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O segredo do sucesso



01.01.2000



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O segredo do sucesso

Nuno Tiago apostou na determinação e à segunda foi de vez: venceu a gala Novos Talentos Optimus, na qual conquistara já, há um ano, o segundo lugar.
Com apenas 25 anos, este estilista trabalha 15 horas por dia porque diz ser esse o segredo do seu sucesso. Nuno Tiago vai apresentar a sua colecção no próximo Portugal Fashion.



Expressoemprego: Como foi a sua formação académica e percurso profissional?

Nuno Tiago: Fiz o curso no CIVEC, Centro de Formação Profissional da Indústria de Vestuário e Confecção, e ainda durante o curso comecei a concorrer a determinado tipo de concursos. A partir do segundo ano fui seleccionado para vários concursos importantes de moda e comecei a ganhar prémios e protagonismo, o que me deu mais incentivo para continuar. Foi uma rampa de lançamento.
Fiz o meu estágio com um óptimo estilista do Porto, que é o Miguel Vieira. Estive lá três meses e foi excelente. Fiquei a saber como ele trabalhava, tanto a nível criativo como a nível empresarial. É daqueles casos da moda portuguesa que sempre tive curiosidade de conhecer por dentro, porque está muito ligado à indústria e por vezes precisamos do apoio dela para termos uma média difusão, já que em geral trabalhamos para nichos de mercado.
Depois do estágio comecei logo a participar em concursos que me ocuparam o tempo todo. Concorri com seis coordenados (fatos) que demoram quase tanto tempo a fazer como uma colecção normal, porque as ideias são tão originais e tão pouco experimentadas, que se torna difícil, tanto a nível modelar como de concepção, desenvolver as ideias que foram desenhadas.
Desde que acabei o curso tenho estado a trabalhar por conta própria.

EE: Tem muito jeito para o desenho?

NT: Eu penso que desenho bem porque tenho a mão treinada, não penso que seja uma característica inata em mim, acho que desenho razoavelmente bem.


EE: Como é que surgiu o concurso Novos Talentos Optimus?

NT:
Normalmente este concurso é anunciado pela imprensa de moda, o ano passado pela Máxima, e este ano pela ELLE.
O ano passado eu tinha concorrido e ganho o segundo prémio. Fiquei a um ponto de ganhar o primeiro, o que me deixou desiludido, depois fui um bocado teimoso e isso deu os seus frutos.

EE: Na sequência do concurso teve convites para iniciativas no âmbito da moda?

NT: Em primeiro lugar quero dizer que havia projectos que estavam na minha cabeça que só iria concretizar a médio prazo e o concurso ajudou-me a realizá-los num prazo muito mais curto.
Uma das compensações que tive foi apresentar a minha colecção na próxima edição do Portugal Fashion.
Já participei em montes de concursos, muitas vezes não se ganha nada e é horrível porque uma pessoa fica deprimidíssima.
Se os concursos são bons por um lado, há sempre o reverso da medalha. Põe em causa o nosso trabalho, além de ser dispendioso criar uma colecção para apresentar.



EE: O que gosta mais e menos na sua profissão?

NT: Não há nada que não goste. Eu desenho os modelos e confecciono alguns, há modelos que faço mesmo questão de ser eu a confeccionar porque o grau de dificuldade é grande e muitas vezes as costureiras podem não entender aquilo que eu idealizei.


EE: Quais são os tecidos em que mais gosta de trabalhar?

NT: Trabalho muito com pele e gosto de misturar as peles com chiffon, gosto de misturar tecidos muito caros com tecidos muito rústicos, por exemplo, seda com linho rústico, que apesar de caro parece ser barato, no fundo é fazer uma mistura de valores.


EE: Inspira-se em determinadas épocas para confeccionar os seus tecidos?

NT:
Por norma estamos habituados a trabalhar temas. Quando participo num concurso, primeiro encontro um tema para depois enquadrar o conceito que quero trabalhar e a partir dai desenvolver uma colecção. A colecção vai ter que ter uma coerência.

EE: Acha que o mundo da moda é demasiado competitivo?

NT: Não penso que seja demasiado competitivo porque acho a competição uma coisa muito boa. É o que nos faz evoluir.

EE: Quais são os seus estilistas preferidos?

NT: Eu gosto muito da nova vaga de estilistas belgas, uma escola que surgiu há pouco tempo que apesar de ser muito conceptual tem um ligeiro aroma a Kitch, e ideias muito interessantes e bem desenvolvidas.
Acho muita piada também ao estilo Inglês porque adoro, acho que têm ideias bastante originais e não se preocupam demasiadamente com o que é vendável. São ideias genuínas e eu penso que, acima de tudo, a moda tem que ser genuína.

EE: Qual é o segredo do sucesso profissional?

NT: Muito trabalho, cerca de quinze horas por dia. É raro o dia em que me deite antes das três, quatro, ou cinco da manhã e às dez, dez e meia estou a pé. Neste momento estou num projecto a curto prazo, a montar o meu atelier e a organizar a minha apresentação para o Portugal Fashion.

EE: Não gostaria a médio ou longo prazo de trabalhar no estrangeiro?

NT:
Claro que gostava, mas para nós o mercado internacional é complicado porque a moda em Portugal é muito recente, tem uns vinte anos.
Não é que seja difícil competir, é difícil devido às oportunidades que existem lá fora. Um exemplo são as pessoas que vão aos finais de curso tanto em Paris como em Londres escolher os melhores novos estilistas.
Montam-lhes a empresa, dizem ter x fábricas e x marca e pegam nele e fazem uma marca com o seu nome, o que cá em Portugal não acontece, um jovem criador sobe a pulso pelos seus próprios meios.
Cá ajudam-nos a criar o nosso negócio, lá fora criam-nos o nosso negócio, é diferente, e é por isso que todos os anos em Londres e Paris saem jovens criadores fantásticos.

EE: Qual é a sua maior ambição profissional?

NT: Abrir o meu atelier e loja e apresentar a minha colecção na Moda Lisboa, apesar do Portugal Fashion ter também muita importância para mim, porque vou apresentar a minha colecção lá.

AF






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