Cátia Mateus
Dominar fluentemente vários idiomas já não basta no mercado de trabalho. As empresas lusas descobriram as vantagens de os seus colaboradores dominarem as componentes técnicas essenciais à sua actividade profissional não só na língua materna mas num vasto universo de idiomas, que cresce à medida que aumenta a internacionalização das empresas. Quem já percebeu o potencial desta tendência de mercado foram as escolas de línguas, que, além da oferta de cursos gerais vocacionados para o ensino de idiomas, colocam agora ao dispor dos seus alunos cursos técnicos de línguas exclusivamente pensados para sectores específicos de actividade.
Ricardo Carmo é enfermeiro e embora tenha emprego em Portugal sempre teve vontade de fazer uma experiência laboral além-fronteiras. Foi para se preparar melhor para este desafio que no ano passado recorreu a uma escola de líguas, onde começou a frequentar um curso de espanhol destinado a profissionais da saúde. “Eu já dominava as bases do espanhol, mas queria desenferrujar a língua e aprofundar os conhecimentos técnicos na minha área profissional, uma vez que a minha meta era ir trabalhar para Espanha”, explica Ricardo.
O jovem profissional faz uma boa avaliação deste tipo de cursos mas esclarece que “é uma aposta que só faz sentido quando já se domina as bases de determinado idioma e se quer apenas alargar conhecimentos específicos a determinada área de trabalho. Seria impensável optar por um curso destes se não soubesse uma linha de espanhol”, enfatiza.
Igual opinião tem Mariana Castela. Licenciada em Gestão, a jovem soma no seu currículo vários cursos de línguas. Inglês, italiano, espanhol, alemão e mandarim são alguns dos idiomas que procurou aprender, seja em cursos de longa duração seja em regime de aprendizagem por imersão, isto é, com uma estada in locco. Há um ano, uma mudança de emprego para uma empresa com fortes ligações negociais à Alemanha ditou a necessidade de a jovem frequentar o curso de aperfeiçoamento de alemão empresarial. Tal como Ricardo, também Mariana aplaude as potencialidades destes cursos que, segundo diz, “permitem de uma forma muito célere dotar os profissionais dos conhecimentos necessários para desenvolverem a sua actividade num outro idioma para o qual têm as bases mas se sentem desconfortáveis ou inseguros na aplicação dos termos técnicos”.
Regra geral, trata-se de cursos de curta duração, já que funcionam como sistemas de aperfeiçoamento linguístico. A oferta formativa destes cursos é cada vez mais alargada, porque as instituições estão conscient de que a nova geração de profissionais portugueses, sempre mais competitiva, não negligencia o domínio de idiomas.
Diversidade e qualidade parece ser a divisa das escolas de línguas na batalha renhida pela conquista de um lugar de destaque no mercado nacional. E nesta batalha não surgem só as escolas privadas. As universidades já se renderam também a este nicho de mercado e marcam pontos na oferta de cursos inovadores a cada dia que passa. De tal forma que se uniram recentemente e criaram a Rede de Centros de Línguas do Ensino Superior (RECLES). A estrutura já conta com catorze instituições de ensino (universidades e politécnicos) e foi criada com o objectivo de promover o alargamento, divulgação, consolidação e promoção de boas práticas dos centros de línguas e estruturas similares no ensino superior nacional.
O Instituto de Línguas da Universidade Nova de Lisboa (ILNova) é uma das estruturas formativas que integram a RECLES. Na verdade, o ILNova disponibiliza uma vasta oferta de idiomas. Ao todo são 30 cursos de línguas, dos mais comuns aos mais arrojados, do ponto de vista do mercado nacional. Alemão, árabe, búlgaro, catalão, checo, crioulo cabo-verdiano, curdo, dinamarquês, esloveno, espanhol, finlandês, francês, galego, grego moderno, hindi, húngaro, indonésio, inglês, italiano, japonês, língua gestual portuguesa, língua persa, mandarim, neerlandês, polaco, romeno, russo, sueco, tailandês ou turco figuram na vasta lista de cursos da instituição.
Paralelamente a instituição oferece aos seus alunos os tais cursos de curta duração (cerca de 30 horas) com objectivos específicos de actualização de conhecimentos: Alemão comercial, Árabe empresarial, Árabe (conversação), Língua Russa para preparação de cursos técnicos, Língua Russa para Profissionais de saúde, Espanhol Jurídico, Espanhol Empresarial, Francês Júridico, Francês Empresarial, Francês para a Saúde, Francês para a Alimentação e Restauração, Inglês Técnico, Júridico e de Negócios, Inglês para Profissionais de Saúde ou Italiano.
As Faculdades de Letras do Porto e Coimbra também apostam nesta formação oferecendo aos seus alunos perto de duas dezenas de idiomas distintos. E também nas línguas há modas. Nos últimos anos, fruto da crescente ligação empresarial de Portugal com a China, o Mandarim tem vindo a ganhar adeptos, mas o japonês e o árabe começam a fazer-lhe concorrência, no campo das línguas menos comuns. Sinal de que os profissionais portugueses estão cada vez mais certos que dominar vários idiomas tem vantagens muito práticas em termos de oportunidades de emprego.