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Startups: o poder do talento

Startups: o poder do talento

Há projetos empresariais e negócios de base científica e tecnológica com a chancela made in Portugal a gerar milhões de euros à escala global e a criar centenas de postos de trabalho qualificado. Com o universos das startups a atrair cada vez mais os profissionais portugueses, o país entrou na mira dos investidores e está a destacar-se no ecossistema do empreendedorismo mundial com um aumento das designadas scaleups, startups de crescimento muito acelerado capazes de angariar em pouco tempo elevados montantes em financiamento. Há quarenta destas empresas em Portugal, segundo um estudo do Startup Europe Partnership, realizado com o apoio da Microsoft, e o talento que atraem é a sua principal ferramenta.

18.12.2015 | Por Cátia Mateus


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No crescimento e sustentabilidade de um projeto empresarial, o talento é tudo. E numa startup ele é mesmo vital. Exemplos como as portuguesas Feedzai, Talkdesk, Unbabel, Uniplaces, Farfetch, Veniam ou Musikki, demonstram-no. As seis startups nacionais figuram entre as 40 scaleups tecnológicas - startups de acelerado crescimento e potencial de captação de investimento - identificadas no estudo do Startup Europe Partnership (SEP), realizado em parceria com o CrESIT e desenvolvido em Portugal com o apoio da Micrososft. Pouco tempo depois da sua criação, estas empresas já atraiam a atenção de investidores internacionais. Algumas mudaram mesmo a sede para os Estados Unidos onde angariam milhões de euros em rondas de investimento, que lhes permitiram crescer e contratar talento. Mas não qualquer talento.

Cirúrgicos e certeiros nas contratações, os líderes das scaleups rodeiam-se de equipas tecnicamente fortes, onde a diversidade é o factor dominante, e procuram profissionais à sua imagem e semelhança. Ou seja, com perfil para fazer acontecer seja qual for a geografia.?A casa-mãe de alguns dos maiores projetos tecnológicos mundiais, Silicon Valley (Califórnia), já não é estranha para as startups portuguesas. Estão lá a Feedzai, a startup tecnológica de Coimbra especialista em soluções antifraude, a Talkdesk que permite instalar rapidamente um centro de contacto na nuvem (cloud), e também a Unbabel, a startup lusa especialista em serviços de tradução, e a Veniam, a startup que utiliza veículos para ampliar a cobertura de rede e recolher dados urbanos a custos reduzidos. Outras têm crescido a partir de Portugal para o mundo, internacionalizando por outras vias. No essencial, têm em comum o facto de serem projetos portugueses nascidos de uma nova geração de empreendedores que tem contribuído, com uma cultura de mérito e talento, para colocar Portugal no mapa global do empreendedorismo.

Bons exemplos inspiram crescimento
Caroline Philips, que desde há dois anos dirige a área de Apoio ao Empreendedorismo e Desenvolvimento da Micrososft Portugal, entidade parceira do SEP na realização do estudo que permitiu identificar a scaleups tecnológicas portuguesas, não tem dúvidas de que “nunca houve uma altura melhor do que a atual para ser empreendedor em Portugal”. Os dados do estudo comprovam-no (ver caixa), mas mais do que isso a prática destas empresas e a disseminação global de bons exemplos não deixam margem para dúvidas. “Acredito que este crescimento foi impulsionado pela crise económica mas também pelo advento de grandes exemplos de sucesso que funcionaram como catalisadores para os jovens empreendedores, encorajando-os a perseguir os seus sonhos e a arriscarem a criar os seus próprios negócios”, explica.

Com um ecossistema de startups “vibrante e único que está a conquistar uma forte e merecida reputação a nível mundial”, Caroline Philips elenca como aspetos fundamentais desta mudança de contexto no empreendedorismo nacional a criação de vários aceleradores e incubadoras de topo em Portugal e uma diversidade de outras plataformas que têm inspirado uma nova geração de empreendedores, mas também atraído a atenção de talentos, mais juniores e também seniores, que na altura de pensar a sua carreira se sentem aliciados em integrar projetos em fase de lançamento, com forte componente empreendedora e potencial de crescimento, onde são convidados a partilhar o seu conhecimento e inputs, contribuindo ativamente para a expansão destes projetos.

Recrutar pares
Muitos especialistas de recrutamento apontam como tendência de contratação nas startups o que poderia ser designado de “peer recruiting” (recrutamento de pares). Ou seja, os líderes destas empresas emergentes tendem a procurar talentos que além de uma competência técnica brilhante, partilhem a sua visão do negócio e o entusiasmo em fazê-lo crescer num contexto nacional e internacional. ?Na Feedzai, a estratégia passa por aqui. Nuno Sebastião, CEO da startup que se dedica aos serviços de combate anti-fraude, prepara-se para passar os atuais 85 elementos que agrega na sua equipa para os 150, durante o próximo ano. A principal característica que procura num candidato é “solidez de carácter”, essencial numa empresa focada no combate á fraude. Depois, acrescenta, “é fundamental que seja orientado para a ação, que tenha capacidade para fazer acontecer e focado na resolução de problemas”.

Nuno Sebastião destaca ainda a importância do espírito de equipa já que, “a capacidade se relacionar bem com os outros é determinante numa empresa em crescimento, com clientes globais de crenças e backgrounds distintos”, como é a Feedzai. ?A diversidade é ponto-vital para o líder da startup no momento de constituir equipa. Entre os seus profissionais integra elementos de nacionalidades distintas - Rússia, China, Chile, Reino Unido, Estados Unidos - e garante que, haverá sempre espaço para diversificar mais. ?Em termos técnicos, e tratando-se de uma empresa de base tecnológica, a engenharia é a âncora da maioria das contratações realizadas: “adoramos data (o universo dos dados) e pessoas que partilhem connosco esse fascínio”.

A Feedzai contrata também para as áreas de vendas, marketing e desenvolvimento de produto, funções para as quais há atualmente vagas em aberto. Nuno Sebastião, destaca a importância vital que o talento tem no contexto de crescimento da empresa e acrescenta que, de um modo global, “os profissionais da Feedzai são quantitativos e analíticos, mas ao mesmo tempo percebem que ainda os números sejam importantes, eles não contam a história por inteiro”. Ao mesmo tempo que dedica a desenvolver software para lidar com big data, a empresa sabe que “há um lado humano em tudo o que fazemos” e que essa vertente humana que faz a diferença.

?Hierarquias esbatidas, dinamismo e uma cultura de trabalho empreendedora e proativa são também a imagem de marca da startup Unbabel. “Cerca de 50% dos profissionais da empresa são engenheiros, 30% gestores e 20% linguistas”, explica Sofia Pessanha, co-fundadora da startup de serviços de tradução. A empresa, criada no ano passado, soma uma equipa de 20 elementos, mas já conquistou o mercado americano e perspetivas para um crescimento, já no próximo ano, do número de profissionais à mesma velocidade com que evolui o negócio: acelerada.

Atualmente, a Unbabel tem vagas abertas para um cientista NLP e estagiários na área do Marketing. Para 2016 estão previstas contratações “nas áreas da engenharia e marketing e vendas”, explica. A paixão pelo negócio e pela sua área core - a linguagem - será fundamental para identificar os futuros talentos da empresa, garante Sofia Pessanha que reforça o foco em perfis que partilhem a visão de negócio dos fundadores e que possam contribuir para o sucesso da empresa. ?Segundo Caroline Philips, o potencial de criação de emprego “é um dos pontos cruciais da oportunidade que as startups representam para o crescimento económico do país”.

Regra geral, estes projetos arrancam para o mercado com um número reduzido de fundadores (entre um a três, habitualmente) mas, “num curto espaço de tempo - dois a três anos - podem crescer para centenas de profissionais”, explica a diretora de Empreendedorismo e Desenvolvimento da Microsoft Portugal elencando como exemplos “os recentes casos de sucesso da Uniplaces, Talkdesk ou da própria Farfetch, que se destacam não apenas pelas dezenas (até centenas) de pessoas que têm vindo a contratar, mas também o impressionante número de vagas abertas que existem atualmente nestas empresas”. ?

Foco no crescimento
A plataforma alemã StartupCVs divulgou recentemente os dados de uma análise global que realizou á aptência dos profissionais para trabalhar em startups e concluiu que não só Lisboa está a estabelecer-se como uma das principais capitais para startups na Europa, como o interesse dos jovens em considar carreira nestas empresas está a aumentar, sobretudo na sua fase de arranque (early stage) e crescimento (growth stage). Para este cenário, certamente contribuirá o atual panorama do empreendedorismo nacional identificado pelo estudo do SEP, CrESIT e da Microsoft Portugal.?

Na análise realizada ao universo nacional, a investigação apurou um total de 40 scaleups que, juntas, atraíram mais de 156 milhões de euros em financiamento de venture capitals. A maioria desta empresas (42%) está implantada em Lisboa e é responsável pela atração de cerca de 60% do volume total de financiamento. Cerca de 28% estão sediadas no Porto e as restantes espalhadas pelo país. Segundo Caroline Philips “a grande maioria das saleups tecnológicas identificadas em Portugal atuam na área de software solutions, business analytics e saúde, segundo-se a educação, serviços empresariais, turismo e mobile”.

O estudo atribui também relevância a outros sectores como o digital media ou a moda que representam 5% das empresas. ?À semelhança do que sucede noutros países, várias das scaleups identificadas apesar de criadas em Portugal, ganharam escala de crescimento noutros mercados. Em muitos casos, acabaram por deslocalizar as suas sedes - e parte da sua cadeia de valor - para outro país, mantendo uma forte presença operacional e tecnológica em Portugal. O estudo agora divulgado não permitiu, ainda, identificar nenhuma empresa “unicórnio” em Portugal, mas um dos exemplos europeus tem origem lusa: a Farfetch, criada em 2008 por José Neves. Sediada em Londres e com a maioria das operações no Porto, a empresa soma mais de mil colaboradores e en cinco rondas angariou mais de 183 milhões de euros em financiamento. Para Caroline Philips são empresas como estas que ampliam o potencial de empregabilidade e abrem novas portas à economia nacional.



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