Networking: redes de integração
Segundo os últimos dados da OCDE, Portugal é um dos países com maior taxa de desemprego de longa duração. No primeiro trimestre de 2012, cerca de 25, 6% dos desempregados portugueses procuravam emprego há mais de dois anos. O número é muito superior à média dos países da OCDE, fixada em 17,6%, e não atinge apenas os trabalhadores com menores qualificações. À medida que aumenta este flagelo nacional, aumentam também as iniciativas nascidas da sociedade civil com a missão de apoiar os portugueses no seu regresso à empregabilidade. A crise está a fazer disparar os grupos de ajuda a desempregados. Tudo porque o networking faz milagres.
23.11.2012 | Por Cátia Mateus
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Ligar profissionais entre si e às empresas, numa partilha de soluções e experiências é a missão da Beside, a mais recente rede social presencial, direcionada a profissionais de elevada qualificação e talento, mas também afetados pelo desemprego. Suzana Ferreira, uma das mentoras desta rede, explica que “o projeto procura responder a uma realidade importante gerada pelas alterações resultantes do clima económico atual”. A plataforma visa “criar uma rede de apoio a profissionais que estão numa situação de desemprego ou que procuram oportunidades novas de utilizar os seus conhecimentos em projetos ou em apoio a quem dele necessita”.
Em termos práticos, enfatiza Suzana Ferreira, a rede que foi apresentada ao público este mês, “promoverá a cada 15 dias encontros que possibilitem a partilha de ideias e conhecimento que contribuam para a construção de relações de confiança para o desenvolvimento pessoal e profissional, divulgando também oportunidades de desenvolvimento para os seus membros e para as empresas que queiram participar, partilhando os seus projetos e ideias com esta comunidade”. Trata-se, na essência, de um grupo de apoio profissional que combina as novas tecnologias (através do endereço www.beside.pt) e os modelos mais tradicionais de encontros presenciais, procurando criar novas oportunidades no mercado de trabalho que permitam manter os quadros qualificados no país.
Travar o desperdício de talento nacional ou impedir que ele seja colocado em prática ao serviço de outras economias é, por isso, uma das missões da Beside que parte de uma constatação importante: “Portugal tem um conjunto de profissionais qualificados e experientes como nunca teve na sua história recente e existe uma necessidade por parte das empresas de encontrar quadros para as suas organizações, bem como um conjunto de fontes de financiamento disponíveis e não utilizadas que podem ser capitalizadas para criação de novos projetos”, explica Suzana Ferreira.
Travar a fuga de cérebros
De forma a manter estes profissionais no país “é importante conseguir identificar e desenvolver novas oportunidades que sejam enquadráveis com a sua elevada qualificação”, adianta a mentora enfatizando que “esta iniciativa parte da sociedade civil e visa criar um novo espaço de intervenção, assente numa plataforma de partilha de ideias e de conhecimento cujo principal objetivo é exceder-se a si própria, isto é, funcionar como motor de arranque para um movimento de mobilização socio-profissional que dê resposta a uma realidade cada vez mais generalizada”.
A médio prazo a equipa da Beside espera que a rede tenha já agilizado “uma plataforma de interacção entre profissionais e empresas que contribua para identificar novas oportunidades profissionais, mas também novos projetos que necessitam de apoio de gestão ou financiamento”. Entre os fundadores da rede estão reputados profissionais do panorama empresarial nacional. Suzana Ferreira salienta que “o mercado de emprego apresenta grandes desafios para os profissionais qualificados que são o target da iniciativa Beside, nomeadamente ao nível da empregabilidade, criação ou atualização de uma rede de contactos e requalificação profisisonal”, mas acrescenta que “a plataforma não tem a presunção de afirmar que pode mudar drasticamente o paradigma atual. Contudo, acreditamos que o regresso ao mercado de trabalho passa, antes de mais, por compreender o que mudou e o que é preciso mudar em cada um. É preciso ajudar as pessoas a identificar em que medida se podem adaptar à dinâmica atual, levando-as a a identificar alternativas e oportunidades que vão além da sua experiência”.
Um propósito que é comum aos Grupos de Entreajuda para a Procura de Emprego (GEPE) que resultam da iniciativa do Instituto Padre António Vieira (IPAV), com o apoio da Fundação Montepio. A meta deste projeto é apoiar desempregados, em particular os que sofrem um maior impacto psicológico do desemprego quer pela sua duração, pela situação inesperada ou pela vulnerabilidade em que se encontram”, explica Marta Gorgulho, coordenadora da região centro-sul do IPAV. Ao contrário da Beside, os GEPE não se direcionam apenas para profissionais com elevado nível de qualificação, mas sim para os desempregados de um modo global. “Através da dinâmica de entreajuda em grupo, procura-se ultrapassar a desmotivação, o isolamento e a tendência depressiva a que o desemprego muitas vezes conduz. Com o apoio de um facilitador, o grupo foca-se na procura ativa de emprego para os seus membros, tendo cada um deles a função de apoiar os restantes nessa missão”, explica a responsável.
Existem atualmente 19 GEPE repartidos pelos distritos de Lisboa, Porto, Braga, Coimbra e Aveiro, abrangendo um total de 225 participantes. O projeto arrancou em finais de 2011, na sequência de um trabalho permanente de avaliação das principais necessidades sociais não satisfeitas, por parte do IPAV. “Dessa avaliação, resultou claro que o desemprego constitui e constituirá o principal problema social em Portugal, particularmente nos próximos anos, e que nas múltiplas intervenções públicas e do 3.º sector existentes regista-se uma lacuna importante: o combate ao isolamento, desmotivação e depressão dos desempregados”, explica Marta Gorgulho. Os GEPE surgiram então como uma forma de dar resposta à necessidade urgente de encontrar novas formas de olhar a realidade do desemprego, nomeadamente dos seus efeitos psicológicos dissimulados que, por vezes, atingem de forma dramática os desempregados.
O objetivo dos grupos é potenciar o efeito multiplicador que um grupo de entreajuda com estas características proporciona. Por exemplo, explica a responsável, “num grupo de dez pessoas, cada uma assume o compromisso de trabalhar para si e para a obtenção do seu trabalho, mas também para as outras nove pessoas do grupo. Além disso, sabe que tem mais nove pessoas a procurar ativamente trabalho para si”. No próximo ano o GEPE quer alcançar os 50 grupos ativos em Portugal e tem já agendado o seu primeiro congresso, a realizar em março.
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