Modelos preditores
Os estudos por nós efectuados,
bem como os realizados em outros países apontam para os seguintes
factores preditores do grau de tolerância ao TT: o tipo diurno (cotovia/mocho),
flexibilidade, amplitude dos ritmos biológicos, neuroticismo, intro-extroversão,
satisfação geral no trabalho, controlo sobre o ritmo do
trabalho, suporte socio-familiar e idade.
A satisfação geral no trabalho é uma variável
tampão relativamente aos efeitos do TT nos trabalhadores. A flexibilidade
favorece a adaptação ao TT, bem como o tipo diurno vespertino.
Contudo, os modelos são apenas preditores, não afirmam relações
de causalidade. Por exemplo, o neuroticismo ( medido pelo Inventário
de Personalidade de Eysenck) é um bom preditor do grau de tolerância
(elevado neuroticismo está associado a intolerância), contudo
não é necessariamente causa. Pode ser efeito do TT. Os modelos
preditivos servem fins práticos (seleccionar a pessoa com melhor
perfil para o TT) e podem sugerir protocolos de investigação
experimental.
Um exemplo prático: suponhamos que num Hospital os horários
dos turnos são 2400-0800, 0800-1600 e 1600-2400; que a rotação
é rápida (tarde tarde manhã noite descanso folga
tarde...); trabalharão 2 enfermeiros em cada turno em simultâneo,
contudo à noite 1 assegurará o trabalho sem problemas; que
há 2 vagas e 10 candidatos, com idades compreendidas entre 21 e
45 anos.
Dado que a idade é uma variável preditora (menor idade maior
tolerância), deveremos escolher os mais novos; se a rotação
é rápida deveremos escolher os de maior amplitude dos ritmos;
poderemos escolher uma cotovia e um mocho, na medida em que no turno da
noite o mocho poderá trabalhar das 2400 até às 0400
(melhor desempenho) e dormir das 0400 às 0800 e a cotovia trabalhar
das 0400 até às 0800, dormindo das 2400 às 0400.
O que está a dormir poderá ser chamado para ajudar nalguma
situação de emergência.
Nos casos em que não pode haver este sono âncora ( um sono
de 90 a 180 minutos que ocorra entre as 2400 e as 0800), teríamos
de escolher dois tipos intermédios (nem mochos nem cotovias), dado
que são os que melhor toleram a rotação de horários.
Com efeito, os mochos toleram melhor a noite mas não toleram os
turnos da manhã.
Nos casos individuais (para estudo clínico de um trabalhador por
turnos) damos primazia aos registos biométricos e escalas clínicas.
Contudo, para a selecção/recrutamento de recursos humanos
é impraticável efectuar estudos biométricos, pelo
que dispomos de instrumentos de auto-avaliação com margens
de erro inferiores a 5% que asseguram uma gestão mais eficaz.
Fonte RHM (continua)