Maribela Freitas
Diego Sánchez de León é «senior executive» da Accenture para a área de gestão de talento e desempenho humano em Espanha, Portugal, África, Israel e América Latina. Em entrevista ao Expresso o especialista fala dos desafios relacionados com os recursos humanos que as empresas enfrentam e analisa a importância do talento numa organização, bem como as estratégias que estas devem utilizar para o cativar.
No seu trabalho diário, Diego de León opera em áreas como a gestão de talento e de recursos humanos, gestão de mudança e eficácia organizacional. Com um profundo conhecimento sobre o mercado de trabalho e o funcionamento das organizações traça um panorama não muito animador para o futuro. Na análise que faz considera que as empresas enfrentam actualmente três desafios na área de desempenho humano. O primeiro é demográfico.
“A população na Europa está a envelhecer e a força de trabalho actual, entre reformas e novas entradas, não vai variar muito de hoje até 2025”, comenta. Este cenário é particularmente grave em Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e França. Excepto na Alemanha que tem feito uma forte aposta na importação e manutenção de talento. A solução para o problema passa, na opinião de Diego de Léon, pela importação de mão-de-obra qualificada. As estratégias para o fazer têm de ser pensadas em conjunto com os poderes instituídos e os países europeus devem estar cientes que vão passar a disputar entre si, as pessoas que chegam de fora.
O segundo desafio está relacionado com o défice de profissionais formados em áreas como a engenharia, matemáticas e ciências. O seu número está a reduzir-se, pela menor procura de formação nestes saberes e também devido às taxas demográficas. Nesta medida as empresas têm duas formas de actuar: “lutar por esses trabalhadores ou contratá-los nos mercados onde existem”. Mais uma vez é a luta pelo talento.
Além dos problemas já referidos, as organizações enfrentam ainda um terceiro desafio que se prende com os valores da actual geração de trabalhadores. De acordo com Diego de Léon, as pessoas querem trabalhar menos; conciliar família, carreira e lazer; perdem muito tempo na sua actividade laboral com acções que não são de trabalho — como por exemplo com elementos de comunicação — e não querem fazer durante muito tempo a mesma coisa. Na tentativa de atrair os melhores, as empresas são pouco realistas naquilo que oferecem e a rotatividade laboral é grande. “O que faz o mundo económico? Estão a transferir a produção e centros de investigação para lugares onde há boa formação e os custos são mais baixos, como a Índia, México e Angola. Estes países começam também a ter problemas para responder à sua procura interna e competem pelo talento”, explica Diego de Léon.
Mas como é que se deve tratar o talento? O «senior executive» da Accenture é de opinião de que primeiramente “os empregados devem estar satisfeitos o que contagia positivamente o mercado laboral”. Para que isso ocorra as organizações devem manter uma relação laboral individualizada, pois muitas vezes conhecem melhor os seus clientes do que os trabalhadores. Devem ainda mudar o estilo de gestão, dirigindo-se às pessoas com objectivos possíveis. “Satisfação e boa liderança é fundamental”, comenta Diego de Léon. As companhias precisam ainda de se dar a conhecer, por exemplo junto dos estudantes. “As organizações actualmente estão preparadas para receber e não caçar. Há agora uma nova função nos recursos humanos que é estender os braços às novas gerações, dar-se a conhecer e atrair, informar e vender a empresa”, acrescenta o especialista.
Nos últimos anos a definição de talento tem vindo a mudar. Se antes este era considerado como sendo apenas uma pequena parte do capital humano — entendido como os jovens de elevado potencial, ou seja, a elite —, hoje o conceito alargou-se. “O talento está em todos os lugares e engloba os conhecimentos técnicos e de procedimentos, as competências, habilidades e os valores”, refere Diego de Léon. Na prática passámos de uma noção de elite para a ideia de que o talento está em todos os patamares de uma companhia. E é com base nestas realidades que o mundo do trabalho vai ter que viver no futuro.