Há vários anos que Portugal procura replicar em solo nacional o modelo de formação profissional alemão que aproxima, desde o início da formação, os jovens formandos das empresas. Somam-se em Portugal exemplos de sucesso nesta área, maioritariamente impulsionados por multinacionais estrangeiras mas já adotados também por empresas portuguesas. A elevada taxa de empregabilidade destes cursos (uma larga percentagem excedem os 90% de colocação após a conclusão da formação), mesmo num contexto nacional em que o desemprego jovem atinge níveis dramáticos, e a sua forte componente de capacitação prática fazem muitas empresas apostar nesta via como forma de identificar, qualificar e atrair talento para as empresas. Em organizações como a Siemens, a Toyota Caetano ou a Volkswagen, a formação dual já representa uma importante fonte de recrutamento. Mas mais pode ser feito.
Assente numa ligação estreita entre as escolas e as empresas, seja através do acolhimento de estagiários no âmbito da componente prática de formação, da própria formação técnica ou de estágios de pós-formação, o modelo dual de ensino é, segundo José Luís Presa, presidente da Associação Nacional das Escolas Profissionais (ANESPO), praticado em Portugal há mais de 25 anos. “É isto que as escolas profissionais portuguesas fazem”. A associação que promoveu esta semana um debate sobre as diferenças e semelhanças entre o ensino profissional português e o sistema dual alemão, em colaboração em colaboração com a Fundação Friedrich Ebert, a Confederação Nacional de Educação e Formação (CNEF) e a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, reconheceu recentemente no âmbito do seu VI Congresso que as metas definidas para o ensino profissional em Portugal pecam por desfasamento em relação à média europeia. O objetivo de Portugal é que até 2020 o país tenha 50% dos alunos do ensino secundário a frequentar cursos profissionais. Nos países mais avançados, e que registam menores taxas de desemprego jovem, esta percentagem há muito que se situa nos 70%.
Segundo Octávio Oliveira, secretário de Estado do Emprego, em setembro deste ano Portugal registava cerca de 40 mil alunos no sistema de aprendizagem dual. O membro do executivo destaca a relevância deste modelo de ensino para a promoção da empregabilidade jovem, destacando porém que “é fundamental que a estes cursos esteja subjacente uma lógica de empregabilidade” Para Octávio Oliveira, “qualquer investimento feito em formação deve ser sempre orientado para a empregabilidade, para que exista um retorno e para que quem obtém as qualificações possa vir a ter uma aplicação direta ao mercado de trabalho. Sabemos hoje que o sucesso e a qualidade da formação é tanto maior quanto mais ela estiver ligada à prática”.
É isso que têm feito empresas como a Siemens, a Toyota Caetano, a Volkswagen e tantas outras em Portugal. A tecnológica Siemens promove cursos de aprendizagem dual há mais de 20 anos em Portugal e acredita que este modelo pode ser, para um número crescente de jovens profissionais, uma opção estratégica para a integração no mercado de trabalho. A empresa integra, em conjunto com a Autoeuropa, o núcleo de fundadores da ATEC a academia de formação que desenvolve o modelo dual de ensino combinado a formação teórica com a experiência prática em áreas como a automação, mecânica ou eletrónica, com elevada taxa de sucesso. Parte dos recursos humanos que a empresa contrata anualmente derivam daqui e Siemens anunciou recentemente que está a contratar perfis de programação, TI e eletrónica para o seu novo centro de competências em Portugal.
A Toyota Caetano tem um projeto formativo semelhante. A empresa reforçou recentemente o protocolo que já detinha com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) com vista ao desenvolvimento de cursos de aprendizagem dual. O reforço da parceria, agora mais diversificada e abrangente, “pretende qualificar cerca de 1500 formandos, executar um volume de formação de 1,5 milhões de horas e obter um rácio de empregabilidade na ordem dos 85%, à semelhança do já realizado entre 2009 e 2014”, explica a empresa. Os cursos decorrerão em Braga, Vila Nova de Gaia, Ovar, Carregado e Rio de Mouro incidindo sobre as áreas comercial, informática, metalomecânica, metalúrgica e construção e reparação de veículos a motor. Numa altura em que Portugal é apontado como um dos países que regista maior fosso entre as competências requeridas pelas empresas e a qualificação específica dos profissionais disponíveis no mercado, o ensino dual está a entrar cada vez mais na lista de opções de empresas e candidatos que procuram um lugar no mercado de trabalho.