Cátia Mateus
PORTUGAL continua de costas voltadas para as potencialidades
do teletrabalho. A conclusão é avançada pelo Hiring
Survey, um estudo realizado semestralmente pela empresa de "executive
search" MRI, com o objectivo de dar a conhecer antecipadamente as
intenções de contratação dos empresários
e recolher informação útil sobre a gestão
de recursos humanos nas organizações.
O documento revela que 58% das empresas portuguesas não
têm, até à data, qualquer política definida
no que respeita ao teletrabalho, sendo que 13% não permitem sequer
a sua prática. Apesar da crescente evolução tecnológica
no domínio das comunicações, Portugal parece continuar
a fechar os olhos às virtudes do trabalho à distância.
Na realidade, ao contrário do que acontece noutros países,
esta forma laboral ainda não está enraizada no país.
De acordo com dados do Hiring Survey, "58% das empresas portuguesas
não têm qualquer política de teletrabalho",
enquanto "18% das empresas 'toleram' este sistema de trabalho,
13% proíbem a sua prática e apenas 11% a encorajam activamente".
Para a MRI, "esta forma de trabalho, desde que acompanhada, supervisionada
e com objectivos de trabalho bem traçados, pode ser uma forma de
reter ou motivar colaboradores, sobretudo no caso de pessoas que tenham
de fazer longas deslocações entre o local de trabalho e
a habitação".
A empresa de "executive search" vê nesta modalidade de
trabalho um factor motivacional já que "possibilita um
maior equilíbrio entre a vida familiar e profissional".
Contudo, o estudo reconhece que "um factor importante neste campo
é a maturidade inerente a este tipo de flexibilidade". Tratando-se
de quadros bem integrados na filosofia da companhia, com capacidade para
trabalhar por objectivos e de se automotivarem, é viável
a utilização deste modelo de forma pontual ou por sistema.
Ainda assim, é de salientar que o seu sucesso depende muito do
perfil de actividade da empresa e das funções do colaborador.
"Por parte da empresa é necessário criar redes de
comunicação que não excluam estes profissionais e
implementar sistemas de avaliação por objectivos, formação
e 'coaching'", alerta o Hiring Survey.
As vantagens para o desempenho
Entre as funções aptas a serem desenvolvidas neste regime,
o estudo destaca: "as que não envolvam um contacto assíduo
e diário com outros departamentos, que tenham uma componente técnica
ou em que o trabalho técnico não recorra a material sofisticado
e possa ser desenvolvido fora da empresa".
Mas o documento aconselha também a sua utilização
por profissionais que em momentos específicos necessitem de desenvolver
trabalho intelectual que exija elevado nível de concentração
e que não seja passível de interrupções.
No estudo, é ainda focada a realidade do país no que respeita
ao recurso das empresas ao "outsourcing" ou "contracting"
de profissionais. Neste campo, apesar do que seria de esperar em momentos
de instabilidade económica e social, apenas 20% das companhias
inquiridas aumentou, nos últimos 18 meses, o recurso a contratações
ao abrigo destes regimes.
O Hiring Survey avança ainda que "31% das empresas inquiridas
não aumentaram o seu recurso a serviços 'outsourcing' ou
'contracting', neste período de tempo" e "21%
das empresas têm menos trabalhadores nestes regimes do que há
18 meses".
Neste estudo foram inquiridas 428 empresas (de pequena, média e
grande dimensão) a operar em território nacional, alguns
dos sectores mais importantes da economia: Tecnologias Multimédia
e Telecomunicações (RMT); Seguros; Turismo; Franchising;
Construção e Financeiro.