Cátia Mateus
O caminho da universidade para o mundo empresarial é, não raras vezes, uma distância difícil de percorrer. Para um recém-licenciado, todos os pontos contam na altura de encontrar um emprego à medida das suas aspirações e ganha a corrida quem se conseguir destacar. Por mais contraditório que pareça na altura de recrutar um jovem, muitas empresas valorizam, além da formação, a experiência profissional anterior do candidato, mesmo que se trate de experiências pontuais. Uma realidade que fez crescer a popularidade do trabalho temporário entre os estudantes e jovens em início de carreira, que por esta via tentam capitalizar experiência e assegurar um lugar no competitivo mercado laboral.
Susana Ramos, de 26 anos, trabalha há dois no sector da banca, desempenhando funções na sua área de formação, o marketing. Mas a sua ligação à instituição que a emprega é anterior a estas funções. Ainda estudante, Susana teve um primeiro contacto com a empresa, desempenhando funções ao nível administrativo, durante dois meses.
Além desta experiência temporária teve outras, desde operadora de «call-center», a secretária, passando por recepcionista. Susana Ramos acredita que estas experiências que teve ainda enquanto estudante foram muito úteis para a sua preparação no momento de encontrar um emprego que se adequasse à sua área de formação.
Para a jovem, mesmo quando o objectivo da empresa é recrutar um recém-licenciado, «a experiência laboral prévia é sempre valorizada porque é sinal de dinamismo e ao mesmo tempo uma garantia para a empresa de que já há uma familiarização com as normas do mundo do trabalho». Na opinião de Susana Ramos, «o trabalho temporário pode ser uma boa porta de entrada para o emprego permanente». Isto porque, como refere, «as empresas acabam por conhecer o perfil profissional daquela pessoa e se gostarem, a oportunidade temporária pode gerar um emprego permanente».
Rui Silva, membro do Conselho de Gerência da empresa de Trabalho Temporário Tutela, explica que «habitualmente os trabalhadores temporários permanecem entre três a seis meses nas empresas utilizadoras, muito embora o período de permanência em regime de trabalho temporário seja por vezes mais longo». Para o especialista, «existem claras vantagens para os jovens através deste regime contratual».
Rui Silva acredita que o trabalho temporário «funciona como uma montra das qualidades técnicas e comportamentais dos jovens, onde podem deixar claro de que modo podem ser úteis às organizações onde trabalham». O responsável salienta que «existem inúmeros casos em que os colaboradores são chamados, em momentos diferentes, pelas empresas, com progressos visíveis ao nível dos patamares de responsabilidade que assumem, culminando com frequência na contratação directa para os quadros».
Uma tendência que Liesbeth Peters, directora de Marketing da Randstad, confirma referindo que o perfil-tipo do trabalhador temporário português reside exactamente nos jovens em busca do primeiro emprego, recém-licenciados ou profissionais em situação de desemprego. A especialista enfatiza a ideia de que «as empresas que mais recorrem ao trabalho temporário são de grande e média dimensão, geralmente multinacionais que estão habituadas a utilizar estes serviços como gestão estratégica e que têm uma visão social moderna das relações laborais».
Liesbeth Peters salienta que «o trabalho temporário é cada vez mais utilizado em Portugal, aproximando-se em grande escala aos níveis de utilização noutros países da Europa». Funções ligadas ao sector da indústria, call-center, administrativo, comercial, turismo e logística, são segundo a responsável as áreas que mais procuram trabalhadores por períodos de curta duração.
A directora de marketing da Randstad adianta que são frequentes as ingressões de trabalhadores temporários nas empresas que recorrem aos serviços, sobretudo nos perfis mais administrativos. «A empresa já conhece o seu trabalho por um lado, e por outro, o trabalhador já conhece a cultura da empresa e o tempo que despendeu em formação ao longo do contrato temporário não é desperdiçado», argumenta.
Liesbeth Peters reforça ainda a importância desta forma de trabalho para os jovens e recém-licenciados, «possibilitando-lhes a oportunidade de contactarem, pela primeira vez, com a realidade laboral e empresarial, adquirirem competências profissionais e de as dar a conhecer a um maior número de empregadores». A especialista enfatiza a ideia de que «o trabalho temporário pode constituir uma porta de acesso a postos de trabalho permanentes e permite o enriquecimento e diversificação do currículo profissional».
Na opinião de Márcia Trigo, docente universitária e coordenadora do MBA em Liderança & Gestão de Negócios, da Business School da Universidade Autónoma de Lisboa, «o trabalho temporário tornou-se em poucos anos a via privilegiada de primeiro emprego, tanto para pessoal qualificado, como desqualificado». A docente adianta que esta modalidade laboral tem um impacto muito positivo ao nível da integração laboral dos jovens, indo de encontro à flexibilização do mercado de trabalho que será crescente numa economia global e sem fronteiras.
Márcia Trigo acredita que «o trabalho vai ter cada vez mais a duração de um projecto ou de uma fase desse projecto». E que as funções temporárias exigirão uma qualificação cada vez maior. Isto porque, como realça Márcia Trigo, «acabou a garantia de trabalho permanente e para toda a vida. Por isso, a aquisição de novas competências ao longo da vida, associada à disponibilidade para a mobilidade, constitui-se hoje como a melhor garantia de trabalho em qualquer empresa».