Fernanda Pedro
PORTUGAL é um país onde uma carreira na área
da investigação, é difícil de conseguir. Para
quem pretende ingressar pela via científica o mais coerente é
concorrer às bolsas de investigação e realizar o
mestrado logo a seguir à licenciatura e posteriormente o doutoramento.
E se o fizer no estrangeiro, acrescenta uma mais-valia ao seu currículo.
Após esta etapa do percurso académico, o futuro torna-se
incerto para os investigadores portugueses. A pergunta mais frequente
para estes especialistas é: o que vou fazer quando terminar o doutoramento?
As saídas profissionais no nosso país são escassas
nesta área e a maioria opta por trabalhar fora de território
nacional. Mas se esta é a saída da maioria dos investigadores,
para Helena Vieira, a criação do seu próprio negócio
na área da biotecnologia foi a solução encontrada
para regressar a Portugal após a conclusão do doutoramento
que está a realizar em Biotecnologia no Imperial College de Londres.
Um projecto que começou a ganhar forma em 2002 quando um amigo
a incentivou a participar no concurso de ideias "Bioempreendedor",
uma iniciativa do ICEP e da APBio, que visa premiar as ideias de negócios
mais interessantes e lucrativos, na área da Biotecnologia.
Depois de tomar conhecimento deste concurso, a jovem investigadora de
apenas 26 anos, tomou a decisão de avançar com o projecto
mas não percebendo nada de planos de negócio decidiu pedir
apoio a amigos de outras áreas.
Foi assim que se juntaram ao projecto, Filipe Paixão, de 27 anos
e a terminar o doutoramento no Imperial College em Londres na área
da gestão; Gonçalo Melo, 27 anos e com uma licenciatura
em Gestão de Empresas e a terminar um MBA em Gestão; Raquel
Reis, 27 anos e com uma licenciatura e Mestrado em Gestão de Empresas
na área de Marketing e Sukalyan, um professor de 46 anos que veio
da Índia para Portugal há quatro anos para trabalhar como
docente universitário e como investigador na área da investigação
em Biotecnologia.
Uma ideia duplamente premiada
"A ideia de formar uma empresa nasceu desta forma e num mês
e meio colocámos de pé o projecto. Concorremos depois ao
concurso com a 'Bioalvo', uma empresa de biotecnologia na área
da saúde com uma forte vertente de investigação",
lembra Helena Vieira.
E mesmo com tão pouco para a planear, a equipa saiu vencedora do
concurso. "Foi este o grande impulso para pensarmos seriamente
no que podíamos fazer com um negócio desta natureza",
explica Filipe Paixão.
Na verdade, em Portugal são poucas as empresas que actuam nesta
área de negócio e apesar de todos pensarem que seria mais
viável no estrangeiro, a Bioalvo optou por Portugal, isto porque
"além de termos mercado, sentimos um apoio enorme por parte
das outras empresas instaladas, nunca pensámos que isso fosse acontecer",
refere Gonçalo Melo.
Na verdade, a Bioalvo saiu ainda mais fortalecida quando concorreu ao
Challenge Entreperneurs, do Imperial College de Londres e saíram
premiados com mil libras.
A empresa tornou-se assim um verdadeiro motor de incentivo para toda a
equipa. A missão de realizar em laboratório uma investigação
de forma a criar medicamentos mais eficazes deixando de lado a química
convencional e recorrer ao método biológico será
uma das metas da Bioalvo. Mas não quer dizer com isso, que a empresa
fique só por aqui.
Segundo Helena Vieira, a bioalvo não ficará estancada numa
só área, poderá depois diversificar os seus serviços,
"temos uma equipa variada nas suas competências e isso revela
uma mais valia para expandirmos a nossa oferta de produtos".
É por esse motivo, que Helena e Filipe irão dedicar-se a
100% à Bioalvo quando regressarem de Londres. Para Gonçalo,
Marta e Sukalyan que têm já as suas carreiras profissionais
um pouco definidas, a Bioalvo foi um desafio que surgiu nos seus percursos
profissionais e que poderá ser a alternativa das suas carreiras.
"É uma experiência que tem sido muito positiva, e para
a qual estamos todos empenhados mas é difícil ficarmos todos
a tempo inteiro na empresa. Talvez no futuro", refere Gonçalo.
Para já contam com um laboratório no Instituto Gulbenkian,
onde Sukalyan desenvolve as suas investigações. Mas quando
a empresa tiver o seu primeiro cliente passa para um laboratório
do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET).
Mas a equipa da Bioalvo tem uma atitude positiva quanto ao negócio
e acha que será uma empresa que conseguirá entrar no mercado,
"porque não há muitas com este tipo de oferta",
salienta Filipe Paixão.
Todos são peremptórios em afirmar que no nosso país
não é difícil alguém tornar-se empreendedor.
"Existem apoios e incentivos, é necessário saber
procurá-los. Não há dificuldades, há sim oportunidades,
o fundamental é saber agarrá-las", remata Helena
Vieira.