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A paixão pelas línguas depois da reforma

O fascínio pelo domínio de vários idiomas não toca só aos mais novos. À beira da reforma, ou até mesmo depois dela, há muitos alunos séniores que procuram as universidades e escolas nacionais para aprender como se fala e escreve noutros países
12.09.2008


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Maribela Freitas

Como se diz na sabedoria popular, nunca é tarde para aprender. Inglês, espanhol, francês ou alemão, são alguns dos idiomas leccionados nas várias universidades seniores que existem um pouco por todo o país. A curiosidade, o simples desejo de aprender ou de se fazer entender em países estrangeiros, leva muitos jovens de espírito e alma a enveredar pelo desafio da aprendizagem.

Na Universidade Sénior de Vila Franca de Xira leccionou-se no último ano lectivo de 2007/2008 o castelhano e o inglês (básico e avançado). “A língua estrangeira mais procurada na nossa Universidade Sénior é o inglês, leccionada por dois docentes, abrangendo um total de 71 alunos, distribuídos por três turmas. O castelhano contou com 20 alunos”, explica a direcção da universidade. Em termos globais o inglês é também a disciplina mais procurada na universidade, depois da informática. Este interesse deve-se por um lado ao facto de os alunos não terem tido oportunidade de enquanto estudantes aprenderem este idioma e porque boa parte da informação na área de informática é em inglês. As mulheres são o grosso dos alunos nesta disciplina (49, para 22) e as idades estão compreendidas entre os 55 e os 78 anos. No caso do castelhano existem também mais mulheres que homens (14 para seis) e as idades vão dos 56 aos 71 anos.

“A área de formação, bem como a escolaridade dos seniores que frequentam as línguas estrangeiras é bastante heterogénea”, salienta a direcção da universidade. Entre os alunos de línguas estrangeiras encontram-se pessoas que possuem desde o primeiro ciclo do ensino básico até cursos superiores. “O que motiva estes seniores a estudar é, sobretudo a vontade de adquirir novos conhecimentos, bem como a reaprendizagem do que haviam aprendido nos seus tempos de escola”, pormenoriza a universidade. Entra ainda em campo a troca de saberes e experiências e o combate à solidão através da criação de laços de amizade e da ocupação dos seus tempos livres. A estes factores junta-se ainda o acompanhamento das transformações da sociedade actual, visível no interesse demonstrado pela aprendizagem do inglês e da informática.

Rui Martins, vice-presidente do Instituto de Cultura — Universidade Sénior de Portimão, conta que na instituição que dirige, o francês é o idioma mais solicitado. “Fico surpreendido quando observo pessoas com 70 e 80 anos a aprenderem línguas estrangeiras. Isso demonstra uma maior abertura por parte dos portugueses actualmente”, comenta. Nesta universidade a oferta centra-se no alemão, inglês e francês e onde é dada uma formação mais básica, para quem se está a iniciar e outra mais avançada, para quem tem os conhecimentos mais frescos na memória. “Tentamos adaptar a oferta à vivência do dia-a-dia”, explica Rui Martins. Na opinião do vice-presidente da universidade sénior de Portimão, esta apetência pela aprendizagem de falares de outros países prende-se com o facto de as pessoas viajarem mais e muitas terem filhos a morar no estrangeiro e querem aprender a língua para as deslocações que aí fazem. No entanto, a aprendizagem nem sempre é simples para quem tem mais idade. “A memorização é o mais complicado para esta população”, acrescenta Rui Martins.

Mas nem todos os alunos sentem dificuldade. Maria Florença Pires, com 57 anos, é um desses casos. Natural de Goa e a residir há muitos anos em Portugal, frequenta a Universidade Sénior de Vila Franca de Xira. Em tempos estudou a língua inglesa, cujos conhecimentos tem vindo a aprofundar na Universidade Sénior. “O inglês é uma língua que me fascina e não tenho sentido muita dificuldade na aprendizagem”, confessa a aluna. Outro dos idiomas que tem vindo a aprender é o castelhano. O seu sogro era natural de Espanha e Maria Florença Pires desloca-se com frequência a Vigo. “Tinha muita curiosidade com o espanhol e como já estava familiarizada, resolvi aprender de forma mais aprofundada”, explica. Também aqui não sente grandes dificuldades de aprendizagem, uma vez que aos 33 anos de idade resolveu terminar os estudos interrompidos e desde aí tem mantido a mente activa.

Odete Belo é voluntária numa universidade sénior onde lecciona inglês básico. “A memória é o que mais falha e temos de ser repetitivos”, comenta. Extremamente motivados, os seus alunos queixam-se das especificidades do inglês, nomeadamente a inversão das palavras nas frases e o facto destas se lerem de uma forma e escreverem de outra. Sempre gostou de inglês e o facto de ter vivido alguns anos na África do Sul, aumentou esse gosto. Actualmente há três anos que ensina a língua a idosos e está a adorar a experiência. “Apaixonei-me por esta actividade em que não só ensinamos como também aprendemos muito com os alunos”, finaliza Odete Belo.





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