Marisa Antunes
UM MAU recrutamento pode ser o início de uma bola de neve capaz de provocar sérios danos numa empresa. Até mesmo a sua ruína. Uma grave falha de gestão de recursos humanos que acontece com surpreendente frequência. «As estatísticas mostram que cerca de metade das situações de emprego acabam por se revelar um mau recrutamento», sublinha Rui Moura, presidente da Associação Portuguesa de Sociologia Industrial das Organizações e do Trabalho.
«As consequências de uma má contratação podem ser enormes, tanto maiores quanto o impacto que a função tem internamente na empresa — no caso das funções de chefia — e externamente no mercado, nos clientes, nos fornecedores», realça, por seu turno, Ana Luísa Teixeira, directora da MRI Worldwide Portugal, empresa de «executive search».
Até porque, recrutar alguém pressupõe um investimento de tempo e dinheiro, como sublinha Ana Loya, «managing director» da Ray Human Capital, que opera na mesma área. «A contratação de um quadro superior exige, no mínimo, dois a três meses. Um período em que outras pessoas estão sobrecarregadas pela ausência deste novo elemento. Segue-se depois o período de integração e de formação, que no caso de uma má decisão implica voltar ao princípio. Quanto maior a responsabilidade do cargo tanto maior o prejuízo».
Prejuízos que, como sublinha Ana Luísa Teixeira, «mais tarde ou mais cedo traduzem-se sempre em euros». «Ter a equipa desmotivada leva a empresa a ser menos competitiva, responder com menor eficácia às solicitações do cliente, não ser tão criativa no desenvolvimento de novos produtos. Más decisões de produção podem levar a ‘stocks', ‘monos', defeitos. Más decisões estratégias podem arruinar a empresa», remata.
Um estudo elaborado pelo consultor empresarial Bradford Smart concluiu que a pessoa errada num lugar de chefia pode, ao fim de dois anos, custar à empresa 24 vezes o seu salário anual. Com base em entrevistas a 4204 executivos de 123 empresas, o consultor americano apurou que muitos administradores fizeram, ao longo das suas carreiras, recrutamentos indesejáveis com consequências nefastas para os resultados das suas companhias.
«Até mesmo funções que parecem pouco valorizadas, como recepcionista ou assistência técnica, podem, ser desempenhadas pela pessoa errada, e ‘deitar por terra', junto de alguns clientes, a boa imagem de uma empresa. E cada cliente insatisfeito influencia negativamente outros potencias clientes», refere Ana Teixeira.
Evitar o mau recrutamento passa pela identificação de vários factores. «Além dos requisitos fundamentais, como sejam a experiência e as provas dadas, existe todo um ‘background' pessoal e profissional. Importa analisar a cultura das empresas onde o candidato trabalhou antes, a dimensão das mesmas, se são multinacionais ou familiares. Além disso, convém perceber qual a etapa da carreira em que o profissional se encontra», pormenoriza Ana Loya.
Rui Moura reforça: «As empresas devem testar os candidatos através de provas curriculares, escritas e orais, ou proceder mesmo a simulações de ‘performance' e, após a selecção, preparar um programa de acolhimento para os novos empregados, bem como um processo de acompanhamento durante os primeiros meses, reduzindo os riscos de uma má contratação para a empresa».