Ruben Eiras
A precariedade laboral induz à aposta na realização
profissional
PORTUGAL é o país da UE em que a insatisfação
no trabalho decresceu mais na década de 90 - de 25% de trabalhadores
insatisfeitos em 1995, este valor caiu para 16% em 2000 (a média
europeia é de 20%).
Esta tendência é revelada no último relatório
sobre o emprego elaborado pela Comissão Europeia. Ainda segundo
este documento, a percentagem de trabalhadores portugueses em empregos
de baixa qualidade decresceu em 1995 de (35%) para 30%.
Todavia, em paralelo com este aumento de satisfação no
trabalho, os empregos precários e temporários também
cresceram no mesmo período.
Com efeito, Portugal agora é o segundo país da UE com
a maior força laboral com contratos de trabalho temporários.
Além disso, a análise da Comissão Europeia revela
que estas modalidades laborais têm um impacto negativo no salário
dos portugueses na ordem dos 8%.
E, por sua vez, entre 1999 a 2000, menos de um terço dos trabalhadores
portugueses com contratos de duração limitada conseguiram
transitar para um emprego permanente.
Então como é que se explica que os portugueses se sintam
cada vez mais satisfeitos com o seu trabalho, se a insegurança
laboral é cada vez maior?
Para António Mão-de-Ferro, sociólogo e director
da empresa de formação Nova Etapa, este comportamento
advém, em parte, da quebra de lealdade entre a empresa e o trabalhador.
"Se a empresa está pronta a 'deitar fora' o trabalhador,
porque é este, de acordo com a sua conveniência, não
se há-de desenvencilhar dela, se isso for do seu interesse?",
indaga.
Mobilidade faz bem à mente
Assim, a resposta do trabalhador face à maior precariedade laboral
é uma aposta na realização profissional. "Ao
investir na satisfação no trabalho a pessoa esforça-se
por consegui-la.
Para isso, tem que mudar mais vezes de emprego, o que é para
a saúde psíquica do trabalhador - o confronto com problemas
não rotineiros exige utilização de conhecimentos
e capacidades diferentes das rotinas habituais, implicando um maior
desenvolvimento pessoal", explica.
A transição gradual para uma economia de serviços
também é outro dos factores que pode ter contribuído
para o aumento da satisfação laboral dos portugueses.
"O 'boom' na década de 90 de actividades da distribuição,
de comércio, de segurança de pessoas e bens originou melhorias
qualitativas significativas no trabalho, mesmo quando essa promoção
se efectuava para funções de baixo valor acrescentado.
Trabalhar nos serviços é sempre menos penoso do que agricultura",
refere Amândio da Fonseca, director-geral da Egor.
Aquele responsável também refere que o advento da banca
moderna e da sociedade da informação permitiram criar
empregos qualitativamente mais satisfatórios para jovens com
níveis de qualificação mais elevados.