Cátia Mateus e Fernanda Pedro
Fruto da necessidade económica ou da vontade de conhecer a realidade
laboral, muitos jovens trocam anualmente as férias de Verão
por uma experiência profissional. Os últimos meses, em Portugal,
foram, aliás, propícios a uma subida acentuada no trabalho
temporário, em grande parte devido a dois mega-eventos realizados
no nosso país: Rock in Rio e Euro-2004.
Mas os especialistas nacionais de trabalho temporário garantem
que o fenómeno do "emprego com fim certo" é
muito mais abrangente.
Se no último ano a crise das contratações - resultante
da acentuada quebra económica que afectou o país - marcou
presença também no segmento do trabalho temporário,
actualmente as empresas do sector não têm dúvidas
de que a retoma está a chegar. O grande teste poderá ser
mesmo o próprio Verão ou não fosse esta uma época
sempre rica oportunidades de emprego temporário.
Rita Monteiro, assistente de qualidade e selecção da direcção
da zona norte da multinacional de recrutamento Adecco, confirma que
"as empresas estão a recorrer mais ao trabalho temporário
durante o período de Verão, sobretudo nos meses de Junho
e Julho". Uma ideia também corroborada por Jorge de
Sousa, director-geral da Vedior Psicoemprego.
Para este responsável, os empregos de Verão são
uma boa porta de entrada para o mercado de trabalho. Entre as maiores
vantagens deste tipo de ocupação sazonal, Jorge de Sousa
destaca "a possibilidade de ganhar dinheiro ocupando o tempo
livre, a oportunidade de ficar conhecido por uma empresa e ganhar experiência
profissional". A estas vantagens Rita Monteiro acrescenta "a
possibilidade de aprender a 'saber fazer' e 'saber estar' num contexto
profissional".
Mais-valias que atraíram Pedro Brito, um estudante de turismo
com 22 anos e "adepto" do trabalho temporário. Desde
os 18 anos que Pedro aproveita o Verão para capitalizar experiências
profissionais. Este ano está trabalhar num bar na Praia de Carcavelos,
próxima do local onde mora. Mas o estudante confessa que "a
minha estratégia é encontrar um emprego de Verão
fora do local onde resido. Desta forma consigo acumular experiência
de trabalho, ganhar algum dinheiro e ainda conhecer outros locais".
Uma estratégia que já o levou a várias paragens.
Nos últimos anos, foi recepcionista num hotel no Algarve, barman
numa discoteca, trabalhou num aldeamento turístico a norte do
país, entre diversas outras actividades. Confessa que prefere
funções personalizadas e que lhe agrada particularmente
o trabalho em hotéis ou estâncias de turismo.
Pedro Brito acredita que o trabalho temporário poderá
ser uma importante ajuda na altura de integrar o mercado laboral. "Num
dos locais onde passei chegaram mesmo a propor-me trabalho permanente
mas como ainda estou a concluir o curso, não pude aceitar por
ser fora de Lisboa", explica. Desta forma, o jovem adianta
que os empregos de Verão são experiências de trabalho
e oportunidades válidas para quem está ainda a estudar.
E se Pedro Brito apenas este ano teve oportunidade de conciliar o emprego
com a praia, Elisabete Penedo há três anos que o faz. Esta
nadadora-salvadora de 25 anos passa o Verão a vigiar a costa
e assegurar a segurança dos banhistas. Quando tirou o curso no
Instituto de Socorros a Naufragos ainda estava na faculdade e hoje admite
que não se trata de necessidade económica mas de uma "paixão".
Apesar de já estar a dar aulas de Educação Visual
e Tecnológica, insiste em desempenhar as suas funções
de nadadora-salvadora aos fins-de-semana, presidindo também à
Associação de Nadadores Salvadores das Praias de São
João, Costa da Caparica e Fonte da Telha.
Por ser uma actividade aliciante, muitos jovens juntam o útil
ao agradável e oferecem-se para vigiar as praias em regime de
voluntariado. Contudo, Elisabete Penedo alerta para a necessidade de
"encarar a actividade com muita responsabilidade e profissionalismo".
Promotores de eventos, comerciais, informáticos, operadores de
"Call Center", assistentes de loja, administrativos e restauração
são algumas das actividades mais requisitadas durante os meses
de Verão. As férias de alguns funcionários permanentes
e os acréscimos de actividade são, regra geral, asseguradas
por trabalhadores temporários.
Segundo Rita Monteiro, o perfil do trabalhador temporário português
é variável. Ao ao nível das habilitações
académicas, o exigido varia entre o 9º e 0 12º ano
de escolaridade, mas o fundamental "é serem pessoas responsáveis,
assíduas e com vontade de trabalhar", explica.
GUIA DOS EMPREGOS DE VERÃO
Embora esteja associado a tempo de descanso, no Verão há
inúmeras actividades que requerem novas contratações.
Tome nota das áreas onde surgem mais oportunidades:
- Promoção e animação de eventos nas zonas
balneares
- Restauração
- Comerciais
- Técnicos Informáticos
- Operadores
de Call Center
- Assistentes de loja
- Operadores não qualificados
- Administrativos
- Hotelaria e turismo
O VALOR DO TRABALHO TEMPORÁRIO
A maioria dos trabalhadores temporários situa-se na faixa etária
entre os 18 e 40 anos. Uma idade onde capitalizar experiência
é crucial, seja para reingressar no mercado de trabalho ou para
um primeiro emprego.
Entre as grandes vantagens destas experiências laborais temporárias
estão:
- as mais-valias monetárias
- a oportunidade de ficar conhecido pelas empresas
- a aquisição de experiência profissional
- o desenvolvimento de novas competências