"A rotina diz-me pouco"
Estados Unidos, Espanha, Itália
ou Inglaterra fazem parte do currículo de Luís Deveza,
director de marketing da Unisys em Portugal. Adora o que faz pelo
relacionamento humano e porque considera o cliente como uma fonte
de inspiração inesgotável
Como é se desenrolou o seu percurso
académico?
Eu sou de Moçambique, tendo feito lá toda a minha
carreira escolar, nomeadamente na Faculdade de Economia na Universidade
que na altura se chamava de Lourenço Marques e hoje em dia
se chama Eduardo Mondelhane. Fiz até ao quinto ano. Depois
na altura dos problemas da descolonização tive que
vir a correr para Portugal e acabei por não terminar nessa
altura o curso porque tive problemas com a transferência curricular.
Quando vim para Portugal, porque também já trabalhava
em Moçambique, optei por entrar de imediato numa carreira
profissional porque tinha muita apetência por pôr as
mãos nalguma obra. De não esquecer que na altura o
ambiente académico era muito confuso, estávamos em
77. E eu aí preferi claramente enveredar pela parte profissional.
Quando é que teve o seu primeiro emprego?
Eu tenho o meu primeiro emprego ainda em Moçambique. Aliás,
eu vou citar dois. Um na Rádio Clube de Moçambique
onde tive carteira de jornalista. Fazia vários programas
de rádio. E depois, um emprego mais sério e mais a
ver com o meu percurso académico. Fui para a DETA, que eram
as linhas aéreas de Moçambique, que hoje se chamam
LAM. Fui para o gabinete de estudos e depois fui dirigir a chamada
contabilidade de tráfego. Na verdade este foi o primeiro
emprego a sério, emprego esse que deixei quando vim para
Portugal. Estive na Rádio Clube um ano e na DETA um ano e
seis meses.
Chegado a Portugal, optou logo por um emprego
na área do marketing ou começou por outra área?
O primeiro interesse, na verdade, foi pela área das novas
tecnologias. Quando eu estava na DETA, em Moçambique, tive
que fazer acordos com a TAP, nomeadamente um na área da contabilização
das operações de vendas. Por curiosidade e por relacionamento
com o menagement da TAP na altura, tentei conhecer melhor como é
que se faziam cá as mesmas coisas de um modo mais informatizado
do que eu fazia na DETA. Isso despertou-me algum interesse para
que levasse avante um projecto semelhante que acabou por não
se concretizar na época. Quando vim para Portugal quis seguir
essa chama de perceber e trabalhar melhor a informatização
dos serviços. Comecei por tirar vários cursos na área
da análise e da programação ao mesmo tempo
que procurava emprego. Acabei por entrar numa empresa de nome Burroughs,
que era na altura uma das empresas informáticas líderes
mundiais e tinha uma representação importante em Portugal.
O meu primeiro percurso profissional é muito na área
da orientação tecnológica, embora tenha entrado
para a área comercial fundamentalmente para a venda de pacotes
de software. Tinha que entender não só a função
que esses pacotes tinham nas empresas como também entender
toda a tecnologia que servia de infraestrutura a essas soluções.
Dentro da Burroughs como é que se
desenvolve o seu percurso?
Após este percurso na área comercial acabei, e porque
ganhei interesse pela parte tecnológica, por passar a engenheiro
de sistemas no departamento de suporte. Aí desenhava as soluções,
instalava-as nos clientes e ainda lhes dava suporte. Uma função
claramente mais técnica. E assim estive mais uns anos. Nessa
altura desperta-me o gosto por tentar perceber o que o cliente queria,
convencê-lo com argumentos tecnológicos que as nossas
soluções eram boas soluções e iam ao
encontro das suas necessidades. Esta integração da
oferta e da procura começou a despertar-me mais interesse
na minha carreira, sendo que isto sucede na altura em que se dá
a fusão da Burroughs com uma outra de nome Sperry que também
estava presente em Portugal e que também era líder
mundial, formando a nova companhia que passou a ter o novo nome
de Unisys. Quando passo a pertencer à Unisys começam
logo a adivinhar-se oportunidades para uma carreira dentro do departamento
de marketing que eu agarro, passando a dirigir uma das suas áreas
de produtos.
Na Unisys toma o gosto pelo marketing. E
depois?
Tomo o gosto pelo marketing e nessa altura a Unisys, como empresa
multinacional, tinha muita exposição ao mercado. Tínhamos
clientes importantes que claramente lideravam uma ligação
à empresa que nos obrigava a desenvolver profissionalmente
e, por outro lado, tínhamos uma grande exposição
em termos internacionais com subsidiárias em quase todos
os países do mundo. A minha evolução nas várias
empresas acaba por, sem ter sido planeado assim, ter sempre um ciclo
de três anos a fazer determinado projecto. O primeiro projecto
novo que surge após alguns anos de fusão foi a oportunidade
de ir trabalhar para a sede nos Estados Unidos tendo como responsabilidade
a gestão do interface entre a sede e a divisão europeia.
Tinha que defender junto da divisão europeia as orientações
estratégicas da sede e também fazer passar mensagens
da divisão europeia junto da sede. Uma das minhas maiores
responsabilidades era garantir que na sede americana se entendia
a realidade de mercado europeia. Também tive responsabilidades
na gestão de alguns produtos de grande importância
para a companhia (servidores de grande porte) e que na altura estavam
na fase de encubação. Eu fiz parte do management que
os desenhou e os desenvolveu, tendo anos mais tarde visto a sua
introdução no mercado mas já em Portugal.
Resolvi voltar a Portugal porque havia pouco contacto com a realidade
dos clientes. Falava-se pouco com os clientes e as minhas características
pessoais e profissionais precisam de viver com esse estímulo.
Não sei gerir produtos nem programas se eles estiverem muito
afastados do cliente final. Ele é para mim uma fonte de inspiração
inesgotável. Decidi voltar a Portugal para dirigir o departamento
de marketing como um todo, nas suas várias componentes.
É o que ainda faz.
É o que ainda faço. Se bem que entre esta fase de
regresso e o momento actual muitas outras coisas se sucederam. Estive
em Portugal durante uns anos até ser convidado para gerir
o marketing de três países - Portugal, Espanha e Itália
- que aceitei por ser um desafio importante e permitir conhecer
outras realidades. Mais um tempo se passou e tendo entretanto a
organização mudado dentro da companhia acabei por
ir para Londres para a divisão europeia ter uma função
de management global no âmbito das chamadas parcerias de negócios.
Acabei por estar lá menos tempo do que estava pensado inicialmente
por motivos familiares. Voltei à base e passei a gerir o
marketing de Portugal e Espanha. Passei a tratar Lisboa e Madrid
como duas salas diferentes dentro da minha responsabilidade. E é
aí que estou neste momento.
No que é que consiste ser um director
de marketing dentro da Unisys?
Tenho uma visão do marketing muito abrangente. Encaro-o como
uma disciplina de desenvolvimento de negócios. Criação
de condições internas e externas no sentido de desenvolver
negócios. Entender o mercado, ser capaz de segmentá-lo
entender os seus requisitos e conhecer o comportamento dos agentes,
saber como e quando é que se compra e depois criar condições
para que as acções que desenvolvemos encaixem nas
necessidades dos nossos clientes. A minha responsabilidade é
garantir que entendemos o mercado, isto é, o conjunto de
potenciais clientes. Em 1999 eu considerei que corríamos
algum risco se não estivéssemos muito atentos ao desenvolvimento
das novas forças e protagonistas de mercado. E então
quis criar um programa que nos permitisse exactamente estar mais
perto e é ai que fui criar o programa EAAM (Estar
Atento Ao Mercado). Quis garantir que dentro
de casa, os gestores de topo estavam todos ao mesmo nível
de informação, estavam a par das grandes discussões
dos actuais e potenciais clientes.Lancei este programa com a preocupação
de entender o mercado.
No marketing o que é que lhe dá
mais prazer?
Acompanhar o mercado é uma das coisas que me satisfaz muito.
E o entendimento do mercado passa por uma relação
pessoal. Gosto de me relacionar, gosto de me actualizar e aprender.
Tenho gosto em tentar identificar novas oportunidades, procurar
coisas que sejam diferentes e que se possam lançar como desenvolvimento
de negócio. A rotina diz-me pouco.
Qual é que acha que é o perfil
ideal de um profissional nesta área?
Gosto de pessoas com dinamismo, criativas e que sejam capazes de
dentro de muitas ideias descobrir qual é a que vale a pena
levar à prática. O conhecimento da realidade é
fundamental. Gosto de pessoas com os pés assentes na terra
e que conheçam a realidade. Que tenham uma grande capacidade
de iniciativa e de integração de interesses.
Qual considera ter sido o ponto alto da sua
carreira?
Os assignments internacionais sempre foram muito importantes. Primeiro
porque tive imenso gosto, permitiu-me desenvolver profissionalmente
e depois porque corresponderam a um acreditar da companhia em que
nós podemos fazer coisas para além do nosso horizonte.
E or portugueses nesta situação têm sempre uma
boa performance.
Qual é a sua maior ambição
profissional?
Liderar e gerir equipas no âmbito de projectos profissionais
alargados e com sentido de liderança do mercado. Responsabilidades
internacionais? Parece que vou viver sempre com elas!
SW