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Para lá do salário

Para lá do salário

Com a economia ainda atravessar dias difíceis, não resta outra alternativa a quem quer manter-se ativo no mercado de trabalho senão encontrar um meio caminho entre os seus interesses pessoais e os interesses da entidade empregadora. O caminho da exigência está a ceder lugar ao da negociação.
19.08.2010 | Por Cátia Mateus


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Com mercado de trabalho a enfrentar dias difíceis, são cada vez mais os profissionais dispostos a abrir mão de alguns benefícios já adquiridos, a bem da manutenção da sua empregabilidade. De acordo com o Guia Salarial da Hays, a consultora de recrutamento especializado, cerca de 52,1% dos 3800 profissionais inquiridos no estudo aceitaria abraçar um novo projeto mesmo que isso implicasse levar para casa menos salário no final do mês. Tudo porque a economia ainda não corre de feição.

Adaptação às dificuldades e exigências do mercado parece ser o lema nos dias que correm no que toca ao emprego. Pelo menos à luz dos resultados alcançados na edição 2010 do Guia Salarial da Hays. A empresa que realiza anualmente mais de 35 mil entrevistas a candidatos e 14 mil empresas em Portugal, Espanha e Itália, acredita que já há sinais de otimismo, mas para a generalidade dos inquiridos a prudência ainda é a palavra de ordem.

Cerca de 67,7% dos profissionais acreditam que o mercado laboral enfrenta momentos difíceis e conturbados (sobretudo gerados pela falta de confiança na economia, baixos níveis de crédito e liquidez, dívidas públicas e uma legislação laboral inflexível, argumentam), mas isso não significa que a estagnação se imponha. Todos os setores, sem exceção, foram afetados pela crise incluindo aqueles onde, regra geral, a flutuação é dominante, como o setor farmacêutico. Uma realidade que gera nos candidatos um misto de otimismo e prudência. É que se apenas 11,5% dos inquiridos diz conseguir encontrar boas oportunidades disponíveis, 12,8% assumem que o mercado já começa a ganhar terreno.

Ainda assim, como refere a Hays, “merece destaque o otimismo que os candidatos e as empresas assumem perante a atual conjuntura económica”. O documento, divulgado esta semana, revela que “a generalidade dos candidatos espera melhorar a sua situação ainda este ano e, muitas empresas (embora não a maioria) consideram a hipótese de ampliar as suas estruturas”. Uma realidade que deixa portas abertas a quem procura uma nova oportunidade no mercado.

E são muitos os profissionais portugueses decididos a arriscar apesar da crise. Mais de 80% dos profissionais inquiridos pela Hays, apesar da esmagadora maioria estar no ativo (82,5%), pensa mudar de emprego em 2010, de forma a progredir na carreira. As agências de recrutamento, as redes de contactos pessoais e a internet são os meios eleitos para levar a cabo esta tarefa. E na sua maioria, 52,1%, os profissionais portugueses assumem que aceitariam um novo emprego por menos salário, desde que o desafio e a motivação o justificassem.

Nada de muito relevante, se tivermos em conta que a estagnação salarial já parece dominar a realidade nacional desde o ano passado. Cerca de 59,3% dos profissionais inquiridos não receberam qualquer tipo de aumento em 2009, o que representa um aumento de 19,2% face aos dados apurados em 2008. Para os restantes, apurou a Hays, “os aumentos foram moderados, não ultrapassando na maioria dos casos os 3%”. Ainda assim, o inquérito revela que 14,6% dos profissionais considera o seu salário adequado às funções que desempenha e 45,8% consideram-no aceitável. Em matéria de práticas remuneratórias, merece destaque o crescimento da remuneração variável que faz já parte do pacote salarial de 40,8% dos profissionais, sendo calculada a partir de resultados e objetivos individuais ou da empresa.

As perspetivas de progressão, remuneração e a procura de satisfação pessoal parecem ser os principais motores de rotatividade no mercado laboral. O interesse do projeto, a insatisfação com a entidade empregadora e impossibilidade de conjugar a vida profissional com a familiar, são outros dos fatores que influenciam um mercado em constante mutação. Conjuntamente, acredita a Hays, estes fatores podem estar na origem da elevada percentagem de profissionais (82,2%) que, apesar da conjuntura económica que o mercado ainda atravessa, considera a hipótese de mudar de emprego já em 2010 e que regista um crescimento de quase 15% face a 2009.
Numa fase de mudança e talvez devido à sua margem de negociação limitada, estes profissionais tendem a valorizar menos os benefícios não-financeiros nas propostas de trabalho que recebem, mas ainda assim atribuem-lhes 89% das preferências. A maioria (64,3%) encontra-se disponível para desenvolver funções no estrangeiro e 84,1%, arriscaria mudar para outras regiões de Portugal.

Entre as empresas, a visão dominante é de que “é necessário adequar o negócio às dificuldades e remunerar de acordo com os resultados alcançados”, razão pela qual a componente variável é cada vez mais um elemento importante nas negociações salariais. Segundo a Hays, “apesar das dificuldades sentidas, o cenário não é tão negativo quanto seria de esperar e a maioria das empresas inquiridas não só lidou de forma adequa-a com o ambiente económico delicado, como ainda conseguiu evitar despedimentos e manter os níveis de benefícios dos colaboradores”.

Apesar de 2009 se ter pautado por ser um ano de condições adversas, 72,3% das empresas contactadas neste estudo não efetuaram despedimentos e entre os 27,7% dos que tiveram de recorrer a esta opção, o peso das demissões ronda os 15% dos quadros da empresa.

Sólida experiência profissional, conhecimentos técnicos e linguísticos e alguma indisponibilidade para a negociação de ofertas salariais mais elevadas, são alguns dos fatores mais valorizados entre as entidades empregadoras no momento de selecionar novos candidatos. Esquecidas não ficam também competências ao nível da aptidão comercial, capacidade de negociação, competência tecnológica, orientação para resultados e trabalho em equipa. E a boa notícia é que 45,5% das empresas inquiridas planeia aumentar o seu número de colaboradores em 2010.



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