Marisa Antunes
FOI baptizado como Mercado do Carbono e nele está subjacente a
consciência ambiental dos países que se comprometeram, através
do Protocolo de Quioto, a reduzir o efeito de estufa do planeta. Um esforço
convertido em multas e créditos consoante se emite mais ou menos
dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera. A introdução
de novos mecanismos menos poluidores no processo de produção
começou, entretanto, a dinamizar - ainda que timidamente -, o mercado
de trabalho em Portugal.
Como aponta Humberto Rosa, secretário de Estado
do Ambiente ao EXPRESSO,
«o mercado do carbono já criou
novas oportunidades de negócio no âmbito da consultoria ambiental
e existe toda uma frente directa de criação de emprego associado
aos operadores ao nível de apoio na monitorização
das emissões, nos relatórios que as empresas devem emitir
com os níveis de CO2, que por sua vez, são validados pelos
'verificadores' (que efectivam essas emissões)».
Mas não só. O governante lembra que, indirectamente, o mercado
do carbono, ao surgir em complemento com as energias renováveis
- fundamentais para produzir energia mais limpa -, é também
responsável pela criação indirecta de postos de trabalho.
Tomás Ramos, especialista em emprego ambiental e docente na Faculdade
do Ambiente, na Universidade do Algarve acredita também num dinamismo
do mercado de trabalho associado a esta nova realidade:
«Neste
momento, é uma área prioritária e com um grande potencial
em termos de criação de trabalho. As universidades já
se aperceberam disso e muitas estão já a pensar em ter especializações
e mestrados associados a esta área».
Para já, existem em Portugal 244 «operadores», ou seja,
empresas dos sectores mais poluidores como a energia, cimento, papel ou
o vidro a quem o Estado atribuiu licenças com limites de emissão
de CO2. Esta semana foi activado o Registo Português de Licenças
de Emissão (RPLE), que, na prática, permite a esses operadores
deixarem de efectuar as suas transacções de CO2 no mercado
de futuros, como faziam até agora, e passarem a fazê-lo no
mercado corrente.
«Todas as empresas obrigadas pela Directiva ao comércio
de emissões estão em movimento, adaptando as suas operações
a esta nova realidade. Não tendo um conhecimento detalhado de todas
as empresas posso afirmar que um grande número delas estão
já a implementar estratégias de redução das
emissões. E sem dúvida que as acções já
em curso implicaram o reforço das equipas das empresas, pela necessidade
de serem atendidas as novas competências técnicas exigidas
por estas acções», refere Luís Rochartre,
secretário-geral da BCSD Portugal Conselho Empresarial para o Desenvolvimento
Sustentável. Esta associação sem fins lucrativos,
ligada à WBCSD - World Business Council for Sustainable Development,
foi criada pela Sonae, Cimpor e Soporcel, em conjunto com 33 empresas,
com o objectivo de promover a articulação entre o sector
privado, Estado e sociedade civil nas questões que assentem no
desenvolvimento sustentável como a eco-eficiência ou a responsabilidade
social.
Além das adaptações funcionais nos chamados «operadores»,
surgiram também novas especializações nas multinacionais
de auditoria e até empresas criadas de raiz para assessoria ambiental.
«As primeiras empresas emergentes desta nova realidade são
de consultoria técnica. Penso ainda que o mercado irá incentivar
a criação de empresas especializadas na monitorização
das emissões, bem como outras especializadas no desenvolvimento
de estratégias de redução da intensidade energética
e numa abordagem mais lata da eco-eficiência», reforça
ainda Luís Rochartre.
A E-Value faz parte desse grupo de empresas emergentes cuja principal
área de actuação se centra no mercado do carbono,
não só prestando consultoria nos sectores mais poluidores
mas também nos tradicionais. Um dos projectos da E-Value, em colaboração
com a Associação dos Produtores Florestais assenta na criação
de uma marca - o «Carbono Zero» - ao qual as empresas, se
podem candidatar, se compensarem as suas emissões de CO2 através
da reflorestação, por exemplo.
«A receptividade
das empresas está a ser muito boa, pois mesmo nos sectores tradicionais
existe a consciência de que é uma oportunidade de negócio
apostar neste tipo de marcas», explica José Eduardo Barroso,
director da E-Value. Quanto às empresas dos sectores mais poluidores,
dos chamados «operadores», só agora, com a activação
do RPLE, se pode esperar um maior fluxo na requisição de
serviços de consultoria ambiental, remata o director da E-Value.