Ruben Eiras
"A moda foi sempre uma face
oculta"
As sete regras de Sara
É VICIADA na criatividade, na liberdade e na busca de experiências
profissionais que a realizem plenamente. É uma apaixonada pela
vertente conceptual da arquitectura e a inovação permanente
da moda.
É Sara Borges, arquitecta, e a mais recente modelo portuguesa que
conquistou as 'passerelles' da conhecida casa de moda italiana Giorgio
Armani.
Nascida em Lisboa, em São Sebastião da Pedreira, há
25 anos, Sara Borges possui um percurso profissional multifacetado, constituído
por três carreiras em simultâneo.
Além de modelo e arquitecta, também já foi atleta
de alta competição de salto em altura no Sporting, o seu
clube do coração. Uma verdadeira "trabalhadora-portefolio",
segundo a cartilha do guru da gestão Charles Handy.
Com efeito, aos 14 anos de idade, já desafiava os limites da gravidade
quando enveredou pelo atletismo de alta competição, na modalidade
de salto em altura. Seguiu a tradição dos pais, que também
foram atletas de alta competição.
Sara Borges refere que "alcançou um sucesso relativo",
tendo que abandonar a modalidade em 2000 por incompatibilidade profissional.
Da actividade desportiva aprendeu a responder à exigência
do cumprimento de metas objectivas e quantificadas, nas quais se baseavam
a avaliação do seu desempenho.
Quando atinge a maioridade, em 1995, entra para o curso de arquitectura
na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.
Apaixonou-se por esta área de conhecimento devido às suas
potencialidades criativas.
"O uso físico e emocional que se pode incutir na concepção
dos objectos atraiu-me. Temos que dar uma resposta específica e
única a cada necessidade, o que implica um constante investimento
a nível conceptual. É isto que me apaixona na arquitectura,
a oportunidade de criar", explica.
O primeiro passo na realização desse sonho deu-o num consórcio
liderado pela Parque Expo, num concurso público para a revitalização
da zona da Margueira, quando finalizou o curso no ano passado. "Foi
um trabalho de equipa muito intenso e um grande desafio", recorda
com satisfação.
É uma admiradora confessa de Peter Eisemen, devido à sua
visão "muito móvel e desreferenciada".
Agrada-lhe a concepção pura. "É um arquitecto
com abordagens muito próprias, sem um 'modus operandi' fixo, que
sabe extravasar os limites conceptuais, mas com qualidade", refere.
"Todas as profissões são dignas"
"Atraiu-me o uso físico e emocional que se pode incutir
nos objectos através da arquitectura.
É isto que me apaixona: ter a oportunidade constante de criar"
Entretanto, foi no decorrer do segundo ano da licenciatura - depois de
muita insistência por parte de uma agência de modelos -, que
Sara Borges entrou, relutante, no mundo da moda.
"Geralmente não tenho muita confiança, possuo algum
receio quando enveredo num novo projecto. Por isso, empenho-me a fundo
no trabalho para minorar as hipóteses de fracasso. Todos nós
somos dotados de apetências e há que potenciá-las
sempre", explica.
Os resultados desta atitude estão à vista: depois das passagens
pela Modalisboa e a Portugal Fashion, Sara Borges fez a sua estreia na
"passerelle" do mercado internacional com um desfile pela Giorgio
Armani em Fevereiro passado.
Não obstante, optou pela discrição. "A moda
para mim foi sempre uma face oculta. Só as pessoas mais íntimas
é que sabiam desta minha actividade", conta.
O maior desafio que enfrentou nesta área de actividade foi a subjectividade
inata à avaliação do seu desempenho. "Estava
muito habituada a metas quantificadas, como as desportivas e as da licenciatura,
em que existe uma relação quase directa entre o empenho
e o resultado alcançado", observa.
Mas no mundo da moda, "uma mulher pode ser muito bonita, ter um
corpo divinal e não transmitir a energia e a fotogenia necessárias
para magnetizar a 'passerelle'. E esse é que foi o grande desafio
para mim nesta profissão, provar que conseguia", salienta.
E para conhecer a outra face deste sector, Sara Borges ainda trabalhou
como assistente da editora de beleza na revista "Lux Woman".
A sua função consistia na organização de contactos
e investigação dos produtos.
"Foi um trabalho que durou apenas dois meses, no Verão.
Não queria estar sem fazer nada durante esta altura e então
disponibilizei-me para ajudar uma amiga que trabalhava nesta revista.
Aprendi competências muito simples, como, por exemplo, falar ao
telefone, mas que são essenciais para uma boa gestão de
carreira".
Todavia, para o meio da moda, Sara Borges, modelo, exercer uma função
deste género, foi visto como "baixar de nível".
Mas o seu ponto de vista sobre o trabalho é bem claro: "Todas
as funções são dignas, desde a trabalhadora de limpeza
até ao director de uma empresa. Todas são necessárias
para a sociedade funcionar".
Embora esteja "viciada" na moda, Sara aposta neste momento
na arquitectura, com o objectivo de adquirir competências técnicas
na área.
Em conjunto com um colega, estão a remodelar um apartamento na
Foz do Porto. Antevê o seu "futuro absoluto" neste
segmento de actividade.
"Sei que é difícil de conseguir oportunidade para
criar, mas porque não hei-de concretizá-lo? As pessoas que
o fizeram são de carne e osso como eu", remata.
As sete regras de Sara
1 - Procurar sempre a excelência e renegar a mediocridade.
Só assim é que se ganha a confiança
2 - Ser bom naquilo que se faz e estar satisfeito com o seu trabalho
3 - Ter a coragem de um dia tentar - afinal o "não"
é sempre garantido
4 - Estar preparado para uma carreira internacional, porque no
estrangeiro existem mais oportunidades de carreira. É preciso saber
adaptar-se a novas cidades e é vantajoso dominar vários
idiomas (Sara Borges domina o inglês, francês, italiano e
espanhol)
5 - O bem-estar emocional é crucial para alcançar
um bom desempenho profissional
6 - Não devemos apostar num só objectivo profissional.
Corre-se
o risco de dispersão, mas enriquecemos o todo em múltiplos
domínios
7 - Não há que recear o trabalho: existem diversas
etapas profissionais a percorrer com brio, todas elas dignas