Em 2020, a economia digital pode representar 20% do Produto Interno Bruto (PIB) português, criar €2,3 mil milhões de riqueza e gerar 3% de empregos especializados em tecnologia, prevê o estudo “Índice de Densidade Digital”, elaborado pela consultora Accenture e que serviu de base ao relatório “Portugal — Uma Estratégia para o Crescimento”, elaborado pelo Fórum para a Competitividade. Uma meta ambiciosa que permitiria a Portugal trepar alguns lugares no “Índice” (entre 24 economias analisadas), passando da atual 17ª posição para um lugar acima da média europeia.
Para que o país possa responder ao desafio e encarar a digitalização “com sentido de urgência”, o estudo diz ser prioritário que as empresas e o Estado portugueses se preparem para a nova era digital, apostando na formação de recursos humanos qualificados, através de uma articulação entre o ensino e o mundo empresarial. Uma medida estratégica que, segundo o grupo de trabalho para a economia digital do Fórum para a Competitividade, permitiria “educar e formar jovens não para as profissões atuais, que poderão vir a desaparecer, mas sim para lhes fornecer um conjunto de competências transversais que os ajudem a ter permanentemente as competências de empregabilidade para as necessidades do mercado de trabalho e emprego ao longo da sua futura vida ativa”.
Só assim o país estará em condições de aproveitar “as oportunidades de investimento e empregos associadas a esta digitalização da economia” e proporcionar aos jovens portugueses condições para se adaptarem “à destruição de emprego numas áreas e criação noutras” (ver caixa). Por exemplo, no sector industrial, segundo revela o relatório, “a digitalização vai implicar que 10% a 15% dos atuais empregos irão desaparecer nos próximos 10 anos” e que “serão criados outros”.
Esta reforma iria abranger os ensinos básico e secundário e passaria pela formação de professores nas áreas da programação e da transformação digital (envolvendo conceitos como a manufatura aditiva, impressão 3D, automação e robótica). Ao nível do ensino superior (universitário e politécnico), o documento propõe que seja estimulada “a ligação ente o sistema científico e tecnológico e as empresas, visando a adequação da oferta à procura de graduados nas áreas de economia digital”.
Referência internacional
Para que Portugal possa apanhar o comboio da economia digital, o relatório do Fórum para a Competitividade recomenda a criação de um canal digital entre organismos públicos, empresas e cidadãos. Uma iniciativa inspirada num projeto do Governo do Japão e que foi implementada com bons resultados recorrendo a investimento privado. Outro caso de estudo que deve ser seguido é o dinamarquês, já que este país nórdico conseguiu acabar com o papel na relação ente o cidadão e o Estado.
Se Portugal der os passos certos, o relatório defende que “também se poderá tornar uma referência internacional na economia digital, tal como fez no passado em áreas como as energias renováveis, pagamentos eletrónicos e via verde”. Para que esta transformação digital se concretize, o Fórum para a Competitividade não tem dúvidas em recomendar que “seja marcada uma data limite para que todos os contactos entre os cidadãos e a administração pública sejam feitos por via digital”.
Incentivos fiscais à inovação
Outra peça importante do puzzle que permitirá construir o Portugal Digital nos próximo anos passa pela “identificação de um cluster de empresas (nacionais e internacionais) da área digital, inovadoras, criadoras de emprego, ligadas ao mercado e ao ensino, exportadoras de tecnologia e serviços, com base em Portugal e, preferencialmente, relacionadas com a criação de patentes”.
O relatório propõe também o reforço da política de atração de investimento estrangeiro, nomeadamente centros de competências e centros de serviços partilhados que apostam em tecnologia digital. O aperfeiçoamento do ecossistema de empreendedorismo de base tecnológica também faz parte das propostas do grupo de trabalho para a economia digital.
Ao nível do financiamento, o documento recomenda que sejam definidos benefícios fiscais para as empresas de capital de risco e business angels. E propõe que seja criado cofinanciamento entre fundos públicos e operadores privados, em que estes últimos asseguram a gestão. Para que seja possível responder à procura de trabalhadores qualificados e competir com o que de melhor se faz no mundo nas áreas tecnológicas (Estados Unidos, Reino Unido, Finlândia e Singapura), o Fórum para a Competitividade considera ser importante apoiar as empresas na retenção e importação de talento.
Outra forma de estimular a inovação nacional passa pela adoção de incentivos fiscais às empresas exportadoras. “O IRC deveria ser de 5% por um período de 10 anos para os lucros referentes a propriedade intelectual desenvolvida em Portugal e exportada sob a forma de patentes, direitos de autor”, recomenda o relatório do Fórum para a Competitividade.