Cátia Mateus
NO PRIMEIRO semestre deste ano cerca de 30 mil portugueses
partiram para o estrangeiro em busca de emprego, segundo dados do Instituto
Nacional de Estatística.
A região Norte é uma das zonas do país que maior
"fuga de trabalhadores" registou. Só o distrito
de Braga deixou "escapar" seis mil trabalhadores que
decidiram procurar emprego nas principais cidades europeias.
Mas o mais preocupante é que a situação bracarense
não pára de se agravar. Segundo Adão Mendes, da
União de Sindicatos de Braga (USB), "o distrito regista
neste momento qualquer coisa como 40 mil desempregados, grande parte
deles na faixa etária dos 25 aos 30 anos, com formação
superior".
Uma conjuntura que a curto prazo poderá condenar a região
ao atraso e à perda de competitividade já que "estamos
a deixar fugir a mão-de-obra qualificada".
Cerca de 40 mil desempregados inscritos nos centros de emprego da região,
seis mil dos quais com idades que rondam os 25 anos e aproximadamente
três mil com formação superior, 6600 trabalhadores
com salários em atraso, 220 operários afectados pelos
sucessivos "lay-off" dos últimos tempos, dezenas de
empresas a ameaçar falência e muito poucas perspectivas
de criação de emprego a curto prazo.
Eis o panorama da região de Braga traçado pelo coordenador
da USB. Uma realidade que o responsável classifica de alarmante,
já que "de 2002 para este ano a região assistiu
a um agravamento do desemprego na ordem dos 37 por cento".
Mas para Adão Mendes este não é o único
problema. A verdade é que, a par da elevada taxa de desemprego
que afecta a região, outros problemas se colocam e "o
mês de Agosto agravou bastante a situação",
confessa.
De acordo com dados do sindicato, "existem no distrito de Braga
mais de três mil trabalhadores que não recebem salários
há mais de três meses".
O sector mais afectado é o dos têxteis, mas a dificuldade
de "sobrevivência" parece estender-se a outros
sectores.
O panorama é, para o responsável, tudo menos animador.
Face às imperativas reduções nos custos, as empresas
da região começaram a despedir funcionários, mas
também redefiniram a sua estratégia optando por manter
no activo trabalhadores mais antigos (com idades que rondam os 40 a
45 anos), com menor qualificação mas também com
salários mais reduzidos.
Para Adão Mendes, os resultados não se farão esperar.
Daqui a algum tempo, diz, "teremos um distrito menos competitivo,
com menor capacidade de captação de investimento. Um distrito
que não apostará na inovação nem no desenvolvimento
tecnológico, pois estamos a deixar escapar para o estrangeiro
a nossa mão-de-obra qualificada".
Com os níveis de desemprego a crescer na camada da população
mais jovem, a emigração aparece como a hipótese
mais viável para grande parte daqueles que não conseguem
um lugar no mercado de trabalho bracarense. Entre os destinos de eleição
estão as principais cidades europeias, com grande incidência
no Luxemburgo.
Desemprego de longo prazo?
Todavia, a crise mundial trouxe para a economia bracarense um presente
ainda mais "envenenado".
Registando neste momento os níveis de desemprego mais elevados
dos últimos dez anos, este distrito tem ainda que lidar com uma
conjuntura que parece ter sido agravada pela época balnear.
Os dados apurados pelo sindicato que representa revelam "um
aumento dos salários em atraso e um crescimento do desemprego
com cinco novos casos de despedimentos colectivos".
Só nos meses de Junho e Julho, garante o responsável,
"o valor das prestações mais elevadas pagas pela
Segurança Social de Braga aumentou em 130 por cento",
indiciando o aumento de desemprego entre os trabalhadores qualificados
e por isso mais bem remunerados.
De acordo com Adão Mendes, este agravamento - "sem perspectivas
de resolução a curto prazo" - fez com que muitos
bracarenses encarassem a emigração como uma solução
viável, "aproveitando a presença de emigrantes
seus familiares para atravessar a fronteira em busca de oportunidades
de trabalho".
Segundo dados da USB, "no conjunto dos vários sindicatos
da região contabilizámos, em Agosto, a entrada nas empresas
de 100 cartas de rescisão contratual com objectivos de emigração".
O futuro é, para Adão Mendes, incerto e o responsável
adianta que "ainda vamos esperar muito por uma recuperação.
Há muitas empresas em 'lay-off' que possivelmente não
voltarão a abrir as portas e outras tantas a ameaçar falência
e com grandes dívidas", conclui.