Carreiras

Luís Deveza



01.01.2000



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"A rotina diz-me pouco"

Estados Unidos, Espanha, Itália ou Inglaterra fazem parte do currículo de Luís Deveza, director de marketing da Unisys em Portugal. Adora o que faz pelo relacionamento humano e porque considera o cliente como uma fonte de inspiração inesgotável

Como é se desenrolou o seu percurso académico?
Eu sou de Moçambique, tendo feito lá toda a minha carreira escolar, nomeadamente na Faculdade de Economia na Universidade que na altura se chamava de Lourenço Marques e hoje em dia se chama Eduardo Mondelhane. Fiz até ao quinto ano. Depois na altura dos problemas da descolonização tive que vir a correr para Portugal e acabei por não terminar nessa altura o curso porque tive problemas com a transferência curricular. Quando vim para Portugal, porque também já trabalhava em Moçambique, optei por entrar de imediato numa carreira profissional porque tinha muita apetência por pôr as mãos nalguma obra. De não esquecer que na altura o ambiente académico era muito confuso, estávamos em 77. E eu aí preferi claramente enveredar pela parte profissional.

Quando é que teve o seu primeiro emprego?
Eu tenho o meu primeiro emprego ainda em Moçambique. Aliás, eu vou citar dois. Um na Rádio Clube de Moçambique onde tive carteira de jornalista. Fazia vários programas de rádio. E depois, um emprego mais sério e mais a ver com o meu percurso académico. Fui para a DETA, que eram as linhas aéreas de Moçambique, que hoje se chamam LAM. Fui para o gabinete de estudos e depois fui dirigir a chamada contabilidade de tráfego. Na verdade este foi o primeiro emprego a sério, emprego esse que deixei quando vim para Portugal. Estive na Rádio Clube um ano e na DETA um ano e seis meses.

Chegado a Portugal, optou logo por um emprego na área do marketing ou começou por outra área?
O primeiro interesse, na verdade, foi pela área das novas tecnologias. Quando eu estava na DETA, em Moçambique, tive que fazer acordos com a TAP, nomeadamente um na área da contabilização das operações de vendas. Por curiosidade e por relacionamento com o menagement da TAP na altura, tentei conhecer melhor como é que se faziam cá as mesmas coisas de um modo mais informatizado do que eu fazia na DETA. Isso despertou-me algum interesse para que levasse avante um projecto semelhante que acabou por não se concretizar na época. Quando vim para Portugal quis seguir essa chama de perceber e trabalhar melhor a informatização dos serviços. Comecei por tirar vários cursos na área da análise e da programação ao mesmo tempo que procurava emprego. Acabei por entrar numa empresa de nome Burroughs, que era na altura uma das empresas informáticas líderes mundiais e tinha uma representação importante em Portugal. O meu primeiro percurso profissional é muito na área da orientação tecnológica, embora tenha entrado para a área comercial fundamentalmente para a venda de pacotes de software. Tinha que entender não só a função que esses pacotes tinham nas empresas como também entender toda a tecnologia que servia de infraestrutura a essas soluções.

Dentro da Burroughs como é que se desenvolve o seu percurso?
Após este percurso na área comercial acabei, e porque ganhei interesse pela parte tecnológica, por passar a engenheiro de sistemas no departamento de suporte. Aí desenhava as soluções, instalava-as nos clientes e ainda lhes dava suporte. Uma função claramente mais técnica. E assim estive mais uns anos. Nessa altura desperta-me o gosto por tentar perceber o que o cliente queria, convencê-lo com argumentos tecnológicos que as nossas soluções eram boas soluções e iam ao encontro das suas necessidades. Esta integração da oferta e da procura começou a despertar-me mais interesse na minha carreira, sendo que isto sucede na altura em que se dá a fusão da Burroughs com uma outra de nome Sperry que também estava presente em Portugal e que também era líder mundial, formando a nova companhia que passou a ter o novo nome de Unisys. Quando passo a pertencer à Unisys começam logo a adivinhar-se oportunidades para uma carreira dentro do departamento de marketing que eu agarro, passando a dirigir uma das suas áreas de produtos.

Na Unisys toma o gosto pelo marketing. E depois?
Tomo o gosto pelo marketing e nessa altura a Unisys, como empresa multinacional, tinha muita exposição ao mercado. Tínhamos clientes importantes que claramente lideravam uma ligação à empresa que nos obrigava a desenvolver profissionalmente e, por outro lado, tínhamos uma grande exposição em termos internacionais com subsidiárias em quase todos os países do mundo. A minha evolução nas várias empresas acaba por, sem ter sido planeado assim, ter sempre um ciclo de três anos a fazer determinado projecto. O primeiro projecto novo que surge após alguns anos de fusão foi a oportunidade de ir trabalhar para a sede nos Estados Unidos tendo como responsabilidade a gestão do interface entre a sede e a divisão europeia.

Tinha que defender junto da divisão europeia as orientações estratégicas da sede e também fazer passar mensagens da divisão europeia junto da sede. Uma das minhas maiores responsabilidades era garantir que na sede americana se entendia a realidade de mercado europeia. Também tive responsabilidades na gestão de alguns produtos de grande importância para a companhia (servidores de grande porte) e que na altura estavam na fase de encubação. Eu fiz parte do management que os desenhou e os desenvolveu, tendo anos mais tarde visto a sua introdução no mercado mas já em Portugal.

Resolvi voltar a Portugal porque havia pouco contacto com a realidade dos clientes. Falava-se pouco com os clientes e as minhas características pessoais e profissionais precisam de viver com esse estímulo. Não sei gerir produtos nem programas se eles estiverem muito afastados do cliente final. Ele é para mim uma fonte de inspiração inesgotável. Decidi voltar a Portugal para dirigir o departamento de marketing como um todo, nas suas várias componentes.

É o que ainda faz.
É o que ainda faço. Se bem que entre esta fase de regresso e o momento actual muitas outras coisas se sucederam. Estive em Portugal durante uns anos até ser convidado para gerir o marketing de três países - Portugal, Espanha e Itália - que aceitei por ser um desafio importante e permitir conhecer outras realidades. Mais um tempo se passou e tendo entretanto a organização mudado dentro da companhia acabei por ir para Londres para a divisão europeia ter uma função de management global no âmbito das chamadas parcerias de negócios. Acabei por estar lá menos tempo do que estava pensado inicialmente por motivos familiares. Voltei à base e passei a gerir o marketing de Portugal e Espanha. Passei a tratar Lisboa e Madrid como duas salas diferentes dentro da minha responsabilidade. E é aí que estou neste momento.

No que é que consiste ser um director de marketing dentro da Unisys?
Tenho uma visão do marketing muito abrangente. Encaro-o como uma disciplina de desenvolvimento de negócios. Criação de condições internas e externas no sentido de desenvolver negócios. Entender o mercado, ser capaz de segmentá-lo entender os seus requisitos e conhecer o comportamento dos agentes, saber como e quando é que se compra e depois criar condições para que as acções que desenvolvemos encaixem nas necessidades dos nossos clientes. A minha responsabilidade é garantir que entendemos o mercado, isto é, o conjunto de potenciais clientes. Em 1999 eu considerei que corríamos algum risco se não estivéssemos muito atentos ao desenvolvimento das novas forças e protagonistas de mercado. E então quis criar um programa que nos permitisse exactamente estar mais perto e é ai que fui criar o programa EAAM (Estar Atento Ao Mercado). Quis garantir que dentro de casa, os gestores de topo estavam todos ao mesmo nível de informação, estavam a par das grandes discussões dos actuais e potenciais clientes.Lancei este programa com a preocupação de entender o mercado.

No marketing o que é que lhe dá mais prazer?
Acompanhar o mercado é uma das coisas que me satisfaz muito. E o entendimento do mercado passa por uma relação pessoal. Gosto de me relacionar, gosto de me actualizar e aprender. Tenho gosto em tentar identificar novas oportunidades, procurar coisas que sejam diferentes e que se possam lançar como desenvolvimento de negócio. A rotina diz-me pouco.

Qual é que acha que é o perfil ideal de um profissional nesta área?
Gosto de pessoas com dinamismo, criativas e que sejam capazes de dentro de muitas ideias descobrir qual é a que vale a pena levar à prática. O conhecimento da realidade é fundamental. Gosto de pessoas com os pés assentes na terra e que conheçam a realidade. Que tenham uma grande capacidade de iniciativa e de integração de interesses.

Qual considera ter sido o ponto alto da sua carreira?
Os assignments internacionais sempre foram muito importantes. Primeiro porque tive imenso gosto, permitiu-me desenvolver profissionalmente e depois porque corresponderam a um acreditar da companhia em que nós podemos fazer coisas para além do nosso horizonte. E or portugueses nesta situação têm sempre uma boa performance.

Qual é a sua maior ambição profissional?
Liderar e gerir equipas no âmbito de projectos profissionais alargados e com sentido de liderança do mercado. Responsabilidades internacionais? Parece que vou viver sempre com elas!


SW

 






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