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Qualificados em fuga

12.09.2003


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Cátia Mateus

NO PRIMEIRO semestre deste ano cerca de 30 mil portugueses partiram para o estrangeiro em busca de emprego, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.


A região Norte é uma das zonas do país que maior "fuga de trabalhadores" registou. Só o distrito de Braga deixou "escapar" seis mil trabalhadores que decidiram procurar emprego nas principais cidades europeias.

Mas o mais preocupante é que a situação bracarense não pára de se agravar. Segundo Adão Mendes, da União de Sindicatos de Braga (USB), "o distrito regista neste momento qualquer coisa como 40 mil desempregados, grande parte deles na faixa etária dos 25 aos 30 anos, com formação superior".

Uma conjuntura que a curto prazo poderá condenar a região ao atraso e à perda de competitividade já que "estamos a deixar fugir a mão-de-obra qualificada".

Cerca de 40 mil desempregados inscritos nos centros de emprego da região, seis mil dos quais com idades que rondam os 25 anos e aproximadamente três mil com formação superior, 6600 trabalhadores com salários em atraso, 220 operários afectados pelos sucessivos "lay-off" dos últimos tempos, dezenas de empresas a ameaçar falência e muito poucas perspectivas de criação de emprego a curto prazo.

Eis o panorama da região de Braga traçado pelo coordenador da USB. Uma realidade que o responsável classifica de alarmante, já que "de 2002 para este ano a região assistiu a um agravamento do desemprego na ordem dos 37 por cento".

Mas para Adão Mendes este não é o único problema. A verdade é que, a par da elevada taxa de desemprego que afecta a região, outros problemas se colocam e "o mês de Agosto agravou bastante a situação", confessa.

De acordo com dados do sindicato, "existem no distrito de Braga mais de três mil trabalhadores que não recebem salários há mais de três meses".

O sector mais afectado é o dos têxteis, mas a dificuldade de "sobrevivência" parece estender-se a outros sectores.

O panorama é, para o responsável, tudo menos animador. Face às imperativas reduções nos custos, as empresas da região começaram a despedir funcionários, mas também redefiniram a sua estratégia optando por manter no activo trabalhadores mais antigos (com idades que rondam os 40 a 45 anos), com menor qualificação mas também com salários mais reduzidos.

Para Adão Mendes, os resultados não se farão esperar. Daqui a algum tempo, diz, "teremos um distrito menos competitivo, com menor capacidade de captação de investimento. Um distrito que não apostará na inovação nem no desenvolvimento tecnológico, pois estamos a deixar escapar para o estrangeiro a nossa mão-de-obra qualificada".

Com os níveis de desemprego a crescer na camada da população mais jovem, a emigração aparece como a hipótese mais viável para grande parte daqueles que não conseguem um lugar no mercado de trabalho bracarense. Entre os destinos de eleição estão as principais cidades europeias, com grande incidência no Luxemburgo.

Desemprego de longo prazo?

Todavia, a crise mundial trouxe para a economia bracarense um presente ainda mais "envenenado".

Registando neste momento os níveis de desemprego mais elevados dos últimos dez anos, este distrito tem ainda que lidar com uma conjuntura que parece ter sido agravada pela época balnear.

Os dados apurados pelo sindicato que representa revelam "um aumento dos salários em atraso e um crescimento do desemprego com cinco novos casos de despedimentos colectivos".

Só nos meses de Junho e Julho, garante o responsável, "o valor das prestações mais elevadas pagas pela Segurança Social de Braga aumentou em 130 por cento", indiciando o aumento de desemprego entre os trabalhadores qualificados e por isso mais bem remunerados.

De acordo com Adão Mendes, este agravamento - "sem perspectivas de resolução a curto prazo" - fez com que muitos bracarenses encarassem a emigração como uma solução viável, "aproveitando a presença de emigrantes seus familiares para atravessar a fronteira em busca de oportunidades de trabalho".

Segundo dados da USB, "no conjunto dos vários sindicatos da região contabilizámos, em Agosto, a entrada nas empresas de 100 cartas de rescisão contratual com objectivos de emigração".

O futuro é, para Adão Mendes, incerto e o responsável adianta que "ainda vamos esperar muito por uma recuperação. Há muitas empresas em 'lay-off' que possivelmente não voltarão a abrir as portas e outras tantas a ameaçar falência e com grandes dívidas", conclui.





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