Diversão: A palavra chave da publicidade
Criatividade, talento, empenho, ser feliz
no que se está a fazer e divertir-se com isso. É o
que Judite Mota, actual directora criativa da agência Bates,
acha mais importante para ter sucesso, seja em que profissão
for. Diz que tudo lhe aconteceu por acaso e que só teve de
escolher os caminhos certos. Queria ser bailarina, mas o destino
fê-la dançar para o mundo da publicidade, onde hoje
se sente plenamente realizada.
Qual a sua formação académica
e percurso profissional?
Tirei Comunicação Social na Universidade Técnica
de Lisboa e depois tive muito más impressões do jornalismo
vindas de colegas meus. Comecei a pensar se iria ser persistente
e seguir jornalismo ou se iria ingressar por outra área.
Quando estava a acabar o curso, soube que havia um lugar de estagiária
numa agência de publicidade e entrei para lá. Ao fim
de três meses fizeram-me um contrato e descobri que era o
que eu gostava de fazer. Fiquei mais ou menos um ano na BBDO e depois
fui convidada para ir para outra agência, onde fiquei três
anos. Mais tarde fui para a Young & Rubicam, onde fiquei menos
de um ano, e estive ainda na Nova Publicidade, que comecei de raiz,
na construção do departamento criativo e foi um desafio.
Soube depois que veio a tornar-se numa óptima multinacional.
O que acha que é fundamental
para formar uma agência?
Pessoas. Pessoas empenhadas, com talento. Eu quando era pequena
queria ser bailarina, fiz o conservatório de dança
clássica, e aí percebi que não podia, que tinha
de desistir porque não dava. Chorei noites a fio mas tive
de me conformar.
O que é que mais aprecia na sua profissão?
Ser diferente todos os dias. Ter ideias, divertir-me, inventar coisas.
Nós divertimo-nos pelo menos 50% do tempo e isso é
excelente. Exercer a criatividade é fantástico!
Trabalha mais com que tipo de produtos?
Com todo o tipo de produtos mas normalmente são mais serviços,
empresas de telecomunicações, automóveis, bancos,
empresas de crédito.
Fazemos publicidade para todos os meios em geral. Os nossos principais
clientes são o BBVA, Unibanco, Rover, ganhámos recentemente
a Oniway, mas ainda não fizemos nada para eles, e temos ainda
o bacalhau da Noruega. E muitos mais.
O mundo da publicidade está muito competitivo
ou já foi mais?
Está muito competitivo, está a atrair muita gente.
Nos anos 80 a publicidade cresceu de uma maneira até fora
do normal, as pessoas ganhavam balúrdios, havia dinheiro
a rodos, os clientes inclusivamente gastavam um balúrdio.
Agora atravessamos um tempo de recessão, e é em tempos
como estes que a criatividade acaba por ter de se mostrar mais.
Quando há dinheiro é fácil fazer uma coisa
e toda a gente ver, está tudo sempre bem. Quando há
pouco dinheiro e os budgets são reduzidos, a campanha tem
de ser muito forte e ter impacto com os poucos recursos que se tem.
É claro que é mais difícil mas também
é um desafio maior. A criatividade é fundamental nestas
alturas.
Qual a sua maior ambição profissional?
Eu nunca tive ambições, tudo foi acontecendo muito
por acaso. Conscientemente nunca pensei "agora vou ser directora
criativa", simplesmente vão-me aparecendo os caminhos
e eu vou escolhendo. Felizmente, tenho seguido o caminho certo.
Tenho tomado as decisões certas, acho eu. Neste momento a
minha grande ambição é não precisar
de fazer nada, quando chegar a esse ponto estou realizada. Sou imediatista
e muito intuitiva. Eu sei que há pessoas que constroem a
sua carreira mentalmente, são muito metódicas, muito
mais racionais do que eu. A diversão é necessária.
Se eu estou a criar e não estou a divertir-me, ainda que
esteja a escrever um texto triste, é sinal que não
estou empenhada e o trabalho não vai sair bem, porque se
não estou a gostar de o fazer nem estou entusiasmada é
porque a ideia não é a melhor e dessa forma a mensagem
que passará para o público não vai ter grande
sucesso.
Quais as características principais que os criativos devem
ter?
Espero sempre que eles fujam ao óbvio, principalmente os
mais jovens. Quando as pessoas estão a começar tendem
a fugir para o cliché, para aquilo que já ouviram
nalgum sitio e é fácil porque está na cabeça
deles e às vezes até resulta porque as outras pessoas
até já ouviram e portanto faz-lhes sentido, e isso
é uma armadilha terrível. Tem que haver abertura de
espírito e saber olhar à volta, para a realidade e
nunca para o umbigo.
O que é para si uma boa ideia?
Deve ter um objectivo muito comercial, atingir o objectivo definido
à partida, o vender mais produto ou aumentar a notoriedade
do produto. Uma boa ideia deve ser simples e relevante para o produto
ou serviço, para fazer as pessoas falar nela no dia seguinte.
"Tou chim...é para mim" toda a gente repetia por
aí no dia seguinte, pertence aos grandes clássicos
da publicidade portuguesa, e é precisamente isso que se pretende.
Agora é cada vez mais difícil conseguir esse objectivo
porque há cada vez mais publicidade, mas é isso que
devemos procurar.
Quais considera serem os pontos mais altos
da sua carreira?
Não sei (risos). Ter recebido uma chamada da Young &
Rubicam naquela altura foi super importante. A publicidade é
um mercado em que se roda muito e eu sou das mais infiéis,
estive mesmo em muitas agências. Em todas, quando eu lá
estava, era a que eu gostava mais, porque se não estou a
gostar vou-me embora. A publicidade estimula as pessoas a porem
o melhor delas cá para fora e isso é maravilhoso!
Não basta ver os canais portugueses, é importante
sim, ver o que se passa no mundo...Faz falta. Diversão é
a palavra chave da publicidade, o ingrediente mais importante. Deitar
cá para fora ideias saborosas, porque se libertam ideias
que se imagina serem impossíveis, é delicioso!
AF