A MAIORIA dos portugueses não está disposta a aceitar um
trabalho fora da sua área de residência.
Esta é uma das conclusões de um estudo sobre as atitudes
laborais dos desempregados inscritos e não-inscritos nos centros
de emprego, publicado pelo Ministério do Trabalho e Segurança
Social, onde mais de 50% dos inquiridos responderam que não aceitavam
um emprego distante da sua zona de morada.
Um dado que comprova o baixo grau de mobilidade da mão-de-obra
nacional, já que não foram especificadas no inquérito
a distância e as circunstâncias em que se desenvolveria a
actividade laboral. "Poderia corresponder apenas a um ligeiro
esforço suplementar ao do próprio trabalho. O sacrifício
exigido poderia ser, no limite, pequeno", refere Mário
Lajes, autor da investigação.
Um obstáculo cultural que o Governo tem de enfrentar para defender
uma das suas bandeiras da política de trabalho, a mobilidade laboral.
Para aquele especialista, estes dados demonstram que o desejo de trabalhar
"não é tão grande" que leve a maioria
dos desempregados a sair da sua situação.
O estudo também revela que a tendência da fraca absorção
de mão-de-obra qualificada está a instalar-se no mercado
de trabalho português. Com efeito, os detentores de formação
superior são o grupo mais afectado pelo desemprego de longa duração.
É que enquanto a percentagem de pessoas com formação
básica desempregadas diminui significativamente conforme aumenta
o período de desemprego, a análise mostra que no segmento
dos licenciados dá-se o comportamento inverso. "Este é
um resultado surpreendente, mas o qual necessita de maior investigação,
pois é muito complexo para inferir as suas causas", observa
Mário Lajes.
Trabalho qualificado escasseia
Mas o retrato laboral obtido pelo investigador fornece mais um elemento
que prova a grande dificuldade em conquistar um emprego qualificado na
economia nacional.
O inquérito constata que metade dos licenciados aceitaria um trabalho
inferior às suas qualificações, uma percentagem perto
de 10% maior do que a dos diplomados com cursos profissionais.
Além disso, cerca de 56,7% dos respondentes declararam que nunca
possuíram um contrato de trabalho definitivo.