Cátia Mateus
A tendência já conquistou o mundo laboral americano onde os especialistas a apontam como uma das melhores tácticas para conseguir um emprego. Aproveitando a aposta das empresas na ‘blogosfera' como estratégia de «marketing» de proximidade e o crescimento do número de blogues organizacionais, os americanos descobriram nestes espaços «on-line» uma nova funcionalidade: a do recrutamento. Por lá diz-se: “quer emprego? Vá ao blogue”. Por cá, a tendência ainda deixa cépticos os especialistas de recursos humanos, embora comece a cativar os CEO das organizações nacionais que, cada vez mais, encontram nos blogues o espaço de eleição para um contacto próximo com os seus públicos-alvo. O recrutamento pode ser o próximo passo.
O conceito é simples, lógico e extravasa o papel do blogue enquanto repositório de anúncios de emprego, embora essa também possa ser uma ferramenta válida e com grande aceitação em todo o mundo. Trata-se de utilizar um blogue ao serviço da sua promoção pessoal, mas com regras e estratégias bem definidas. Além de complemento ao tradicional currículo, o blogue pode incrementar largamente a sua rede de contactos e garantir-lhe um acesso directo ao seu futuro chefe.
Para a especialista americana Penelope Trunk — empresária, colunista do Boston Globe e autora do livro ‘Brazen Careerist: New Rules for Success' que será editado em Maio deste ano — “blogar pode ser uma das melhores formas de conseguir um emprego”. A especialista não tem dúvidas de que a estratégia que já conquistou a América terá repercussões no resto do mundo “à semelhança do que vem acontecendo com as tecnologias”.
E como? Simples: uma parcela significativa dos americanos descobriu uma forma hábil de se fazer notar e chamar a atenção dos CEO para quem gostariam de trabalhar. Deixaram o tradicional currículo de lado e passaram a frequentar os blogues desses líderes colocando comentários nos seus «posts», que não são apelos desesperados de emprego, mas sim opiniões fundamentadas sobre o tema proposto.
E como não há escritor que não valorize o impacto que os seus escritos têm no público, é garantido que os comentários serão notados (podendo gerar o debate e a resposta) e quanto mais habituais forem e mais conteúdo crítico tiverem, maior será a curiosidade do potencial recrutador em conhecer pessoalmente o visitante do blogue. Esta ‘relação virtual' ficará ainda mais beneficiada se o candidato a emprego tiver também um blogue pessoal que o apresente enquanto profissional e que funcione como montra do seu perfil e qualificações.
Penelope Trunk realça ainda outra vantagem dos blogues, neste campo, é o facto de servirem de montra da cultura da empresa. A partir daí será também mais fácil a o candidato perceber se se enquadraria na organização e qual o contributo que poderia dar para a sua evolução. E se nos Estados Unidos a estratégia tem vindo a assumir um sucesso crescente, levando a especialista a garantir que “há uma percentagem significativa dos comentadores de blogues institucionais que acabam por integrar os quadros dessas empresas”, por cá o tema ainda gera opiniões contraditórias. Se nos EUA a generalidade dos CEO das grandes companhias possui e alimenta o seu blogue pessoal, considerando-o uma forma de comunicação eficaz, por cá o número de organizações que aposta nesta ferramenta é residual.
A empresa de capital de risco Gesventure é uma delas. O seu líder, Francisco Banha, explica que o objectivo deste blogue não é o do recrutamento mas sim a proximidade com os potenciais ‘clientes', mas não nega que o futuro pode passar por aí. “A utilização de blogues está a crescer e esta é uma ferramenta de comunicação directa bastante eficaz que permite dar a conhecer a cultura de determinada organização, as suas metas e as estratégias para alcançá-las. Isto, naturalmente, gera interesse entre os profissionais que se identifiquem com as nossas práticas”.
Francisco Banha diz nunca ter recrutado ninguém que lhe tenha “chegado via blogue”, mas não fecha as portas a esta hipótese assegurando que “a nova geração de profissionais vai seguramente utilizar esta ferramenta e as organizações têm de começar a encarar esta realidade e a assegurar a sua presença na blogosfera”.
Mas para a especialista de recursos humanos Ana Loya, directora-geral da Ray Human Capital, “em Portugal essa prática está ainda no domínio da ficção científica”. Ana Loya, acredita que “em teoria, até pode ser algo interessante porque permite ao candidato conhecer o líder e a cultura da empresa antes de lá trabalhar”, mas não saber se “a nossa cultura e os nossos hábitos enraizados nos permitirão chegar a esse patamar”.
Contudo, a responsável equaciona a hipótese de “com a nossa apetência por tudo o que é tecnológico e com o eventual crescimento da aposta das empresas na criação destes blogues institucionais, é possível que a prática se instale parcialmente, sem nunca substituir os meios tradicionais de abordagem ao mercado que estão muito enraizados”. Enquanto esse dia não chega, comentar um blogue é, sem dúvida, uma excelente forma de alargar o seu «networking» e partilhar conhecimentos.