Ruben Eiras
APENAS dois em dez portugueses indicaram ter participado
em actividades de aprendizagem durante 2002 e cerca de metade da população
não está interessada em aprender.
As sombrias estatísticas foram calculadas recentemente pelo inquérito
Eurobarómetro sobre a aprendizagem ao longo da vida, efectuado
por conta da Direcção-Geral da Educação e
Cultura, com o apoio do CEDEFOP.
O estudo, levado a cabo entre 15 de Janeiro e 28 de Fevereiro de 2003
nos 15 Estados-Membros, além da Noruega e Islândia, implicou
a realização de mais de 18.000 entrevistas pessoais.
Na categoria dos países que não querem aprender, Portugal
é seguido de perto pela Espanha (47%) e pela Grécia, onde
também somente dois em dez gregos afirmam ter frequentado acções
de formação no ano transacto. O outro lado da moeda encontra-se
nos países nórdicos, onde a percentagem de inquiridos que
não participam no ensino ou formação é inferior
a 50%.
Aprender, mascom objectivos
"Esta aparente desmotivação pela aprendizagem pode
ter a ver com o facto das pessoas não verem resultados imediatos
da formação que realizam ou que lhes propõem. Isto
quer dizer que a aprendizagem, particularmente se falamos de adultos,
deve ser bastante contextualizada e orientada para objectivos muito concretos",
comenta José Lagarto, especialista em ciências da educação.
Um panorama que não se constata nos métodos pedagógicos
e formativos mais em voga na comunidade nacional de formadores.
De acordo com o estudo "O Sistema de Formação de Formadores",
realizado pelo Observatório do Emprego e Formação
Profissional (OEFP) - já mencionado no EXPRESSO Emprego de 24/4/03
-, o actual modelo de formação pedagógica inicial
de formadores assenta em necessidades teóricas e gerais e não
no conhecimento das realidades concretas das empresas e dos formandos.
Para José Lagarto, a inversão desta situação
passa por instituir métodos de aprendizagem mais centrados no formando.
Mas não só. Também é crucial fazer que o formando
auto-avalie os resultados efectivos das suas aprendizagens e identifique
por si mesmo as competências que adquire.
"Aos poucos, com estas alavancas, as pessoas vão-se apercebendo
do real impacto da formação no seu aperfeiçoamento
pessoal, irão abandonar a formação esporádica
e encarar a formação contínua como uma necessidade
real", argumenta.
Todavia aquele especialista frisa que para concretizar esta medida é
fundamental, além de métodos de ensino mais "pragmáticos",
a articulação estreita entre os formandos, as empresas e
os centros de planeamento de formação, "desde a
unidade central até às estruturas regionais", sublinha.
E como se não bastasse que 50% dos portugueses rejeitem qualquer
tipo de formação, cerca de dois terços declararam
não saber utilizar o computador, o valor mais alto do inquérito,
a par da Grécia. Uma realidade que põe em xeque a competitividade
do Estado-membro da UE que definiu, na Estratégia de Lisboa, a
transformação da Europa numa economia do conhecimento em
2010.
"As estatísticas da educação em Portugal
revelam que cerca de 15% da população portuguesa têm
um nível de escolaridade superior e que igual número (15%)
têm a escolaridade secundária completa. Apesar de não
se poder generalizar esta afirmação, é um facto que
são as pessoas com maior nível de escolaridade que mais
utilizam as TIC, seja no âmbito profissional, seja no domínio
doméstico para os mais variados fins. Deste modo, os resultados
não surpreendem", analisa José Lagarto.
A solução para este problema é o aumento da escolaridade
média dos portugueses. "Só que este é um
processo lento e ainda demorará alguns anos a chegarmos ao nível
dos nossos parceiros europeus", contrapõe. Para arrepiar
caminho, José Lagarto sublinha que a aprendizagem da utilização
das tecnologias de informação (TI) pelos portugueses deve
ser fomentada aos níveis formal e informal.
No âmbito dos sistemas de ensino e de formação, aquele
especialista defende que os professores de todos os níveis de ensino,
bem como os formadores dos subsistemas de formação profissional
devem ser alvo de "atenção especial". Como?
"Todos eles deveriam realizar formação no âmbito
das TIC, seja ao nível da utilização pessoal, seja
da sua utilização pedagógica ao nível da sala
de aula e do espaço escolar", responde.
Paralelamente, José Lagarto enfatiza que o acesso às TI
através de diversas iniciativas deve continuar a ser introduzido.
"A divulgação dessas acções deve ser
mais eficiente e francamente suportada nos meios de comunicação
de massas", remata.