A indústria 4.0 (I 4.0) é uma revolução industrial ou social?
Para muitas empresas é uma evolução. A digitalização e a automação de processos avançou e, agora, temos a oportunidade de combinar em novas soluções tudo o que existe, dos dispositivos móveis, ao cloud computing, à realidade aumentada, análise de dados, sensores inteligentes, análise de perfis de clientes...
Mas há uma revolução social?
As coisas vão mudar, sim. Temos empregos menos qualificados que podem ser automatizados, mas há muitos novos empregos que vão ser criados. Os dados, por exemplo, têm de ser analisados, transportados para novas soluções. Vão ser criadas profissões mais criativas. Temos de ver isto como uma oportunidade, pensar em formação, em treino.
Há previsões assustadoras. Dizem que 50% dos empregos serão substituídos por robôs até 2025...
São números que dão títulos, mas não são reais. O cenário será mais conservador. Penso 10% a 15% dos empregos industriais desaparecem em 10 anos. A criação de empregos novos rondará os 10%. E sempre houve mudança.
Mas agora é tudo muito mais rápido. O desafio não é diferente?
Sim. Mas temos de estar abertos à mudança, à tecnologia. Quem estiver disponível para aprender e adaptar-se tem futuro.
Formação é a palavra-chave?
É uma chave. Alguns empregos serão perdidos, mas há um limite para o que se pode usar quando falamos de robôs. A fórmula mais eficaz não é escolher entre o homem ou o robô, mas juntá-los. Pensar em colaboração. Estamos a falar de robôs colaborativos, não naqueles robôs do passado, fechados numa caixa. E, numa indústria, o trabalho automático de montagem pode ser do robô, mas o humano continua a ter coisas mais complicadas, em que é preciso pensar, para fazer. Vamos ver muita interação entre robôs e humanos no futuro.
Vê isto como uma forma de a Europa e os EUA dominarem a atividade industrial?
Claramente. E se Portugal quer manter empregos no país tem de apostar na I 4.0, de forma a reduzir custos para poder ser competitivo. Para ter sucesso, Portugal tem de começar já. Fizemos um estudo que mostra que as empresas esperam uma redução anual de custos na ordem dos 3% pela I 4.0. Em cinco anos são 18%. É muito.
Este mundo novo, na vida diária significa o quê, por exemplo?
Automóveis autónomos, sem condutor, com conectividade, que recebem informações sobre o trânsito e fogem aos engarrafamentos em hora de ponta em Lisboa ou no Porto. Mas, através da análise de dados, as companhias de seguros também podem ter informações sobre cada condutor. Vão saber se conduzimos depressa, se paramos no vermelho, se temos um perfil perigoso ou prudente. E isso vai influenciar o valor que vamos pagar pelo seguro do carro.
E a privacidade?
É muito claro que temos de estar alerta. A Google, a Microsoft, estão a reunir os dados que usamos. Se for à internet pode surpreender-se por encontrar exatamente a oferta que procura, mas será muito mais do que isto.
Tudo isso está a que distância?
No caso dos automóveis sem condutor, a tecnologia estará pronta em dois a três anos. Depois, temos de ver o tempo que demora a ser adotada pelas pessoas. Mas se os testes mostram que há menos acidentes quando é o computador a conduzir, as seguradoras vão dizer que os seguros serão mais baratos se optarmos por essa solução, em especial no caso dos idosos. Desde que seja uma solução mais económica, será aplicada.
Temos formação para viver assim?
Estamos no bom caminho.
As empresas que não seguirem esse caminho estão condenadas?
Os nossos números mostram que as empresas vão ter ganhos adicionais de 4% ao ano com os produtos digitais e reduzem os custos de operação em 3%. Em comparação, quem não fizer nada, em cinco anos terá menos 20% de receitas e isto é dramático.
E havendo cada vez mais robôs, vê a possibilidade de os equipamentos pagaram uma taxa para a segurança social?
Não sou especialista em impostos, mas há bons argumentos que dizem que os robôs que estão a criar valor devem pagar uma taxa. Compreendo os argumentos, mas não faço recomendações.
Receia não ter a sua reforma?
É uma boa pergunta, mas prefiro não comentar. Não tenho previsões.
Se as profissões vão mudar tanto, como devemos educar as crianças na escola?
Dar-lhes bases, torná-las atentas ao que se passa. Têm de estar abertas às novas ideias e ver o mundo digital e as tecnologias como uma oportunidade, mas também é preciso equilibrar as coisas. Eu tenho filhos que têm smartphones. Quero vê-los crescer de mente aberta, mas vivem na natureza, numa zona rural, entre galinhas. Mais uma vez é uma questão de equilíbrio.