2. Mal-entendidos e armadilhas culturais
"A abordagem interdisciplinar dos processos
económicos internacionais é praticamente inexistente. Mais
grave ainda, as aplicações correntes da análise económica
convencional não toleram os comportamentos "irracionais".
Mas, se nos colocamos numa perspectiva plurinacional e intercultural,
não podemos perguntar o que é racional e o que é
irracional. Os dois são termos muito relativos e muito ligados
à cultura; o irracional de um pode revelar-se como um comportamento
metódico e previsível para outro.
Apesar da afirmação coerente de que os sentimentos e a procura
de interesses económicos não se misturam, os sistemas económicos
são na realidade sistemas éticos. Seja mediante leis e normas
ou costumes, certas actividades económicas são sancionadas
e outras não. E o que é sancionado difere de uma cultura
para outra."
Glen Fischer in Midsets 1988, p.144
O processo de globalização tende, aparentemente, a atenuar
as diferenças culturais, mas não as anula e as que persistem
são fonte de mal-entendidos. Um mal-entendido cultural é
um conflito de comunicação (aberto ou latente), provocado
pelo facto de os interlocutores serem oriundos de culturas diferentes
e, consequentemente, terem diferentes valores, hábitos e códigos
de conduta, enfim, diferentes esquemas ou softwares mentais colectivos.
É sempre recomendável, antes de abordar um interlocutor
estrangeiro ou ser enviado para outro país como expatriado, informar-se
sobre a história do seu país, sobre a religião praticada
pela maioria da população e sobre os seus grandes valores,
regras de educação, interdições e tabus. Na
prática, os quadros internacionais nem sempre têm disponibilidade
e o tempo necessários. No mínimo, deverão informar-se
sobre as regras de decoro ou de cortesia a respeitar, mas os livros sobre
a cortesia, a história e a religião deste ou daquele país
são de diferentes autores e apenas abordam as diferenças
culturais a um nível muito superficial.
Os Americanos ( e serão só os Americanos?), acreditam que
um bom líder ou gestor em Nova York ou em Los Angeles, é-o
em Hong-Kong, Paris, Tóquio, S. Paulo ou Lisboa. Contudo, Stewart
Black e Mark Mendenhall, num estudo do início desta década
(Op. Cit), demonstram que 70% dos Quadros Americanos expatriados e 90%
das famílias são enviados para o estrangeiro sem qualquer
tipo de formação sobre diferenças culturais.
Não obstante ser fácil reconhecer que as competências
interculturais são importantes e facilitadoras das missões
fora do país, tornando-as mais produtivas e menos dolorosas, a
maioria dos gestores de recursos humanos nada fazem em termos de formação
intercultural para os empregados em geral nem mesmo para aqueles que são
recrutados e seleccionados para missões internacionais, especificamente.
Como resultado desta situação, e ainda de acordo com estes
investigadores, entre 16 a 40% de todos os expatriados enviados para missões
internacionais regressam antes de tempo devido a fracos desempenhos, pouca
produtividade ou incapacidade de adaptação à nova
cultura hospedeira. Os custos directos desta situação estimam-se
em mais de 2 biliões de dólares por ano.
Fonte RHM (continua)