Carreiras

Diversão: A Palavra Chave da Publicidade



01.01.2000



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Diversão: A palavra chave da publicidade

Criatividade, talento, empenho, ser feliz no que se está a fazer e divertir-se com isso. É o que Judite Mota, actual directora criativa da agência Bates, acha mais importante para ter sucesso, seja em que profissão for. Diz que tudo lhe aconteceu por acaso e que só teve de escolher os caminhos certos. Queria ser bailarina, mas o destino fê-la dançar para o mundo da publicidade, onde hoje se sente plenamente realizada.

Qual a sua formação académica e percurso profissional?
Tirei Comunicação Social na Universidade Técnica de Lisboa e depois tive muito más impressões do jornalismo vindas de colegas meus. Comecei a pensar se iria ser persistente e seguir jornalismo ou se iria ingressar por outra área. Quando estava a acabar o curso, soube que havia um lugar de estagiária numa agência de publicidade e entrei para lá. Ao fim de três meses fizeram-me um contrato e descobri que era o que eu gostava de fazer. Fiquei mais ou menos um ano na BBDO e depois fui convidada para ir para outra agência, onde fiquei três anos. Mais tarde fui para a Young & Rubicam, onde fiquei menos de um ano, e estive ainda na Nova Publicidade, que comecei de raiz, na construção do departamento criativo e foi um desafio. Soube depois que veio a tornar-se numa óptima multinacional.

O que acha que é fundamental para formar uma agência?
Pessoas. Pessoas empenhadas, com talento. Eu quando era pequena queria ser bailarina, fiz o conservatório de dança clássica, e aí percebi que não podia, que tinha de desistir porque não dava. Chorei noites a fio mas tive de me conformar.

O que é que mais aprecia na sua profissão?
Ser diferente todos os dias. Ter ideias, divertir-me, inventar coisas.
Nós divertimo-nos pelo menos 50% do tempo e isso é excelente. Exercer a criatividade é fantástico!

Trabalha mais com que tipo de produtos?
Com todo o tipo de produtos mas normalmente são mais serviços, empresas de telecomunicações, automóveis, bancos, empresas de crédito.
Fazemos publicidade para todos os meios em geral. Os nossos principais clientes são o BBVA, Unibanco, Rover, ganhámos recentemente a Oniway, mas ainda não fizemos nada para eles, e temos ainda o bacalhau da Noruega. E muitos mais.

O mundo da publicidade está muito competitivo ou já foi mais?
Está muito competitivo, está a atrair muita gente. Nos anos 80 a publicidade cresceu de uma maneira até fora do normal, as pessoas ganhavam balúrdios, havia dinheiro a rodos, os clientes inclusivamente gastavam um balúrdio. Agora atravessamos um tempo de recessão, e é em tempos como estes que a criatividade acaba por ter de se mostrar mais. Quando há dinheiro é fácil fazer uma coisa e toda a gente ver, está tudo sempre bem. Quando há pouco dinheiro e os budgets são reduzidos, a campanha tem de ser muito forte e ter impacto com os poucos recursos que se tem. É claro que é mais difícil mas também é um desafio maior. A criatividade é fundamental nestas alturas.


Qual a sua maior ambição profissional?
Eu nunca tive ambições, tudo foi acontecendo muito por acaso. Conscientemente nunca pensei "agora vou ser directora criativa", simplesmente vão-me aparecendo os caminhos e eu vou escolhendo. Felizmente, tenho seguido o caminho certo. Tenho tomado as decisões certas, acho eu. Neste momento a minha grande ambição é não precisar de fazer nada, quando chegar a esse ponto estou realizada. Sou imediatista e muito intuitiva. Eu sei que há pessoas que constroem a sua carreira mentalmente, são muito metódicas, muito mais racionais do que eu. A diversão é necessária.
Se eu estou a criar e não estou a divertir-me, ainda que esteja a escrever um texto triste, é sinal que não estou empenhada e o trabalho não vai sair bem, porque se não estou a gostar de o fazer nem estou entusiasmada é porque a ideia não é a melhor e dessa forma a mensagem que passará para o público não vai ter grande sucesso.


Quais as características principais que os criativos devem ter?
Espero sempre que eles fujam ao óbvio, principalmente os mais jovens. Quando as pessoas estão a começar tendem a fugir para o cliché, para aquilo que já ouviram nalgum sitio e é fácil porque está na cabeça deles e às vezes até resulta porque as outras pessoas até já ouviram e portanto faz-lhes sentido, e isso é uma armadilha terrível. Tem que haver abertura de espírito e saber olhar à volta, para a realidade e nunca para o umbigo.

O que é para si uma boa ideia?
Deve ter um objectivo muito comercial, atingir o objectivo definido à partida, o vender mais produto ou aumentar a notoriedade do produto. Uma boa ideia deve ser simples e relevante para o produto ou serviço, para fazer as pessoas falar nela no dia seguinte. "Tou chim...é para mim" toda a gente repetia por aí no dia seguinte, pertence aos grandes clássicos da publicidade portuguesa, e é precisamente isso que se pretende. Agora é cada vez mais difícil conseguir esse objectivo porque há cada vez mais publicidade, mas é isso que devemos procurar.

Quais considera serem os pontos mais altos da sua carreira?
Não sei (risos). Ter recebido uma chamada da Young & Rubicam naquela altura foi super importante. A publicidade é um mercado em que se roda muito e eu sou das mais infiéis, estive mesmo em muitas agências. Em todas, quando eu lá estava, era a que eu gostava mais, porque se não estou a gostar vou-me embora. A publicidade estimula as pessoas a porem o melhor delas cá para fora e isso é maravilhoso! Não basta ver os canais portugueses, é importante sim, ver o que se passa no mundo...Faz falta. Diversão é a palavra chave da publicidade, o ingrediente mais importante. Deitar cá para fora ideias saborosas, porque se libertam ideias que se imagina serem impossíveis, é delicioso!

AF

 






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