Em Portugal, a percentagem de profissionais que não fecha as portas a uma oportunidade de trabalho além-fronteiras supera a média mundial. Ainda que um número significativo de profissionais há muito se sentissem aliciados por uma carreira internacional, a crise económica nacional e a escalada do desemprego tem empurrado, nos últimos anos, para fora de portas muitos portugueses. Um estudo do The Boston Consulting Group (BCG) traduz a tendência em números: entre 70 a 80% dos portugueses estão dispostos a trabalhar fora do país. A nível mundial, esta percentagem ronda os 63,8%.
“Portugal entra no conjunto de países que, devido à situação económica mais instável, tem como fatores explicativos desta tendência a oportunidade dos trabalhadores progredirem profissionalmente fora do país e de terem melhor qualidade de vida”, explica Carlos Barradas, senior partner e managing director da consultora BCG em Portugal. Os números demonstram que a decisão de internacionalizar a carreira não é exclusiva dos portugueses. O que muda são as razões pelas quais portugueses e profissionais de outros países decidem emigrar. Segundo a consultora, enquanto em Portugal se emigra em busca de melhores condições de vida, “os trabalhadores de países com padrões de qualidade de vida mais elevados justificam a disponibilidade para trabalhar em território internacional pela própria experiência”.
Carlos Barradas explica que “o desafio para as empresas portuguesas consiste na definição de propostas de valor atrativas para os seus trabalhadores, que incluam aspetos de mobilidade, aprendizagem, novas experiências e desenvolvimento pessoal”. Para o especialista, “o interesse em trabalhar fora do país tem muitas vezes a ver com a falta de coerência das propostas de valor que têm os seus locais de trabalho atuais e a falta de adequação às suas expectativas”. O estudo da consultora BCG permite compreender não só as necessidades dos portugueses relativamente a condições laborais, como também analisar as nacionalidades que estão mais dispostas a emigrar para trabalhar em território português. “A partir daqui as empresas portuguesas podem redesenhar os aspectos chave da sua proposta de valor e tornarem-se assim mais atrativas ao talento nacional e internacional”, reforça Carlos Barradas.
O que valorizam os portugueses emigrantes?
O estudo da BCG realça que na opção de emigração os portugueses valorizam sobretudo a oportunidade de ascensão na carreira internacional (77%), logo seguida das ofertas de trabalho globalmente atrativas (68%) e possibilidade de aumento salarial ao longo do tempo (67%). “Para que as empresas portuguesas possam atrair os melhores profissionais devem ter em conta estes três aspetos essenciais na definição da sua estratégia de recursos humanos a longo prazo”, defende o managing director da BCG.
O estudo que inquiriu 203 756 profissionais de 189 países, revela ainda que o Reino Unido (61%), Espanha (51%), Suíça (51%), Estados Unidos (48%) e Brasil (45%) figuram no ranking dos países onde os portugueses mais gostariam de trabalhar. Da lista, constam ainda França, Luxemburgo, Alemanha, Holanda e Austrália. Para Carlos Barradas, atrair talento exige que as empresas revisitem as suas propostas de valor atuais, com particular enfoque nas politicas de mobilidade funcional e internacional, assumam que a mobilidade global tem como consequência a competição global pelos melhores trabalhadores, sejam capazes de conceber novas estratégias de recrutamento (incluindo a contratação de recursos humanos fora do país) e consigam alinhar a sua estratégia de RH com as expectativas dos trabalhadores, ao nível da aprendizagem, do reconhecimento e do bom relacionamento entre equipas.