Um longo caminho a percorrer. Apesar dos progressos nos últimos anos, a presença das mulheres em cargos de liderança e gestão nas empresas em Portugal ainda está muito, mas mesmo muito, longe da paridade, conclui a 7ª edição do estudo “A presença feminina nas empresas em Portugal”, realizado pela consultora Informa D&B.
Os números não deixam margem para dúvidas. Considerando o universo empresarial em Portugal (empresas públicas e privadas com atividade comercial no ano), no final de 2016 as mulheres ocupavam 28,6% dos cargos de liderança (função do primeiro gestor), aponta a análise da Informa D&B. Ou seja, são menos de três em cada dez líderes empresariais. Já em termos de cargos de gestão (órgãos sociais — gerência e conselho de administração), as mulheres ocupavam 34,2% do total.
O panorama é ainda mais desolador ao nível das empresas cotadas em Bolsa. A presença das mulheres nos conselhos de administração (cargos de gestão) ficava-se por apenas 11,9% do total em 2016. E, mais ainda, com base nos atos societários publicados até 31 de dezembro do ano passado, “não há ainda qualquer mulher a desempenhar o cargo de líder de uma sociedade cotada em Bolsa”, aponta o estudo. Uma realidade em mudança. A Galp Energia já apresentou (desde outubro de 2016) Paula Amorim como presidente do conselho de administração (nas empresas com conselho de administração e comissão executiva, esta análise considera como líder o presidente do conselho de administração, por ter exclusivos e plenos poderes de representação da sociedade), “mas está sujeita a ratificação na próxima assembleia geral anual, que ainda não aconteceu”, esclarece a Informa D&B.
Explicação para a reduzida participação feminina nas cotadas? Primeiro, trata-se de empresas de grande dimensão. “De acordo com o nosso estudo, as maiores empresas são aquelas com menor percentagem de presença feminina em cargos de gestão e liderança”, aponta Teresa Cardoso de Menezes, diretora-geral da Informa D&B. Nas grandes firmas (mais de €50 milhões de faturação), as mulheres ocupavam apenas 12,9% dos cargos de gestão e 8,2% dos cargos de liderança em 2016. À medida que a dimensão diminui, sobem estes números, atingindo os valores mais altos nas microempresas (menos de €2 milhões de faturação), com 35% dos cargos de gestão e 29,3% dos cargos de liderança. Acresce outro fator: “Os sectores com maior presença feminina também se encontram menos representados entre as empresas cotadas”, nota a gestora.
Mulheres ao poder
Os números mostram a grande diferença no topo da hierarquia das empresas. Mas mostram também progressos. “Desde 2011 que se verifica um crescimento constante de cargos de gestão e liderança que são ocupados por mulheres, com a liderança a apresentar um ritmo de crescimento mais acelerado”, destaca o estudo. Assim, entre 2011 e 2016, a presença das mulheres em cargos de gestão aumentou 2,3 pontos percentuais, enquanto o incremento nos cargos de liderança atingiu 5,7 pontos percentuais.
Na base desta evolução destacam-se dois fatores. Primeiro, “a maior percentagem de mulheres a ocupar estes cargos nas empresas mais jovens”, aponta Teresa Cardoso de Menezes. “As empresas mais jovens são aquelas onde encontramos mais líderes femininos”, reforça. Em 2016, nas empresas maduras (mais de 20 anos), apenas 27,2% dos líderes eram mulheres. Um valor sempre a subir quanto mais jovens são as empresas, atingindo 31,4% nas startups (menos de um ano).
Em segundo lugar, “dois dos sectores em que a presença feminina é superior, designadamente Serviços e Alojamento e restauração, são também sectores de forte representatividade no universo empresarial e em que o aumento do número de empresas se fez sentir nos últimos anos”, frisa Teresa Cardoso de Menezes.
O caso das empresas cotadas revela bem esta evolução. Em 2011, apenas 5,7% dos cargos de gestão destas companhias eram ocupados por mulheres. Até 2016, esse valor mais do que duplicou (aumento de 6,2 pontos percentuais), passando para os 11,9%. “Foi de facto entre as empresas cotadas que verificámos o maior aumento de mulheres a ocupar cargos de gestão”, salienta Teresa Cardoso de Menezes.
Um crescimento impulsionado por “recomendações internacionais e nacionais, nomeadamente uma resolução do Conselho de Ministros de 2012, que apontam nesse sentido, pondo em discussão este tema nos vários países e sensibilizando as empresas para a questão da paridade em cargos de topo”, diz a gestora. E que agora deverá ir mais longe. Em meados de janeiro, o Governo apresentou uma proposta de lei que prevê um regime impositivo de representação mais equilibrada entre homens e mulheres nos órgãos de administração e de fiscalização das empresas públicas e das empresas cotadas. No fundo, um sistema de quotas, impondo uma representação mínima de 33,3% já a partir de 1 de janeiro de 2018 para as empresas públicas. Nas empresas cotadas, é fixada uma representação mínima de 20% a partir de 2018, subindo para os 33,3% a partir de 2020 (ver caixa “Quotas chegam às empresas”).
Estamos a caminho de maior paridade entre homens e mulheres no topo das empresas em Portugal? Teresa Cardoso de Menezes acredita que sim: “O estudo que produzimos aponta para uma tendência consistente neste sentido entre 2011 e 2016. Se juntarmos fatores sociais e o incentivo de políticas públicas à maior presença feminina na gestão das empresas mais jovens e nos sectores que estão a crescer em número de empresas, penso que esta tendência se poderá manter”.