Carreiras

- Dr. José Luís Ferreira



01.01.2000



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Dr.José Luís Ferreira

Dr.José Luís Ferreira é um dos responsáveis pela criação da ACTUAL - Academia Tecnológica da Universidade Autónoma de Lisboa.
Pretende que seja um projecto inovador e que traga uma lufada de ar fresco ao panorama da formação em Portugal já que acha que "se deita muito dinheiro fora em coisas que não têm interesse nenhum".


Como é que se desenvolveu o seu percurso académico?


Comecei em Coimbra, onde tirei o curso de engenharia electrotécnica, já há 16 anos. Na altura já estava com os olhos postos na informática e o final do meu curso já foi para aí orientado. Quando acabei ainda não havia Departamento de Engenharia Informática em Coimbra. Foi criado depois o Laboratório de Informática de Sistemas e só mais tarde foi criado o Departamento de Engenharia Informática onde, desde o príncipio, eu estive envolvido.

Fiz toda a minha carreira académica em Coimbra, primeiro no Departamento de Engenharia Electrotécnica e depois no Departamento de Engenharia Informática.

Ao mesmo tempo comecei a ter outras actividades paralelas em projectos fora da Universidade e acabei por ir parar em Lisboa, na Universidade Autónoma, onde comecei por ter apenas uma pequena colaboração esporádica.

Depois de ter concluido o meu mestrado e o meu doutoramento acabei por encontrar aqui esta alternativa como director do Departamento de Ciências e Tecnologias da Universidade Autónoma, onde tenho desenvolvido os meus últimos anos e onde têm aparecido todos estes projectos. Seja a reformulação das licenciaturas, seja o lançamento das pós-graduações, seja aqui na Academia.


Como é que surge a Academia Tecnológica?

Quando eu e o meu colaborador mais próximo, que é o Miguel Gonçalves, entramos aqui há três anos para tomar conta do departamento, foi preciso fazer a reformulação das licenciaturas, enriquecer o corpo docente, investir em parcerias com empresas e organizações, enfim, abrir a Universidade para fora.

No meio desta abertura apareceram-nos relações com parceiros, entre os quais a Oracle, que acabaram por se tornar fundamentais no processo de criação da Academia. O Miguel Gonçalves além de ser meu parceiro e Director-adjunto do Departamento, foi eleito para a presidência da Associação Portuguesa de Oracle. No meio deste seu papel ligado à Oracle acabou por se aperceber que uma coisa muito discutida internamente era a necessidade de formação de quadros médios. Não necessariamente licenciados, mas com especialização em tecnologias de Oracle.

Não existia nenhuma entidade, a não ser a Oracle, a dar essa formação e havia muita apetência no mercado por pessoas com este perfil, com capacidades técnicas mas sem licenciatura e sem as grandes ambições que o licenciado tem. Tinham de ser pessoas que gostam de mexer na técnica. A APO, na altura, propôs-me fazer uma formação e o projecto começou dentro da APO. Simplesmente, rapidamente começaram a perceber que internamente não se conseguiam juntar parceiros suficientes para se gerir uma solução deste género. Começou-se a questionar a necessidade efectiva de ter um parceiro exterior: uma universidade, uma escola.

A Universidade Autónoma surge como a parceira ideal. Surge então o que temos hoje: um modelo de formação que assenta justamemente em parcerias. O que nós estamos a fazer é formar pessoas com o 11º ou o 12º anos e que não entram na Universidade. E as expectativas em relação aos candidatos excederam aquelas que para nós eram as melhores prespectivas.

Como é que têm sido os resultados?

A nível da inserção no mercado de trabalho ainda não podemos avaliar porque começámos em Janeiro e só no final deste ano é que sairão os primeiros formados. Só em Janeiro do ano que vem é que eles vão ser colocados nas empresas. As nossas percepções dos resultados são muito boas. Toda a formação aqui é gratuita e no final tem a certificação técnica das empresas parceiras, que neste momento são a Oracle e a Compact. E é todo este desenho que se montou para cumprir com uma formação técnica mas não só. Também têm inglês, técnicas de comunicação, português. Eles têm um ano de formação aqui mais um ano e meio na empresa. Ao fim de dois anos e meio terão com certeza uma experiência de formação em ambiente efectivo de desenvolvimento de um projecto de trabalho.

Como é que se desenvolve o seu trabalho dentro da Actual?

O meu trabalho está repartido entre a direcção do Departamento de Ciências e Tecnologias, onde tenho a responsabilidade de três cursos, entre as pós-graduações do departamento e a direcção deste projecto. Também dou aulas aqui porque acho que é importante conhecer os alunos e que eles me conheçam.


O que é que mais aprecia naquilo que faz?

Acho que o que mais aprecio é quando algum aluno nos diz que as mudanças que se deram na vida dele nos cabe a nós e, felizmente, já houve alguns que me disseram que foi por minha culpa que escolheram determinada opção. É esse impacto positivo na vida das pessoas e o conseguir apaixoná-las por uma determinada área que eu acho fantástico e faz valer a pena. Por outro lado, também aprecio o facto de lidar constantemente com malta nova. Faz-nos esquecer aquilo para que nos vamos aproximando cada vez mais. Rejuvenesce-nos. E depois também é importante o facto de ir tendo sempre novos desafios.

Quais considera terem sido os pontos altos da sua carreira?

Obviamente há uma fase fundamental para quem segue uma carreira académica, que é o concluir o doutoramemto. Devo confessar que quando acabei o doutoramento ele já não era um desafio, já era qualquer coisa que tinha que ser. Foi um momento importante em termos de carreira, mas foi muito mais interessante, por exemplo, ter começado o trabalho que levou a esta carreira. Um momento muito bom para mim, também, foi ter feito a reestruturação destes cursos. A constituição da Actual também foi extremamente importante. Foi uma pedrada no charco naquilo que é o ambiente da formação em Portugal.

Acha que em Portugal e na área das novas tecnologias, se aposta na formação errada?

Eu acho que se deita muito dinheiro fora em coisas que não têm interesse nenhum. Ainda continua a haver muita falta de critério em termos dos resultados dos cursos.

Qual é a sua maior ambição profissional?

Eu quase que diria libertar-me do trabalho. Gostava de abrandar o meu ritmo de trabalho. Gostava de sentir que o esforço que empreendi colocasse a Universidade Autónoma ao nível de qualquer instituição pública. Ter projectos próprios que não passem pela universidade nem pela formação também é qualquer coisa que pode começar a surgir.


SW






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