João Barreiros
PORTUGAL é o terceiro país da UE com maior
taxa de representação de mulheres em funções
de direcção.
Qualidade laboral em 10 medidas
Esta é uma das conclusões da análise da empresa de
consultadoria em recursos humanos Randstad sobre a qualidade do trabalho
na União Europeia.
Em relação a este ponto, os autores citam dados da OCDE,
referindo que Portugal tem um adequado rácio de representação
de trabalhadores do sexo feminino em funções de gestão
(o qual é calculado dividindo a taxa feminina de ocupação
no grupo ou sector considerado pela taxa de ocupação feminina
global).
Na escala de medição utilizada (que varia entre 0 e 1,4)
o valor considerado ideal é 1 (que Portugal detém). As classificações
abaixo deste indicam sub-representação e acima sobre-representação.
Portugal é apenas ultrapassado pela Dinamarca e Finlândia
nesta categoria.
Por outro lado, o elevado número de acidentes laborais graves,
a falta de formação contínua e a baixa produtividade
são os três principais pecados do sector laboral português.
Os autores do estudo, desenvolvido em parceria com uma escola de gestão
espanhola, avaliaram em que medida têm existido progressos no sentido
de melhorar a qualidade do trabalho na União Europeia, concluindo
que esses progressos têm sido bastante escassos.
Desde há vários anos que os governos europeus têm
insistido na necessidade de adoptar uma estratégia que melhore
não apenas os níveis de emprego mas também as condições
em que este é desempenhado.
Da Cimeira de Lisboa, em Março de 2000, saíram objectivos
políticos bastante claros neste domínio: nessa altura definiu-se
o pleno emprego como meta global e estabeleceu-se ser indispensável
tornar mais equilibradas as condições de trabalho oferecidas
no espaço europeu.
A procura de uma maior qualidade no trabalho pressupunha que fossem encontrados
"melhores empregos e formas mais equilibradas de combinar a vida
profissional com a vida pessoal".
A Randstad e a ESADE procuraram sistematizar uma série de diferentes
indicadores, conjugando-os de forma a perceber melhor se esses objectivos
estão mais próximos (ver caixa).
Igualdade em alta
Entre aproximadamente três dezenas de indicadores, Portugal aparece
com alguma frequência na média comunitária, e distingue-se
mesmo de forma positiva em alguns aspectos.
A percentagem de trabalhadores que se dizem muito satisfeitos com o seu
trabalho, por exemplo, é a terceira mais alta da UE, apesar de
se verificar que o número de trabalhadores "nada satisfeitos"
é também dos mais elevados deste espaço comunitário.
Outro domínio em que se têm registado progressos é
o da igualdade de sexos no trabalho.
Contradições na saúde laboral
É no capítulo referente à saúde e à
segurança no trabalho que se encontram dados mais contraditórios
e surpreendentes: os portugueses são os que consideram ter prazos
menos apertados para a realização das suas tarefas, o que
leva a pensar que serão os que menos sofrem de stresse.
No entanto, são os segundos da UE a temer que a sua saúde
ou segurança esteja em perigo, e mais de 40% admitem estar em risco.
Quanto ao número de acidentes laborais graves, Portugal mantém-se
no final da tabela relativa aos acidentes que motivam mais de três
dias de ausência ao trabalho, sendo apenas ultrapassado neste item
pela Espanha.
Refira-se, aliás, que os aspectos mais negativos relatados pela
Randstad sobre a situação portuguesa não podem considerar-se
absolutamente novos.
Em matérias de rendimento, por exemplo, existe uma grande desigualdade
na distribuição, o que é absolutamente contrário
ao modelo social europeu. Entre os quinze países membros, o nosso
é aquele que apresenta um maior desequilíbrio nesta matéria,
logo seguido da Grécia e de Espanha.
De uma forma muito significativa, os portugueses aparecem igualmente no
fim da lista no que toca à formação contínua,
verificando-se até um retrocesso entre os anos de 1995 e 2000 nesta
matéria.
Na Finlândia e na Grã-Bretanha - primeiros da tabela relativa
a este item -, mais de metade dos trabalhadores beneficiam de formação.
Em Portugal são pouco mais de 10% os que frequentam acções
formativas de forma regular.
Qualidade laboral em 10 medidas
PARA conseguirem uma panorâmica suficientemente ampla
e relevante sobre a situação actual, os investigadores decidiram
analisar dez diferentes aspectos da qualidade no trabalho.
Para cada um destes aspectos foi utilizada uma multiplicidadede indicadores,
"respeitando ao máximo a colecção de variáveis
indicativas sugeridaspela Comissão Europeia"
1. Qualidade intrínseca do trabalho - Pretende-se avaliar
se "os postos de trabalho são intrinsecamente satisfatórios,
compatíveis com as habilitações das pessoas proporcionando
um nível remuneratório adequado"
2. Habilitações, formação e desenvolvimento
profissional - Este aspecto está relacionado com as possibilidadesque
as pessoas têm de "desenvolver ao máximo as suas
potencialidades mediante apoio a processos de formação permanente
('life long learning')"
3. Igualdade entre sexos - Analisando tanto os aspectos
da remuneração como da carreira profissional
4. Saúde e segurança no trabalho -O objectivo é
investigar em que medida estão garantidas as condições
de trabalho "saudáveis e convenientes, tanto em termos
físicos como psicológicos"
5. Flexibilidade e segurança do trabalho - Consideram-se
aqui as medidas que possam gerar "atitudes positivas quando há
uma troca de emprego" e garantir "apoio apropriado aos
que perdem o seu posto de trabalho".
6. Organização do trabalho e equilíbrio com a
vida privada - Os autores do estudo consideraram as taxas de trabalho
flexível, as oportunidades de baixa por maternidade e sua utilização.
7. Inclusão e acesso ao mercado laboral - Refere-se este
aspecto sobretudo às possibilidades de acesso ao mercado laboral,
"tanto no caso de um primeiro empregocomo no caso da reincorporação
após períodos de ausência"
8. Diálogo social e implicação dos trabalhadores
- Pretende-se saber até que ponto os trabalhadores estão
informadose lhes é permitido envolverem-se no desenvolvimento das
suas empresase da sua carreira profissional
9. Diversidade e não discriminação -De forma
a assegurar que "todos os trabalhadores são tratados de
igual forma,sem discriminação pela idade, incapacidade,
origem étnica, religião ou orientação sexual"
10. Produção e produtividade -Analisaram-se os indicadores
relativosa este problema crucial das economias europeias (e sobretudo
da portuguesa),tendo também em conta "a média anualdo
nível de vida dos cabeças de família,tendo em conta
a taxa de emprego".