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O desafio da retenção de talentos

Tem dois mil funcionários e investe anualmente mais de um milhão e meio de euros na sua formação contínua. Na Qimonda todos os colaboradores, seja qual for a sua função, são obrigados a ter uma formação anual de 40 horas em sala. Uma aposta na qualificação e reciclagem de conhecimentos que se revela fundamental para o sucesso desta empresa, cá e além-fronteiras
27.03.2008


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Cátia Mateus
Criada há 11 anos, a Qimonda Portugal é a maior fábrica europeia de montagem e teste de produtos de memórias. Trabalha com dezenas de multinacionais produtoras das mais diversas aplicações digitais. Das mãos dos dois mil trabalhadores desta empresa instalada em Vila do Conde saem os semicondutores utilizados em todas as fábricas do grupo na Europa, Ásia e Estados Unidos. Uma responsabilidade de peso numa indústria que evolui à velocidade da luz e para a qual a qualificação dos quadros, e a sua capacidade de reciclagem constante de conhecimentos, são a chave do sucesso. Razão pela qual a direcção de Recursos Humanos da empresa não descuida as estratégias de captação e retenção de talentos.

“O sucesso são as pessoas”. A frase pode parecer lugar comum, mas António Pinheiro, director do departamento de Recursos Humanos da Qimonda Portugal assegura que na empresa que integra ela é levada bem a sério. Os números falam por si. No ano passado, nos dois mil quadros que integra, a empresa registou uma taxa de retenção de colaboradores na ordem dos 97% e o director congratula-se ainda com as oportunidades de mobilidade dentro da empresa, referindo que “mais de 40 colaboradores que iniciaram a sua carreira em Portugal estão neste momento colocados no grupo, fora de Portugal (sobretudo na Alemanha e nos Estados Unidos)”. Uma realidade que António Pinheiro diz só ser possível porque “a empresa definiu as suas políticas de recursos humanos de raiz, de uma forma bem estruturada e sempre consciente de que só com quadros qualificados, aptos a responder permanentemente às novas exigências do mercado e motivados, é possível alcançar o sucesso cá e no estrangeiro”.

Na verdade, parte do segredo da Qimonda reside na sua proximidade ao meio académico. A empresa sabe que só nas universidades encontra parte das competências que necessita para ser competitiva e desde cedo apostou nas parcerias para colocar o tecido académico ao seu serviço. Uma estratégia que mantém até hoje e na qual ganham todas as partes. “Quando iniciámos a Qimonda — que na altura era apenas uma fábrica e hoje acumula dois centros de competências e um de desenvolvimento — fomos buscar pessoas experientes a outras empresas, porque precisávamos delas para iniciar o negócio. Mas face à escassez de profissionais experientes nesta área, cedo percebemos que teríamos de ser nós a formá-los e a desenvolver um conjunto de políticas direccionadas para o recrutamento e qualificação continua dos recursos no qual as universidades tiveram, tal como ainda têm, um papel fundamental”, explica o director de RH da empresa.

Esta tentativa de apurar as competências dos seus profissionais com recurso ao meio académico mantêm-se ainda onze anos depois. A Qimonda é parceira de várias instituições de ensino superior na área das engenharias, tendo recentemente firmado protocolos com as Universidades do Minho, Porto, Aveiro e a Nova de Lisboa. À luz destes protocolos serão desenvolvidos projectos conjuntos de investigação, bem como a criação de disciplinas de interesse comum e estágios curriculares e profissionais.

Com uma população cuja média etária é de 28 anos, a Qimonda Portugal acolheu, em média, 70 a 80 estagiários de várias instituições de ensino, com uma taxa de integração posterior muito elevada. Para António Pinheiro, “as universidades são a principal fonte de recrutamento da Qimonda que procura essencialmente jovens nas áreas da informática, com forte apetência para a aprendizagem contínua”.

Mas a empresa não se fica pelos créditos técnicos dos recém-licenciados e tem delimitados programas de acolhimento e gestão de carreira. Mal chegam à empresa os novos quadros recebem formação específica que se estende permanentemente ao longo da sua continuidade na empresa. “Todo o processo de formação é feito a nível interno pelo departamento de recursos humanos”, explica António Pinheiro. O negócio é complexo e por isso “há uma formação inicial que começa por suas semanas em sala onde são transmitidos alguns conhecimentos básicos na área da electrónica e das ferramentas de gestão da qualidade”. Após esta fase, os formandos são colocados na linha de produção e só ao fim de três meses estão aptos a produzir autonomamente. Um sistema de formação «on job» onde os quadros mais seniores fazem o acompanhamento inicial dos recém-chegados.

Anualmente, a Qimonda investe cerca de um milhão e meio de euros na formação dos seus quadros que são obrigados a frequentar, no mínimo, 40 horas anuais de formação em sala, independentemente do seu nível na empresa. Em 2007 a organização cumpriu 80 mil horas de formação, para um total de dois mil colaboradores. Uma actualização permanente que António Pinheiro considera fundamental para um sector onde a complexidade dos produtos e a velocidade do mercado exige que um operador, um técnico ou um engenheiro tenham de actualizar os seus conhecimentos quase diariamente.

António Pinheiro não tem dúvidas de que a competitividade da Qimonda no mercado passa pelos seus quadros e pela sua capacidade em dar uma resposta qualitativa e inovadora à concorrência feroz e por isso defende um contínuo investimento nas pessoas. “A estratégia de recursos humanos tem de acompanhar as necessidades do negócio pois só assim teremos um capital humano motivado e dignamente desenvolvido para responder com qualidade”. Com efeito, muitos dos engenheiros da empresa recebem formação inicial no estrangeiro “porque há lá conhecimento que precisamos de trazer para cá”,

No último ano e meio a Qimonda cresceu dos 1500 para os 2000 colaboradores. Um crescimento que o director de recursos humanos diz ter sido tanto quantitativo como qualitativo. A empresa continua à procura de quadros com formação sólida na área da engenharia electrotécnica, mas António Pinheiro confessa não estar previsto nenhum programa agressivo de contratações. “Estamos a contratar e sempre atentos ao mercado, mas não com os níveis de recrutamento do último ano em que entraram mais 500 pessoas”, frisa.

A empresa quer agora consolidar o negócio e aumentar a sua aposta na qualificação e formação contínua dos seus colaboradores. Na mira está sempre a ligação, que se quer cada vez mais estreita, às universidades como grande trunfo para liderar com inovação e qualidade.





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