Outplacement recoloca 70%
A procura dos serviços de transição de carreira (outplacement) está a aumentar em Portugal. Com a subida do desemprego são cada vez as empresas que, vendo-se obrigadas a dispensar colaboradores procuram dar-lhes um apoio especializado com vista à recolocação numa nova função, e também os profissionais que a braços com uma situação de despedimento, procuram um serviço especializado que os aproxime do mercado.
01.03.2013 | Por Cátia Mateus
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Apesar da conjuntura adversa, uma das empresas que operam no sector, a Transitar, garante que no ano passado conseguiu recolocar 73% dos profissionais que recorreram ao serviço.
Os especialistas de outplacement, líderes das empresas que atuam no mercado nacional, reconhecem que a conjuntura não gera grandes facilidades na reintegração profissional, mas apesar disso o negócio das empresas cuja atividade é ajudar os trabalhadores que ficam no desemprego a encontrar uma nova ocupação, está a crescer no país. Empresas e particulares recorrem cada vez mais a estes serviços. As primeiras atuam numa lógica de responsabilidade social, contratando consultoras especializadas em transição de carreira, para ampliar as hipóteses de reintegração dos colaboradores que, fruto da conjuntura, se veem forçadas a dispensar. Os segundos procuram o serviço autonomamente, sempre que o antigo empregador os lança no desemprego, sem rede.
“A procura pelos serviços de ouplacement tem vindo a crescer e vai manter-se essa tendência”. A estimativa é Yves Turquin, o líder da Transitar, uma das empresas de serviços de transição de carreira. No último ano, a Transitar recolocou no mercado 73% dos profissionais que apoiou, num tempo médio de 5,7 meses por recolocação. A indústria farmacêutica foi, segundo o especialista, o sector que mais recorreu aos serviços de ouplacement. O sector representou mesmo metade da atividade da empresa, mas a lista integra ainda o sector alimentar, a banca, as telecmunicações e as tecnologias de informação. E se no início, o recurso ao outplacement era quase exclusivo das multinacionais, hoje o seu potencial é reconhecido por um número crescente de empresas.
Analisando as recolocações que realizou, por sector de atividade, Yves Turquin esclarece que as áreas comerciais e de marketing foram as que absorveram o maior número dos colaboradores recolocados (26%), ainda que o desenvolvimento de projetos de empreendedorismo tenha também assumido um dimensão interessante (23,6%). Segundo o especialista, os candidatos com idades acima dos 45 anos, registaram uma taxa de recolocação de 58%, deitando por terra a ideia de que acima dos 40 há poucas hipóteses de regressar ao mercado na atual conjuntura. Contudo, o especialista não nega as dificuldades e reconhece que face à crise, “há uma maior dificuldade dos profissionais em fazer uma transição de carreira bem sucedida sem ajuda especializada”.
A intervenção dos especialistas de outplacement junto dos profissionais faz-se em várias fases: apoio psicológico dos candidatos para os ajudar a superar o trauma do desemprego, um balanço do percurso do candidato para descobrir o que o motiva, a criação de um plano de marketing e pessoal e a definição de um projeto pessoal a longo prazo. Este processo poderá ter durações distintas, consoante as áreas de desempenho, os perfis e até a idade.
Na Bridge Outplacement, a empresa do Grupo Galileu, um processo de recolocação profissional dura em média seis meses. José Marta, partner da empresa, “a tendência é para que este tempo aumente”, fruto da conjuntura económica. À semelhança das estatísticas alcançadas pela Transitar, também aqui a média de recolocações foi em 2012 de 70%. O especialista destaca também uma franja cada vez mais relevante de profissionais que vencem o desemprego pela via do autoemprego. Para José Marta, os serviços de Acompanhamento de Carreira Profissional têm vindo a ganhar adeptos entre os particulares, “como forma de melhorar a sua performance e estarem atualizados com as técnicas que favoreçam a empregabilidade”. A tendência é para que estes serviços aumentem.
Anabela Ventura, diretora geral da Lee Hecht Harisson/ DBM, presente há 21 anos no mercado nacional de ouplacement, realça o fator idade e o seu impacto na duração dos processos de recolocação. “A missão destes serviços é trabalhar com os profissionais até que eles estejam efetivamente recolocados no mercado. É um trabalho de meses, num mercado onde os candidatos têm, atualmente, de ser muito bem preparados para conseguir uma nova oportunidade”. Em média a LHH/DBM registou em 1012 médias de recolocação de 6,9 meses para quadros qualificados acima dos 40 anos (uma idade considerada crítica em termos de reintegração profissional) e 8,9 meses para perfis administrativos e técnicos na mesma faixa etária onde, reconhece a diretora geral, “as dificuldades de colocação são maiores”. Cerca de 10% das recolocações conduzidas pela empresa foram formalizadas no estrangeiro. Uma realidade que para Anabela Ventura é cada vez mais comum entre os portugueses. “Há poucas oportunidades no mercado nacional, mas os portugueses mudaram muito nos últimos anos e a mobilidade, dentro e fora do país, já não é um entrave”, enfatiza.
Benefícios para os colaboradores
Dispensar colaboradores é possivelmente a tarefa mais difícil para um líder empresarial ou para um gestor de recursos humanos. Mas segundo as empresas especializadas na gestão de processos de transição profissional, há possibilidades de minorar o impacto destes processos e claras vantagens para os colaboradores no recurso ao outplacement, quer em termos de integração profissional efetiva, quer no aspeto motivacional.
A primeira das vantagens de oferecer aos colaboradores dispensados um apoio especializado que lhes permita novas possibilidades de carreira, tem desde logo a ver com a capacidade das empresas ajudarem os colaboradores a redefinirem a sua trajetória profissional. Em muitos casos, os trabalhadores dispensados não abordam o mercado de trabalho há vários anos, necessitando por isso de ajuda na construção ou reformulação do seu currículo e carta de apresentação, preparação para entrevistas ou redefinição de necessidades de formação e atualização profissional.
Segundo os especialistas, o envolvimento dos profissionais neste processo ajuda-os também a manterem-se ativos, reduzindo a tendência para o isolamento inicial e a desmotivação. Na essência, este processo implica a dedicação total do colaborador acabando por transformar o processo de procura de emprego numa ocupação a tempo inteiro. Em muitos casos, as empresas que prestam serviços de outplacement dispõem de um escritório equipado onde o profissional se pode dedicar, com as mesmas rotinas que teria estando no ativo, à procura uma nova colocação.
Outra das vantagens reside no trabalho de orientação que estes especialistas em recolocação profissional podem realizar junto do candidato, levando-o a desenvolver e otimizar a sua rede de contactos (networking)- que é atualmente uma das principais portas de entrada no mercado de trabalho - , trabalhar técnicas de marketing pessoal e assertividade. Na essência, este apoio no regresso à empregabilidade poderá ser determinante para que o candidato repense a sua trajetória profissional, definindo novas áreas de atuação, apostando em formação e atualização de conhecimentos ou até, investindo na concretização de um projeto de autoemprego.
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