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Turismo pouco profissional

A maioria dos cursos de turismo está 'desfocada' do mercado
22.04.2005


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Paula R. Santos

EMPREGADORES, representantes dos trabalhadores e analistas estão de acordo: é urgente apostar na formação da mão-de-obra de um sector que já contribui com 13 mil milhões de euros para o PIB nacional, mas que poderia contribuir com muito mais. O sector é o do turismo, e emprega mais de 500 mil pessoas.

«A formação é o grande calcanhar de Aquiles», aponta Atílio Forte, presidente da Confederação do Turismo Português (CTP), que agrupa todas as entidades empregadoras que actuam nesta área, desde a hotelaria, à restauração, passando pelas agências de viagens e companhias aéreas.

Esta semana, a CTP levou as suas preocupações até ao ministro do Trabalho, Vieira da Silva, e recebeu a garantia de «um forte empenhamento do Governo» na implementação do Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Recursos Humanos no Turismo (ver caixa), adiantou Atílio Forte. Este plano, uma iniciativa da Confederação que conta com o apoio de quatro ministérios (Trabalho, Economia, Ensino Superior e Educação) e das duas centrais sindicais (CGTP e UGT), pretende pôr ordem na formação profissional no espaço de uma década.

Por enquanto, o cenário não é muito animador. «É um sector com muitas carências profissionais. Cada vez há mais pessoas a trabalhar, mas menos formação. E a formação que existe é muito maltratada», critica Rudolfo Caseiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Sul.

Além disso, o excesso de mão-de-obra barata e pouco qualificada acaba por ditar os patamares salariais. «Os poucos profissionais qualificados que vão surgindo, não encontram em Portugal ordenados compatíveis com a sua formação e acabam por partir para o estrangeiro, principalmente para a Alemanha, Suíça ou Inglaterra», refere o sindicalista. «Um cozinheiro profissional, de um hotel de quatro estrelas, em Portugal, ganha em média cerca de 850 euros. No estrangeiro recebe quatro vezes mais, na ordem dos 3.400 euros», exemplifica.

Também Licínio Cunha, investigador e docente da Economia do Turismo, na Universidade Lusófona, destaca o «número insuficiente de profissionais altamente qualificados» nesta área. Isto apesar de existir «um número razoável de cursos - mais precisamente 47 cursos superiores e politécnicos -, mas de qualidade insuficiente», reforça o professor.

«A quase totalidade dos cursos foi concebida, mais por conveniência dos institutos que os criaram, do que em função das necessidades do mercado do trabalho», sublinha Licínio Cunha. Uma ideia reforçada por Atílio Forte, lembrando que uma grande parte das entidades formadoras tem feito «um aproveitamento dos fundos nacionais e da União Europeia», sem olhar às reais carências do sector.

Uma filosofia de gestão de recursos humanos que não se compadece com as actuais exigências do turismo. «A actividade turística está cada vez mais exigente e necessita de pessoas que assumam lugares de gestão qualificada», aponta Licínio Cunha. «As câmaras municipais, por exemplo, que são provavelmente a força mais influente no turismo português, não têm, na sua maioria, pessoas qualificadas nesta área», critica o docente.

Um estudo realizado pelo Centro de Investigações Sociais e Empresariais (CISE) da Universidade Lusófona e coordenado por Licínio Cunha mostra que as motivações dos turistas estrangeiros que visitam Portugal vão além das praias algarvias, existindo muita apetência para o chamado turismo no espaço rural. O inquérito feito a 5.040 visitantes, de dez nacionalidades, à chegada a Portugal, revelou também que a maioria dos turistas tem habilitações académicas de nível superior, o que lhes confere um maior grau de exigência no atendimento e nos serviços prestados.

Joaquim Fernandes lida diariamente com estes turistas «culturalmente ricos», como lhes chama. Há dez anos, o guia turístico trocou o jornalismo pelas paisagens deslumbrantes da Serra da Estrela, que partilha entusiasticamente com grupos de visitantes, essencialmente de Espanha, França e Reino Unido.

«São pessoas com um grande 'background' cultural e que querem descobrir a História de Portugal passeando a pé e embrenhando-se na natureza», conta Joaquim Fernandes, que está em constante formação. Os circuitos pedestres que se prolongam pelas aldeias históricas, leva os turistas a questionar não só aspectos da fauna e flora da região, mas dos monumentos e do ambiente envolvente.

«Em Portugal, a formação que é dada aos profissionais do turismo é muito pobre e não é pertinente. Os turistas não querem saber em detalhe toda a história de um monumento, mas antes inserir o monumento dentro de um contexto», resume Joaquim Fernandes.

Mão-de-Obra mais 'vigiada'

Até 2015, a Confederação do Turismo Português espera que todos os trabalhadores do sector passem a ter carteira profissional. O plano pretende ainda elevar o grau de habilitação mínima para estes profissionais, fixando-o no 12.º ano de escolaridade.

Numa primeira etapa, pretende-se apurar as reais necessidades do mercado ao nível da procura de mão-de-obra qualificada. Parte-se depois, e em termos gerais, para a definição dos perfis profissionais e pela reestruturação e certificação dos cursos técnicos e académicos.





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