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Human Capital: uma expressão actual do nosso futuro



01.01.2000



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Human Capital : uma expressão actual do nosso futuro

Nuno Nogueira

Compreender e traduzir o conceito de "human capital" é determinante na percepção que podemos ter do potencial humano subjacente e intrínseco ao indivíduo, per se e no contexto social em que se insere.

Inicialmente e do ponto de vista económico o capital humano consubstanciava-se, na teoria dominante, na expressão "força de trabalho" não sendo objecto de estudo próprio nem de autonomia relevante no pensamento económico e social. Na verdade, apenas se falava e teorizava sobre a força de trabalho e esta enquadrada no estudo dos factores produtivos enquanto elementos da função produção e como tal como um bem homogéneo e objecto de transacção.

Foi Arthur Cecil Pigou que introduziu inicialmente o conceito quando referiu que "There is such a thing as investment in human capital as well as investment in material capital. So soon as this is recognised, the distinction between economy in consumption and economy in investment becomes blurred. For, up to a point, consumption is investment in personal productive capacity. This is specially important in connection with children: to reduce unduly expenditure on their consumption may greatly lower their efficiency in after-life." (Pigou, 1928, "A Study in Public Finance", p. 29).

Não deixa de ser curiosa a ideia de que o consumo não é algo que se perde por inteiro no âmbito e cômputo geral da economia e da sociedade, mas que se transforma, traduzindo-se em investimento - especialmente quando aplicado em bens que potenciem o crescimento intelectual e científico dos "consumidores" em causa. Neste contexto, não existe em si diferença entre consumo e investimento mas sim entre diferentes tipos de investimento: investimento em capital humano e investimento em capital físico / material.

No neoclassicismo, Jacob Mincer foi pioneiro na introdução do termo, seguindo-se Gary Bechker da Escola de Chicago. Bechker com o seu livro intitulado Human Capital, publicado em 1964, tornou-se uma referência durante muitos anos. Na perspectiva então publicada, o capital humano era considerado similar a outros factores físicos de produção, tal como máquinas, advogando-se que se podia investir em capital humano (via educação, formação, tratamento médico) e perspectivar que a rentabilidade global do investimento global dependeria em parte do investimento realizado em capital humano.

Marx abordou também o termo no seu artigo "The Emancipation Question", em 1859, no New-York Daily Tribune, segundo o qual e no contexto do capitalismo, existe uma troca entre a força de trabalho proporcionada pelos trabalhadores e os salários por estes recebidos e uma diferença clara entre a capacidade de determinado individuo para trabalhar (aquilo a que pode chamar a sua força de trabalho) e a sua prática de trabalho.

Na perspectiva de Marx, um trabalhador livre não pode vender capital humano em troca de remuneração, pelo que human capital não é tangível nesse sentido. Mesmo um escravo, cujo capital humano pode ser vendível, não obtém uma remuneração própria para ele próprio, mas sim para o seu "proprietário". No contexto do capitalismo, para obter rendimento, o trabalhador tem de concordar com as condições de trabalho (incluindo obediência a certas regras) de um empregador que o pretenda contratar durante um determinado período de tempo. Embora o capital humano represente para o trabalhador determinado benefícios não o liberta de estar dependente dessa relação laboral no sentido de assegurar a sua sobrevivência.

Actualmente a realidade social e económica em que se enquadra o conceito de capital humano reflecte as diferentes perspectivas em que o mesmo foi teoricamente trabalhado e contextualizado.

Efectivamente existe uma relação laboral que implica determinadas relações de dependência entre os indivíduos que exercem determinada profissão e colocam em prática, pelo menos parcialmente, o seu capital humano. Certo é também que essa prática reflecte determinada remuneração que se consubstancia como a rentabilidade materializável obtida pelo indivíduo pelo exercício parcial do seu capital humano e do investimento que previamente terá realizado. Nas relações comerciais entre empresas existem idênticas relações de dependência entre fornecedores e clientes que não impedem a obtenção de maiores ou menores rentabilidades económicas consoante os investimentos realizados por ambas as partes.

Assim, actualmente, as teorias económicas e sociais reflectem um conceito de capital humano infinitamente que inclui variáveis não mensuráveis e de difícil definição tais como o carácter pessoal do individuo, o seu "eu" intrínseco, a sua personalidade indecifrável a priori, apenas visível nas suas atitudes e comportamentos ou até o seu background familiar e social e outras variáveis materializáveis tais como o stock de activos, técnicas e competências adquiridas pelos indivíduos durante um determinado período de tempo ao longo de toda a sua vida.

É esse conjunto de variáveis que permite a obtenção de determinado fluxo de rendimentos que é comparável ao rendimento obtível com investimentos em outros activos.






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