Cátia Mateus/Fernanda Pedro
e Maribela Freitas
NUMA altura em que a imagem dos políticos se encontra
um pouco desgastada, o EXPRESSO quis saber o que motiva os jovens a seguir
esta actividade. Do Partido Social Democrata (PSD) ao Bloco de Esquerda
(BE) os jovens são unânimes em afirmar que a política
não é uma carreira, mas sim um exercício de cidadania.
Idealistas como só os jovens sabem ser, dizem que foi a vontade
de mudar o mundo que fez muitos deles ingressar na política.
Jorge Nuno Sá, de 26 anos, é licenciado em farmácia
e não hesitou em abraçar a liderança da Juventude
Social Democrata (JSD).
Para o jovem, com dez anos de experiência partidária, "a
política não é uma carreira, é um serviço
ao país. Faz-se de causas e de contributos e o que atrai os jovens
é a possibilidade de mudar o país para melhor".
Confessa que o cargo que ocupa lhe rouba tempo para a sua actividade
profissional, mas, ainda assim, insiste em não colocar de lado
a profissão e neste momento frequenta uma especialização
em análises clínicas, até porque "nada
é eterno".
Seguro de que os jovens políticos de hoje não são
nem melhores nem piores que os de ontem, mas "diferentes por
força do enquadramento e da mudança de causas",
Jorge Nuno Sá acredita que o futuro da política passa
por uma aproximação entre eleitos e eleitores.
Jamila Madeira é aos 28 anos deputada à Assembleia da
República (AR) pelo Partido Socialista (PS) e secretária-geral
da Juventude Socialista (JS).
Conta que "foi a vontade de lutar por mais justiça social
e por aquilo em que se acredita", o que a motivou e motiva
a prosseguir a actividade. Filiada desde os 14 anos no PS, foi assumindo
cargos de relevo.
Economista, confessa que "nem sempre foi fácil conciliar
o estudo com a política". Terminou o curso e exerceu
economia até ao ano 2000, altura em que passou a acumular com
o cargo de deputada - eleita pela primeira vez em 1999 - e com a liderança
da JS.
"A partir daqui foi muito difícil conciliar todas estas
actividades e optei pela política. Mas considero que esta não
é uma carreira, mas sim um exercício de cidadania".
Quando já não fizer sentido continuar, deixará
de assumir cargos políticos, mas não de exercer a sua
consciência política.
Políticos por convicção
Também com 28 anos, o gestor Carlos Andrade conduz os destinos
da Juventude Popular (JP). Não tem dúvidas de que "é
a noção de estar a prestar um serviço público
e utilizar as nossas ideias a bem da sociedade" que levam os
jovens à política.
Acumula a liderança da JP com a profissão e garante que
"é necessária muita dedicação e
boa gestão de tempo para conseguir conciliar estas actividades".
Este político contraria a ideia de que o país vive uma
crise de vocações políticas.
"Entre as camadas mais jovens há pessoas com muito valor,
em todos os quadrantes políticos", refere. E embora
considere que a classe é mal remunerada, confessa que gostaria
de chegar a deputado.
Um pouco mais nova, Margarida Botelho, de 27 anos, tornou-se militante
da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) há sete anos. Hoje é
um dos elementos mais velhos da direcção nacional e, apesar
de estar a tempo inteiro, não considera a sua actividade como
profissão.
"Estou aqui por convicção, pela vontade de transformar
e construir uma sociedade melhor", refere.
Para a militante não é a carreira que move a maioria dos
jovens comunistas, pois "ninguém ganha por ser do PCP.
Para muitos, admitir publicamente que o são pode revelar-se perigoso,
devido à possibilidade de represálias sociais e profissionais".
Na sua opinião o que afasta os jovens da política são
os discursos dos políticos e a própria AR. "A
participação pode ser social, cultural, educacional e
é isso que move a grande parte dos jovens comunistas",
revela.
Foi por não se conformar com o «estado das coisas»,
que Miguel Reis se filou aos 18 anos no antigo Partido Socialista Revolucionário
(PSR).
Com a integração do PSR no BE, passou a militar nesta
nova estrutura e, aos 25 anos, faz parte da Mesa Nacional e da Comissão
Executiva do BE e é o responsável pela área da
juventude. Está também a estudar filosofia.
"A actividade política não é uma carreira
e surgiu na minha vida pelo desejo de mudar a sociedade", refere.
Na sua opinião "são poucos os jovens a intervir
activamente na política, muitas vezes porque começam a
trabalhar muito cedo e a ter pouca disponibilidade".
Aos 38 anos, Luís Rodrigues é deputado à AR pelo
PSD e conta com 17 anos de actividade política. Engenheiro civil
de profissão, deixou esta actividade em prole da política.
"Gosto mais da actividade autárquica mas, como deputado,
tenho a oportunidade de lutar pelos direitos de quem me elegeu".
Considera também que "a política não é
uma carreira e nesta actividade não se têm cargos vitalícios".
Formação para a política
IVONE Moreira é coordenadora executiva do programa de pós-graduação,
mestrados e doutoramento em ciência política e relações
internacionais do Instituto de Estudos Políticos (IEP) da Universidade
Católica.
A realidade que conhece permite-lhe concluir que muitos dos jovens que
frequentam os cursos desta instituição ambicionam alcançar
cargos de decisão. Entre os ex-alunos de Ciência Política
da Católica figuram secretários de Estado, deputados e
autarcas.
A responsável acredita que "os jovens procuram uma preparação
teórica para compreender melhor os problemas e decidir conscientemente".
Ivone Moreira assegura que os cursos do IEP recebem alunos, intelectualmente
curiosos com expectativa de que a formação lhes traga
oportunidades quer na política, no jornalismo qualificado ou
na carreira diplomática.
Nesse sentido reconhece que os jovens procuram fundamentar teoricamente
aquilo que são as suas inquietações e perplexidades,
relativamente ao «modus vivendi» da sociedade em que se
inserem e onde querem actuar, esclarecidamente, no plano político.
Para o comprovar, estão os números que revelam que cerca
de 25% destes alunos já têm um compromisso activo na vida
partidária.