Poderá parecer demasiado linear dizer que há muitos engenheiros no mercado, mas poucos entre eles têm o dom da liderança. Mas para o académico Nathan Furr, professor de empreendedorismo e autor do livro The Innovator's Method (O Método dos Inovadores), esta é exatamente a forma de resumir o cenário com que se deparam muitas empresas no momento de contratar. Para o especialista, uma grande parte das empresas tecnológicas enfrentam hoje dificuldades de contratação, em parte porque a crescente procura por profissionais capazes de liderar equipas e processos de investigação e desenvolvimento internos, não encontra compatibilidade com os perfis disponíveis no mercado e este, garante, é um problema global. ?
“Em mercados competivos como o atual, o desenvolvimento sustentado de inovação tecnológica tornou-se imperativo. Razão pela qual as empresas do sector necessitam de líderes, com formação técnica em engenharia, capazes de conduzir as suas equipas num caminho de inovação e competitividade permanente”. Um perfil que, para o especialista, é pouco cultivado durante o processo de formação de um engenheiro. Realça Furr que as instituições estão muitas vezes focadas na excelência técnica dos candidatos, deixando de lado outras competências que cada vez mais vitais para as empresas e para os seus desafios atuais.
Como se constrói um líder?
Capacidade de comunicação, empatia, conhecimentos profundos e transversais das várias áreas do negócio e uma agilidade natural para identificar inovação e empreendedorismo e fomentá-los internamente são, cada vez mais, competências tão vitais para um engenheiro como o seu background técnico. Para o especialista, grande parte dos profissionais são bons no desenvolvimento de soluções e funcionalidades, mas falham no entendimento do que estas representam no contexto do negócio e da sua relevância. Desenvolver perfis de liderança exige, trabalhar estas competências. “A liderança exige acima de tudo a capacidade olhar e abordar os problemas de uma outra forma e isso aprende-se”, realça.?
Esta abordagem tem, de resto, vindo a assumir uma tendência crescente no contexto internacional de recrutamento. Para colmatar esta lacuna, um número crescente de organizações têm firmado parcerias com instituições de ensino capazes de dotar profissionais com excelentes competências técnicas com as também necessárias competências comportamentais e de desenvolvimento do negócio. Uma tendência que também já se vislumbra em Portugal.
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova (FCT-Nova), por exemplo, implementou há três anos um novo sistema curricular nos seus cursos que trabalha com os engenheiros em formação na instituição estas competências, com o objetivo de os posicionar de forma mais competitiva no mercado de trabalho. De igual modo, a procura de MBAs por perfis da área das engenharias também tem vindo a aumentar, à medida que se eleva o crivo das empresas no recrutamento destes profissionais.