"Na Google o fator 'cunha' não é critério de seleção"
Trabalhar na Google representa um sonho para milhares de jovens universitários em todo o mundo. Só este ano, o gigante tecnológico recebeu cerca de 75 mil candidaturas para apenas 6 mil vagas de emprego disponíveis. As oportunidades a criar são definidas anualmente pela casa-mãe, assim como os critérios de seleção.
22.07.2011 | Por Cátia Mateus
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Este ano, Portugal tem autorização para recrutar apenas um colaborador para a sua equipa. Um entre centenas de talentos que terão de ultrapassar um dos mais exigentes e rigorosos processos de seleção do universo empresarial. Paulo Barreto é o CEO da Google em Portugal. Foi pela sua mão que a empresa entrou em território nacional em 2005. Até ser recrutado pela Google, o próprio CEO nacional passou por um longo processo de 12 entrevistas. Hoje não tem dúvidas em reconhecer que este foi o seu maior projeto profissional. Exige o mesmo a quem trabalha consigo.
Diz-se em tom de brincadeira “se achas que sabes tudo, devias trabalhar para a Google”. Esta ambição de saber é um requisito de admissão?
A ambição de saber e a busca pelo conhecimento são sempre fatores valorizados, mas não são os únicos. É preciso esclarecer que o recrutamento para Google Portugal é começado por mim, mas há uma equipa que para o mercado português está sediada em Paris, que gere todo o processo. Eu posso sugerir algumas pessoas mas ninguém entra se não for aprovada, primeiro pelo comité em Paris, mais tarde pelo comité nos Estados Unidos e, finalmente, por um dos nossos fundadores Larry Page que todas as terças-feiras recebe as fichas dos candidatos e aprova quem entra ou não para a empresa. É óbvio que na primeira triagem que fazemos já sabemos qual o perfil de candidato que está preparado para ultrapassar com sucesso todos este rigoroso processo de seleção que no meu caso durou perto de dois anos, envolveu dezenas de emails e telefonemas e implicou 12 entrevistas de seleção. Não tenho dúvidas de que entrar para a Google foi o maior achievement de toda a minha carreira.
O que tem de ter quem queira conquistar um lugar nesta equipa?
O nosso primeiro filtro é a universidade, é por ai que começamos. Procuramos pessoas que tenham tirado o curso em universidades classificadas pela Google como “instituições de elite”, com uma média final de conclusão superior a 14 valores. Em Portugal, são cinco ou seis universidades entre as quais a Universidade Católica, a Universidade Nova, o ISCTE e o Instituto Superior Técnico. Isto às vezes parece um bocadinho injusto porque haverá candidatos que se calhar têm uma média inferior ou não pertencem a estas universidades, mas têm talento e que excluímos à partida, mas é a forma que temos de iniciar o processo e numa empresa como a nossa que recebe milhares de currículos, não havia outra forma de fazer uma primeira triagem, senão pelo currículo académico. Depois, procuramos candidatos que tenham tido alguma estabilidade ao londo da carreira, que tenha progredido dentro das empresas por onde passou. Damos valor a detentores de uma experiência internacional, pessoas que falem pelo menos dois a três idiomas e que tenham um achievement pessoal que os torne diferentes, como a prática de algum desporto, o facto de terem tido projetos próprios, praticarem ações de voluntariado, tudo o que os distinga.
Esses fatores são cada vez mais valorizados pelas empresas no momento de recrutar...
Sim. São fatores distintivos como estes que marcam a diferença entre perto de 75 mil candidatos para seis mil vagas a nível mundial. Este enriquecimento pessoal reflete-se na forma como o candidato se integrará na empresa, mas paralelamente são importantes competências como a ambição, humildade e flexibilidade. Estamos numa indústria que muda a uma velocidade alucinante e onde é preciso aprender coisas novas todos os dias e quotidianamente adaptar-se a novas funções. Por isso não podemos ter pessoas que só saibam fazer uma coisa ou só esteja dispostas a exercer uma função.
Depois desta triagem, como se processa a admissão dos candidatos?
Uma vez definido o perfil temos um processo de quatro ou cinco entrevistas (que podem ser mais para cargos de topo). Todas os elementos dos vários comités que realizam estas entrevistas têm de ter certeza que o candidato será um bom elemento para o grupo. Basta haver a mínima dúvida e o candidato é eliminado de imediato. Isto faz com que o processo, além de ser demorado seja muito trabalhoso. Nós por exemplo, vamos poder contratar um colaborador para a equipa portuguesa em 2011. O processo foi iniciado em Agosto de 2010.
Apenas um colaborador?
Sim. Apenas um, as vagas em aberto para cada país são definidas anualmente pela casa-mãe. Isto é importante para que as pessoas percebam que na Google não existem “cunhas”. Aquela coisa de ‘eu sou o diretor da Google e vou pedir para este candidato entrar’ não existe. Os comités de seleção que avaliam os candidatos são totalmente independentes.
O que é para si fator de exclusão imediata?
Falta de humildade. Prefiro não ter na minha equipa pessoas pouco humildes. Na Google todos somos sobredotados para a função que desempenhamos, porque fazemos o que há para fazer. Ser humilde é um grande valor para nós porque temos muitas vezes de fazer o trabalho que outra pessoa com menos qualificação poderia fazer.
A Google começou como um projeto universitário. Este projeto poderia ter nascido numa universidade portuguesa?
Sim, acredito que podia. Porém, acredito que depois não há ainda o lado empresarial nem apoio para levar estes negócios para o mercado. Os capitais de risco são basicamente inexistentes em Portugal, os gestores muitas vezes não vêem para lá das fronteiras do país e isso limita o surgimento nas universidades nacionais de projetos como a Google. Nos Estados Unidos todos os dias nascem projetos tecnológicos suportados por capital de risco, cá não.
Qual é a grande missão da Google?
A Google é uma empresa de tecnologia que pretende dar aos utilizadores uma ferramenta para acederem, de forma privilegiada à informação. O que fazemos é isso. Esta equipa, que é jovem e inovadora, tem um papel de transformação da sociedade e de todo o que a rodeia. A revolução que se vive na Internet não tem precedentes. Se olharmos para todas as revoluções que tivemos no passado, penso que a Google se tornou um motor catalizador deste momento determinante. É uma empresa revolucionária.
Diz-se que esta é uma das empresas mais felizes do mundo. Qual é o segredo?
O segredo é tratarmos bem os nossos empregados. Temos uma política pensada para que os nossos colaboradores estejam bem e motivados. Nós em Portugal, infelizmente, não temos ainda estrutura pata aplicar tudo o que se faz em escritórios maiores, mas temos um programa de free food, onde toda a comida consumida pelos colaboradores é paga pela empresa.
Um líder determinado e paciente
O universo Google emprega cerca de 24 mil trabalhadores em todo o mundo. Este ano quer alcançar a fasquia dos 30 mil, captando para a sua equipa jovens talentos com espírito criativo, inovador, flexível, mas acima de tudo capaz de dar continuidade a uma revolução da Internet que o gigante tecnológico tem vindo desenvolver e que democratiza o acesso à informação. Uma revolução que Paulo Barreto ajuda a conduzir a partir de Portugal.
O CEO da Google para o mercado português integrou a empresa em 2005, depois de um longo processo de recrutamento que durou quase dois anos e implicou 12 entrevistas de seleção. Aos 43 anos, o líder não tem dúvidas que esta foi a sua maior conquista profissional. Paulo Barreto é licenciado em Gestão de Empresas pela Universidade Católica e realizou um MBA nos Estados Unidos. No currículo integra empresas como a Soporcel, a GeminiConsulting, o Boston Consulting Group, o Sporting Clube de Portugal e a Media Capital. Paulo destacou-se cedo na sua vontade de trabalhar para a Google. Foi ele que foi atrás da empresa e a convenceu a sediar uma operação em Portugal. Durante dois anos trabalhou a partir de Madrid, até convencer a casa mãe de que Portugal era um mercado atrativo.
O líder da Google lusa é pai de duas filhas. Utiliza dois emails (um da Google e o Gmail) e confessa que tem no Facebook uma ferramenta de trabalho. “Não há candidato que apareça aqui e que eu não tente encontrar no Facebook, LinkedIn ou outras redes sociais”. Fica o aviso.
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