asas, é um som que vem de dentro: do coração. E é esse um dos principais instrumentos de trabalho do jovem bailarino. Mais do que a técnica e a condição física, para Marcelino “o amor à dança, a alma com que um bailarino entra em palco, o coração, o seu brilho interior, o seu sorriso, a felicidade que não consegue conter no corpo são o que o distingue. Ter um bom corpo não quer dizer nada se não houver afecto no que fazemos, se não houver expressão”.

Uma equação perfeita que tem conduzido o jovem na conquista de vários prémios nacionais e internacionais. Três meses depois da sua entrada para a escola de dança, alcançava no Algarve o primeiro prémio da sua carreira. No segundo e no terceiro anos voltou a destacar-se a sul do país. Nova Iorque foi o seu primeiro destino internacional, onde dançou numa gala repleta de grandes nomes da dança. Em Pequim, mostrou ser o melhor em dança contemporânea. De Berlim trouxe para casa o Grand Prix. Voltou a Nova Iorque para repetir a dose e mostrar que era o melhor. Pisou Teatro de Bolshoi, em Moscovo, e brilhou no seu voo iluminado, com um sorriso rasgado que não consegue esconder cada vez que dança.

Perfeccionista, rigoroso consigo mesmo, exigente, determinado e humilde, Marcelino Sambé encara estes prémios como um incentivo e uma indicação de que está a trabalhar bem, mas não se deslumbra. Nos últimos anos aprendeu que o mais importante para ser um bom profissional nesta área é “o trabalho e todo o processo de aprendizagem” e diz que quando consegue aprender algo que para ele era muito difícil, é a maior vitória que pode ter. E foram várias as vitórias que alcançou desde que entrou para escola de dança. Confessa que teve consigo uma luta interior muito grande até decidir que este era o seu caminho e quando seguiu em frente, iniciou uma batalha maior. Nunca tinha dançado ballet e a adaptação não foi fácil. Contou com a ajuda do vizinho e bailarino Telmo Monteiro que também frequentava a escola e que passou um Verão inteiro a treiná-lo na dança clássica. Sem saber, o jovem amigo treinou-o também na capacidade de superar os limites e de se impor chegar sempre mais além.

“Alcançar um progresso pessoal para mim é muito melhor do que qualquer prémio porque é isso que vai fazer de mim um bom bailarino, com uma carreira digna e valorizada”, explica. Um desafio que junta aos muitos outros que já teve de superar. No mesmo ano em que entrou para a escola perdeu o pai, mais tarde a mãe foi viver para o Alentejo e ele, para seguir o seu sonho, ficou em Lisboa uma nova família. Agora está de partida para Londres, onde ficará cerca de um ano com uma bolsa na Royal Academy of Dance. Diz que neste processo teve, e tem, angústias, mas nunca acreditou que não fosse capaz.

“A mente tem muito poder e eu hoje tenho uma mente mais forte do que no ínicio, por isso, sempre que vejo um bailarino muito bom dançar nunca penso que não vou ser capaz. Digo sempre a mim mesmo ‘eu também consigo, é só treinar”, sorri. Ambiciona pisar o palco do Kirov, em S. Petersburgo “porque é um palco ainda muito fechado a estrangeiros e seria a concretização de uma grande ambição”. Admira o perfeccionismo de Rudolf Nureyev, mas a o seu grande sonho é ser um Mikhail Baryshnikov ou um Fernando Bujones.

“Eu acredito em mim e essa auto-confiança é o primeiro passo para realizar as nossas ambições. Por isso, a minha meta é ser um bailarino ao nível destes senhores. Não digo ser uma estrela. Sonho, sobretudo, em ter uma carreira com a dignidade que estes bailarinos tiveram, em deslumbros, e com uma aprendizagem que se espelhe no meu trabalho em palco”. Um sonho que persegue, com uma determinação sem fronteiras e com um brilho de olhar impossível de apagar. Para que um dia, daqui a 70 anos, talvez, algum jovem bailarino, em inicio de carreira possa da mesma forma dizer: o meu sonho é ser como o Marcelino Sambé.



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