Entre 2005 e 2010, apenas 19% dos processos de recrutamento da divisão de Healthcare & Life Sciences da consultora Michael Page eram relativos a perfis da área médica. Hoje, garante Pedro Borges Caroço, diretor desta área de negócio na consultora, “a procura por quadros da área médica para a indústria farmacêutica aumentou 28%”. O especialista fala numa mudança acentuada nas tendências do sector, impulsionada por uma maior preponderância dos departamentos médicos no negócio das farmacêuticas, mas também pela crescente flexibilidade do recrutamento e o aumento da mobilidade interna e entre geografias. O sector está a mudar e há oportunidades. O principal problema é mesmo encontrar quadros médicos disponíveis no mercado.?
O número de quadros médicos disponíveis no mercado é já inferior à procura da indústria farmacêutica. O especialista da Michael Page Helthcare & Life Sciences é claro na sua mensagem. No espaço de uma década, tudo mudou no sector farmacêutico em Portugal. Se em 2005, o mercado nacional procurava essencialmente profissionais para as áreas comerciais, que representavam 42% dos processos de recrutamento para o sector, e de marketing (38%). Hoje, qualquer uma destas áreas representa menos do que o recrutamento de quadros médicos que representa 47% dos processos realizados para o sector. As contratações para a área comercial não excedem 29% e as do marketing os 24%. “A tendência de crescimento do recrutamento de profissionais médicos tem vindo a ser motivada pela necessidade de reforço dos departamentos médicos a nível nacional, mas também pela otimização e alinhamento de recursos e pela nova forma como é encarada a relevância para o negócio face às áreas de marketing e vendas”, explica Pedro Borges Caroço. ?
Falta de profissionais inflaciona salários
?Com crescentes dificuldades de contratação para esta área, o especialista confirma também uma mudança no panorama salarial e um investimento na contratação de estrangeiros para preencher as necessidades do sector. “O número de quadros médio é já inferior à procura, o que poderá conduzir à inflação do pacote salarial e, consecutivamente, à necessidade de importar mais profissionais médicos”, afirma apontando como consequência positiva desta estratégia o facto desta importação de talento “poder tornar-se uma porta de entrada para a inovação médica em Portugal, ao introduzir no contexto empresarial nacional profissionais com diferentes backgrounds e práticas”.?
Para Pedro Borges Caroço, a evolução do recrutamento no sector farmacêutico permite antever uma maior preponderância dos Departamentos Médicos no contexto do negócio das empresas, com forte investimento no fluxo de conhecimento e inovação. “Os perfis terão de estar preparados para conhecer todas as necessidades internas das instituições que representam, para que possam potenciar resultados, terão de trabalhar em brand teams nacionais e internacionais”, realça. O sector está também cada vez mais orientado para contratações sustentadas em softskills, ou onde estas representam um factor determinante na seleção de candidatos. Competências de comunicação, gestão do tempo, confiança, atitude, flexibilidade, partilha e gestão de conflitos são obrigatórias. Entre as carreiras mais dinâmicas no sector, adequadas a perfis com formação base na área da Medicina ou Ciências da Vida estão, para os primeiros, líderes de área terapêutica, gestores de equipa, diretores médicos e diretores regionais médicos, e para os segundos, medical managers, responsáveis de área terapêutica, gestores de equipa e diretores médicos, sendo neste caso determinante a detenção de um doutoramento.