Vontade de vencer
Ricardo Castanheira é deputado eleito
pelo círculo eleitoral de Coimbra, pelo que é membro de
inúmeras comissões parlamentares, tais como da Educação,
Ciência, Cultura e da Juventude.
Se é jovem e quer enveredar pela
política, veja este exemplo!
Entre as suas múltiplas
funções contam-se ser Deputado à Assembleia Parlamentar
da NATO, membro do "East West Parliamentary Practice Project",
porta-voz do partido socialista na Assembleia Municipal de Arganil, além
de secretário do grupo parlamentar Portugal/Estados Unidos. É
ainda membro da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais,
Direitos, Liberdades e Garantias, da Comissão eventual de acompanhamento
da situação em Timor Leste, da Comissão de acompanhamento
e fiscalização do EURO 2004, além de Presidente do
Conselho Nacional da Associação Nacional de Jovens Advogados
Portugueses, entre muitas outras funções.
Tudo isto com apenas 28 anos. Digam lá se não é vontade
de vencer?
Expresso Emprego: Qual
é a sua formação académica e percurso profissional?
Ricardo Castanheira: Tenho uma Licenciatura em Direito, ramo Jurídico
- Económico, pela Faculdade
De Direito da Universidade de Coimbra e exerço na mesma cidade.
Sou também Professor Auxiliar Convidado da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa, na Licenciatura de Ciência
Política (disciplina de Direito Político-Constitucional
do 2º ano).
EE: Como
começou o seu percurso profissional?
RC: Foi em parte por influência familiar. Houve em mim um
despertar para a política. Desde sempre fui militante do partido
socialista, com a idade mínima possível, com apenas 14 anos,
já tinha uma actividade partidária singela.
Tudo o que são órgãos de estrutura partidária
eu fiz parte e hoje faço também parte, por exemplo, da comissão
política do partido socialista, e da comissão política
nacional. Algo que me preocupa é a relação que se
deteriorou ao longo dos anos, entre aqueles que são titulares de
cargos públicos e a população em geral.
Às vezes acho que se vive um pouco de costas voltadas quando se
deveria apostar fundamentalmente nessa relação porque a
política serve para servir os interesses dos cidadãos.
EE: Dentro
das funções que desempenha como deputado o que é
que mais lhe agrada fazer?
RC: O deputado é um representante da nação
e eu tenho tido a preocupação de preservação
de uma proximidade que me parece não só necessária
como útil daqueles aos quais a política se dirige. Apercebo-me
de certos problemas de administração pública, órgãos
descentralizados.
Por outro lado, tenho a felicidade de ter duas actividades perfeitamente
complementares. Ser advogado e ser deputado é muito gratificante
e adoro o desempenho de cada uma.
EE:Como
deputado o que é que menos lhe agrada?
RC: Há uma morosidade processual, há algumas coisas
que considero castradoras.
Há convicções que podem ferir o equilíbrio
parlamentar, a que nós por disciplina partidária estamos
obrigado. Apesar de tudo, o balanço que faço é positivo
porque o exercício da política e dos mandatos políticos
requerem alguma presença de espírito, alguma liberdade e
arejamento, aspectos necessários na minha vida.
EE: Existe
algum país da comunidade europeia que considere um exemplo político
a seguir?
RC: Não considero que exista um arquétipo político
para Portugal, cuja Constituição por exemplo é das
mais avançadas e equilibradas do mundo, no entanto penso que dos
vários países europeus se podem retirar algumas notas relevantes.
A França anda sempre adiantada em relação às
grandes questões polémicas e sociais, preocupações
clássicas de intervenção do estado. Nos países
nórdicos, confesso uma atracção, que subsiste, pela
ideia sempre presente de um Estado-Social onde as medidas de solidariedade
têm forte importância. Em França assistimos sempre
por avanço aos grandes debates de ideias, foi assim com o papel
das mulheres na política e com a limitação dos mandatos,
por exemplo. Na Alemanha deve retirar-se o rigor económico e financeiro
e na Holanda a forma descomplexada e sem preconceitos com que tomam decisões,
cujo alcance, apenas mais tarde a restante "velha-Europa" vislumbra.
EE: Quais
as áreas que considera necessitarem de uma intervenção
política mais urgente em Portugal?
RC: Como áreas políticas prioritárias, e não
significa que tal diagnóstico não esteja já feito
e as respectivas medidas em curso, considero: a preparação
social, das famílias às empresas, para as novas tecnologias
cuja utilização, ou não, passarão a ditar
os novos critérios de produtividade, de crescimento, de adaptação
funcional e, em suma, de modernização. A formação
profissional contínua da população activa portuguesa
e a preservação/incremento dos "clusters" nacionais
vão permitir neste mundo globalizado a afirmação
da nossa identidade histórica, linguística e económico-social.
EE: Que
papel devem desempenhar os políticos em alturas de crise?
RC: Hoje a organização do trabalho tem repercussões
ao nível da organização social e o que se passa é
que apesar de tendermos a especializarmo-nos, os desafios não são
os mesmos, porque temos ao mesmo tempo de ter uma cultura abrangente,
de modo a nos valorizarmos.
Em certas alturas há sinais de preocupação, como
agora, mas eu penso que o que aconteceu não é tão
alarmista para Portugal como a preocupação sentida no último
ano do mandato do professor Cavaco Silva.
Há alguns sinais de preocupação, de algum ressentimento
da economia, mas deve-se tentar pensar em soluções. Principalmente
os jovens devem ter uma consciência política com essas preocupações,
sendo optimistas e procurando soluções para as coisas, em
vez de nos lamentarmos e dizermos que estamos em crise.
A atitude política ou dos próprios cidadãos deve
ser superar a crise e conseguir projectar através de investimentos
públicos, a própria economia nacional.
EE: Se
não fosse deputado que outra profissão escolheria?
RC: Quando era muito pequeno penso que pensei em ser médico,
pelo facto de ser uma profissão em que provavelmente todas as crianças
pensam no sentido de ajudarem
os outros.
AF