Contornar os avanços da tecnologia e manter-se competitivo num mercado de trabalho onde a automação está a ganhar progressivamente terreno é, têm defendido os especialistas, uma questão de competências. Urge desenvolver as competências certas e antecipar as que serão essenciais no futuro. Mas não só. Um estudo agora divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) parece indicar que é também uma questão de género. O documento defende que pelo menos 180 milhões de mulheres em todo o mundo correm o risco de ver o seu emprego ser tomado por um robô. Entre os países-membros da OCDE são 26 milhões.
“Os resultados que alcançámos mostram que, tendo em conta o atual patamar de desenvolvimento tecnológico, 10% da força de trabalho (54 milhões de trabalhadores) em 30 países (28 Estados-membro da OCDE, Chipre e Singapura) enfrentam um risco elevado de serem substituídos por soluções de automação nos próximos 20 anos”, explicam os autores do estudo “Género, Tecnologia e o Futuro do Trabalho”. Por “elevado risco de automação”, o FMI entende um grau de probabilidade de automação superior a 70%.
A batalha é desigual para homens e mulheres. Para elas, o risco de substituição pela máquina é maior, 11% contra 9%. A nível global, explica o estudo, trabalhadoras menos qualificadas, com idade a partir dos 40 anos, em funções administrativas, no sector dos serviços ou vendas, enfrentam maior exposição aos riscos. Mas a substituição homem-máquina pode atingir outras franjas profissionais. O FMI revela que quase 50% das mulheres com qualificações ao nível do ensino secundário têm os empregos ameaçados pelo impacto da tecnologia. À medida que aumentam as qualificações, diminuem os riscos. Entre as profissionais com formação superior, a percentagem de empregos ameaçados é de 1%.
Segundo o relatório, esta situação de maior fragilidade perante a tecnologia que as mulheres enfrentarão no mercado de trabalho do futuro está relacionada com o facto de estas estarem hoje sub-representadas nas áreas de atividade que estão a registar maior crescimento do emprego, como as engenharias, e as tecnologias de informação. No sector tecnológico, por exemplo, a probabilidade de atingir cargos de liderança e gestão é 15% inferior nas mulheres. A de desempenharem tarefas mais rotineiras, e por isso mais expostas aos riscos de automação, é 19% superior à dos homens.
Inverter o cenário
Mas nem tudo são más notícias para as mulheres. As previsões do FMI apontam para um crescimento do emprego em sectores como a saúde, educação e serviços sociais. Empregos que requerem fortes competências cognitivas e de relacionamento interpessoal e, por isso, onde as hipóteses de ver humanos serem substituídos por robôs são menores. E nestas áreas, as mulheres estão em destaque. Por outras palavras, as profissionais mais qualificadas podem beneficiar de um crescimento do emprego nestas áreas.
O FMI salvaguarda que “estar em risco de automação não significa a perda efetiva ou a destruição de emprego”, mas acrescenta que é fundamental minimizar estes riscos. Para isso é determinante que sejam adotadas nos vários países políticas que reduzam as barreiras que as mulheres ainda encontram no mercado de trabalho.
Um investimento precoce na captação de mulheres para cursos e carreiras nas áreas das Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas, ou a sua reconversão para estas áreas, não só é determinante como pode, acrescenta o FMI, “ajudar a quebrar estereótipos de género e a aumentar a retenção de profissionais nestas carreiras”. O FMI sugere, por exemplo, a adoção de incentivos fiscais para promover uma cultura de formação ao longo da vida que possa apoiar uma atualização de competências mais célere e adequada às necessidades do mercado. Diminuir a disparidade de géneros em cargos de liderança, facilitar as transições de carreira, com a adoção de sistemas de proteção social adequados à nova realidade laboral, e promover o acesso a novas tecnologias são também medidas apontadas como fundamentais para minimizar os riscos de automação no emprego.