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Simulação mostra o impacto do aumento da escolaridade

05.09.2003


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Ruben Eiras

PIB por empregado cresceria 36%






Educar para a produtividade

Metodologia da simulação


SE O mercado de trabalho português possuísse uma estrutura de qualificações igual à da média da UE, a produtividade aumentaria perto de 36%.

Este é o resultado em destaque de um exercício de simulação realizado por Eugénio Rosa, economista e director executivo do Instituto Bento de Jesus Caraça, um organismo da CGTP especializado em formação, para demonstrar qual o aumento de produtividade obtido se a escolaridade da população empregada fosse semelhante à verificada na média dos 15 países da União Europeia (29,6% com o básico, 46,3% com o secundário e 24,1% com o ensino superior).

Em contraste, os números actuais em Portugal situam-se, respectivamente, nos 76,7%, nos 13,1% e nos 10,2% (ver quadro).

De acordo com a presente estrutura de habilitações escolares, o PIB médio produzido por cada trabalhador é de 27.679,60 euros, sendo 19.610 gerado pelos detentores de um grau educacional equivalente ao básico ou menor, 39.974 criado pela força laboral com o ensino secundário completo e 54.840 gerado pelo segmento de qualificação superior.

No hipotético cenário de uma subida de qualificações ao nível europeu, o "salto" na produção de riqueza é significativo: o PIB por empregado atingiria os 37.528,90 euros, ou seja, um crescimento da produtividade de 35,5% face ao valor actual.

O segmento da força de trabalho com ensino secundário alcançaria um valor na ordem dos 124% e a faixa laboral com o ensino básico aumentaria a produtividade para perto de 44% (ver quadro). Valores que praticamente correspondem aos actuais da UE.

"Não se pode considerar estes dados como sendo totalmente rigorosos, nem em termos individuais - são valores médios e apenas indicativos", ressalva Eugénio Rosa.

"Todavia, dão uma ideia da influência directa e indirecta da escolaridade na produtividade por empregado. Servem não só para evidenciar o papel do ensino, mas também o da formação profissional, porque esta também é condicionada pelo primeiro, reforçando-o e completando-o", observa.

Para conseguir avaliar o impacto da escolaridade no aumento da produtividade, o autor introduziu um conjunto de hipóteses simplificadoras para possibilitar o cálculo (ver caixa metodologia).

A correlação positiva entre a produtividade e a escolaridade é justificada com base no "Inquérito aos Orçamentos Familiares 2000" elaborado pelo INE, o qual revelou que quanto maior fosse o grau de instrução do representante do agregado familiar, maiores seriam as receitas médias líquidas anuais.

Com efeito, a análise do autor mostra que se for tomada como base a receita total do agregado familiar, um agregado cujo representante possua o nível de instrução superior possui em média uma receita 5,2 vezes superior à de um agregado que não tenha qualquer nível de instrução, e três vezes superior à receita média de uma família cujo representante possua o ensino básico até ao 1º ciclo.

E se a análise for realizada tomando apenas como base de comparação a receita do agregado que tem como origem o trabalho por conta de outrem (TCO) a disparidade verificada ainda é maior.

Neste panorama, a receita do agregado familiar cujo representante tem o nível de instrução superior é 10,6 vezes superior à do agregado cujo representante não possui nenhum nível de instrução e 5,2 vezes maior à do agregado cujo representante detém o ensino "básico até ao 1º ciclo".

"Portanto, é clara a correlação entre nível de escolaridade e rendimento, ou seja, é tanto maior o rendimento quanto maior for a escolaridade", argumenta Eugénio Rosa.

Não obstante, aquele economista sublinha que o aumento da qualificação da população empregada não determinaria só por si e imediatamente o aumento significativo da produtividade e da competitividade das empresas nacionais.

"Esta é uma condição necessária mas não suficiente, já que para produzir efeitos teria de ser acompanhada por um conjunto de medidas, nomeadamente a nível de política de investimentos, e de outras acções que extravasam o âmbito deste estudo", remata.




Educar para a produtividade


Combater com eficácia o abandono escolar

Créditos de horas anual a conceder obrigatoriamente pelas entidades patronais, tanto maior quanto maior for a idade do trabalhador e menor a sua qualificação

Realização de cursos de formação a realizar pela empresa controlados pelo Estado e pelas organizações de trabalhadores

Quando a empresa não realizar formação, pagamento pela empresa dos custos de formação a realizar numa entidade formadora escolhida pelo trabalhador

Criação e funcionamento efectivo de um sistema de certificação nacional credível, visando o reconhecimento dos saberes e das competências obtidas pelos trabalhadores quer pela via da formação profissional quer pela via da experiência


Reflexos na progressão da carreira profissional do trabalhador da formação realizada

Empenho efectivo dos trabalhadores e das suas organizações no desenvolvimento de uma cultura de valorização da formação profissional, de participação e do aumento contínuo da qualificação profissional

Aumento da qualificação dos empresários portugueses e introdução da obrigatoriedade da certificação para quem quiser ser empresário, como já sucede em vários países da União Europeia, e de formação para obter tal certificação.

Fonte: Eugénio Rosa


Metodologia da simulação

Os dados utilizados para o exercício de simulação relativos à escolaridade da população empregada foram obtidos através do Censo à população de 2001, realizado pelo INE.

A estimativa oficial do PIB para 2003 é a que consta do Orçamento de Estado. A metodologia de cálculo do valor teórico do PIB por ano escolar foi obtido com base nas hipóteses simplificadoras:

Para a população empregada em Portugal com o ensino básico foi considerado o número de anos que se obtêm calculando a média ponderada de escolaridade de todos os trabalhadores que possuem menos do que o ensino secundário completo

No grau de escolaridade do secundário foi considerado apenas aqueles que detêm este nível de ensino completo

No escalão de formação superior incluíram-se os empregados com licenciatura completa e incompleta, os com mestrado completo e incompleto e os com doutoramento

Para preencher determinados vazios existentes nos dados oficiais, o autor introduziu as seguintes hipóteses simplificadoras:

Em relação à população empregada que nas estatísticas oficiais aparece como "sem nenhuma escolaridade" foi considerado que, em média, tinha um ano de escolaridade

Para resolver a situação dos que possuíam um grau de ensino incompleto considerou-se, para cada nível de ensino, o ponto médio de anos entre o nível completo anterior e o completo posterior






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