Faz-se fila em frente ao auditório para assistir à formação em marketing digital dirigida pela Google. Mas apesar de o assunto ser avesso ao papel, os formandos só entram depois de passar o código impresso numa folha A4 pelo leitor eletrónico. Além disso, e mesmo que alguns exercícios passem pela criação de páginas de internet e de planos de marketing, “os computadores não são material obrigatório”, ressalva a coordenadora Ana Rita Gouveia, que ‘pica o ponto’ dos participantes da terceira formação presencial do Atelier Digital da Google, no Instituto Politécnico de Setúbal (as primeiras decorreram em Aveiro e em Leiria), a 19 de abril.
Eunice Pedro, de 28 anos, que abandonou Angola há um ano para estudar Gestão, acreditava, até agora, que “marketing significava vendas”. Mas depois de pesquisar mais — e melhor — sobre competências digitais, percebeu que para criar o seu negócio era preciso saber comunicar com o público certo, nas horas certas, com as palavras certas, bem como identificar o ‘certo’ com a ajuda de ferramentas de medição e avaliação. É este o núcleo desta iniciativa gratuita da gigante tecnológica (apoiada pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, pelas universidades do Porto e Nova de Lisboa e pela SIC Esperança), que em pouco mais de três meses chegou a mais de 15 mil portugueses (através de ações online e presenciais, de três dias).
De acordo com o formador, Marco Gouveia, compreender “as ferramentas e oportunidades, como podem exportar com facilidade num mundo digital global e o pouco dinheiro que é preciso investir [em ações de marketing]” poderá alargar os horizontes dos participantes. “A maior parte das pessoas não tem noção disto”, explica. Segundo dados da Comissão Europeia, estima-se que em 2020 haja quase 800 mil empregos por preencher por falta de competências digitais no Velho Continente; em Portugal o esperado são 15 mil vagas.
Formação para todos
No anfiteatro, há pessoas empregadas e desempregadas, alunos e ex-alunos, adolescentes e reformados. Ana Ravara Bello, coordenadora da iniciativa da Google em Portugal, explica que “qualquer pessoa interessada em obter competências digitais” pode participar nestas formações. Ninguém sabe como será o mundo em 2020 (três anos são suficientes para perder o rumo da revolução, acredita-se na sala), mas todos concordam que ele estará ligado — ainda que sem fios — por ainda mais milhares de milhões de telemóveis, computadores e novos dispositivos e que com eles se fará o sucesso profissional. No plano comercial, por exemplo, calcula-se que as vendas a retalho por meio digital ultrapassem os €250 mil milhões em toda a Europa, enquanto na China, 47% da população já compra a partir de plataformas eletrónicas.
Marco Gouveia, que um dia trabalhou nas defuntas Páginas Amarelas e hoje conduz esta formação, assinala, por isso, a utilidade das ferramentas de análise de dados, da publicidade digital e da otimização dos motores de busca para que a comunicação de um produto, serviço, marca ou negócio seja valorizada entre a malha de informação atual. “Usar AdWords ou e-mail marketing permite-nos visar grupos específicos, porque o objetivo já não é massificar”, enquadra. E mais: no mundo do marketing 3.0, a espiritualidade é que manda. “Foi assim que a Campbell’s [a marca da lendária lata de sopa de New Jersey] conseguiu duplicar as vendas [há 11 anos]”: passaram de uma mensagem focada nos benefícios para a saúde para uma campanha de sensibilização para o cancro da mama, ilustra o formador.
Um projeto, 25 países
Presente em mais de 25 países europeus, o Atelier Digital da Google está “a formar pessoas em competências críticas para uma economia cada vez digitalizada” e algumas delas “acabaram por criar o seu próprio negócio”, informa Ana Ravara Bello, que relata: “Quando lançamos os programas Google Motor de Crescimento [outro projeto], em fevereiro de 2015, tínhamos como objetivo treinar um milhão de europeus em competências digitais críticas. No final do ano passado, tínhamos dois milhões de pessoas formadas, o que levou a Comissão Europeia a premiar o programa pelo apoio aos negócios e pessoas.”
Através de tutorais em vídeo e escritos e de sessões interativas com diferentes formadores, o Atelier Digital estará em Portugal por tempo indeterminado a ensinar “os primeiros passos para alcançar o sucesso online, tirar o melhor partido da pesquisa, obter visibilidade com as redes sociais, criar uma loja online” ou estender o negócio a outros países, enumera Ana Bello.